CCZ/Semsa volta a ficar sem medicamento Itraconazol para tratamento da Esporotricose felina em Manaus

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O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), voltou a ficar sem o medicamento Itraconazol para tratamento em felinos da Esporotricose, uma doença causada pelo fungo Sporothrix que ocasiona em animais e humanos feridas profundas na pele. A distribuição gratuita dos medicamentos havia sido retomada na última quarta-feira (29/03) e 24 horas depois foi novamente interrompida.

O problema, que é recorrente e vem se repetindo por meses, ocasiona o agravamento da doença em animais infectados, já que a interrupção na administração do Itraconazol pode dar resistência ao fungo Sporothrix. “A princípio estavam disponibilizando até três caixas de Itraconazol, o que dura cerca de um mês. Só que o tratamento é de no mínimo três meses. Quando eu fui novamente ao CCZ me informaram que estavam sem a medicação. O tratamento não pode ser interrompido porque as feridas voltam, e foi o que aconteceu com a minha gata. As feridas voltaram porque ficamos sem o remédio”, conta Regina Cortez*, tutora da gatinha “Esther”.

No comércio veterinário de Manaus, uma caixa de Itraconazol com apenas dez comprimidos custa, em média, de R$ 80 a R$ 120 a depender das versões de 50mg ou 100mg. “O remédio é muito caro e a alternativa que encontrei foi comprar a versão manipulada, que não tem a mesma eficácia, mas é uma opção para quem não tem condições de pagar. Como o tratamento é longo, as feridas acabam voltando se não tiver a continuidade do tratamento”, disse.

Óbito de animal em tratamento

O gato “Reginaldo”, da tutora Vanessa Cardoso*, estava com Esporotricose e sofreu agravamento da doença seguido de óbito durante a interrupção no tratamento. “No primeiro e segundo mês (do tratamento) foi tudo tranquilo. Já no terceiro mês não tinha mais remédio. Chegou o ITL quase um mês depois, quarta-feira, dia 29 de março, mas infelizmente meu bichinho não resistiu e faleceu dia 28, um dia antes. A doença avançou nele com uma velocidade”, relata Vanessa.

A tutora afirma que enfrentou dificuldade no atendimento especializado para Esporotricose oferecido pelo CCZ/Semsa à população, que é restrito ao aplicativo WhatsApp pelo número (92) 8842-8484, não aceita ligações telefônicas e nem funciona durante os finais de semana.

“Tive problemas em entrar em contato com o CCZ para saber o que fazer com o corpo do meu bichinho, se poderia ou não levar até lá. Eu sabia que não podia enterrar no meu quintal, e que precisa ser cremado. Com ajuda de amigos, levei o meu amiguinho para lá e eles falaram que, provavelmente, ele foi a óbito por outra doença qualquer junto à Esporotricose”, disse.

Problema é recorrente

No ano de 2022, o número de animais diagnosticados com Esporotricose no CCZ chegou a 535 casos, segundo informou a Semsa. Já os casos em humanos, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) registrou 236 casos de janeiro a dezembro do ano passado, incluindo dados de Manaus, Iranduba, Careiro e Presidente Figueiredo.

Segundo o Observatório Esporotricose Amazonas, entidade da sociedade civil organizada sem fins lucrativos com objetivo de monitorar e incitar o aperfeiçoamento da gestão pública no enfrentamento à doença, não é a primeira vez que falta Itraconazol no CCZ. “Em dezembro de 2022 e no mês de março deste ano, citando apenas as ocorrências mais recentes, o medicamento antifúngico ficou em falta”, consta em publicação no Instagram @esporotricose_amazonas.

Duas leis estaduais do Amazonas, de nº 5.410/2021 e nº 5.411/2021, de autoria da deputada estadual Joana Darc, dispõem justamente sobre a obrigação do poder público em notificar e oferecer gratuitamente o tratamento completo contra a Esporotricose, incluindo a distribuição do Itraconazol.

Sem resposta

O Observatório Esporotricose Amazonas entrou em contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) pelo e-mail decom.semsa@gmail.com solicitando informações sobre a interrupção no fornecimento do Itraconazol e uma previsão de retorno da medicação. Até o momento, nenhuma resposta foi encaminhada.

“Os remédios deixaram de ser distribuídos? Por qual motivo? Qual método está sendo utilizado para a distribuição? Os remédios estão em falta no CCZ, mas estão na central de medicamentos da prefeitura e só precisam ser transportados para lá? Se a distribuição de ITL foi interrompida, qual prazo para o retorno da distribuição?”, consta em mensagem enviada às 11h41 da última sexta-feira, 31 de março.

Observatório Esporotricose AM

Criado em 2023, o Observatório Esporotricose Amazonas é formado pela médica veterinária especialista em felinos Adriana Oliveira, o médico veterinário, fiscal de saúde e vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde Jorge Carneiro, a doutora em medicina veterinária e pesquisadora em doenças infecciosas transmissíveis na Amazôniada pela Fiocruz Alessandra Nava, a bióloga especialista em micologia e pesquisadora em saúde pública da Fiocruz Ani Beatriz Jackisch Matsuura, a advogada e presidente da Comissão Especial de Proteção Animal (CEPA) da OAB-AM Aline Oliveira, a advogada e membro da CEPA-OAB e da Comissão Permanente Meio Ambiente (CPMA) da OAB-AM Márcia Oliveira, a bióloga e ativista ambiental Erika Schloemp, o protetor animal e jornalista Vinicius Leal, a bióloga e mestranda da Fiocruz em condições de vida e saúde na Amazônia Thamillys Beatriz Maciel.

*Nomes fictícios para preservar a identidade dos personagens

*Com Informações da Assessoria

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