Rival do Twitter: aplicativo Threads, da Meta, é um ‘pesadelo de privacidade’ e viola leis europeias

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Em seu primeiro dia de lançamento oficial, o Threads — aplicativo de microblogue do Instagram — já se mostrou uma ameaça real ao Twitter. Já são mais de 30 milhões de usuários em poucas horas, e a tendência é o número crescer ainda mais. Em resposta, o Twitter acusa o rival de copiar recursos e dá sinais de que pode processar a empresa.

O lançamento acirra a briga entre Mark Zuckerberg, fundador e CEO da Meta, e Elon Musk, bilionário que comprou o Twitter, que já insinuaram que podem brigar ferozmente em um octógono. Após a compra de Musk, a plataforma demitiu funcionários em massa, deu calotes em pagamentos de aluguel, enfrentou fuga de usuários e anunciantes e implementou uma série de funções e políticas.

Algumas redes sociais rivais chegaram a ensaiar tornarem-se um concorrente forte: BlueSky, do cofundador do Twitter, Jack Dorsey, Mastodon, uma rede descentralizada, e a indiana Koo foram apenas algumas que tentaram, mas não conseguiram cumprir a missão até o momento.

Em meio à correria do lançamento em cem países, descobriu-se que o Threads conta com os mesmos vícios de outros aplicativos da empresa de Zuckerberg. Quase imediatamente, a rede social foi chamada de “pesadelo de privacidade”.

Nas informações fornecidas pela App Store, loja de aplicativos da Apple, foi possível perceber os tipos de dados que o Threads coleta. E não são poucos, embora seja compatível com o rastreamento invasivo da Meta, que depende de informações pessoais para oferecer anúncios.

Ficou claro que o app coleta dados financeiros, de saúde, histórico de navegação e outras informações sensíveis.

Não é por acaso que o aplicativo não foi lançado em países da União Europeia. Em entrevista ao site The Verge, o CEO do Instagram, Adam Mosseri, “citou complexidades no cumprimento de algumas das leis que entrarão em vigor no próximo ano”.

A temida legislação quase certamente é o Digital Markets Act (DMA, ou Lei dos Mercados Digitais, em português), que proíbe que empresas — especialmente as big techs — criem muros digitais que favoreçam seus serviços. Um serviço de mensagens instantâneas deve ser compatível com concorrentes, por exemplo.

Além disso, o sistema de coleta da empresa foi considerado uma violação de privacidade e garantiu diversas multas — uma delas de 1,2 bilhão de euros (R$ 6,43 bilhões, no câmbio atual), por transferência de dados de cidadãos do bloco para os EUA.

Em janeiro, um processo que resultou em uma multa de US$ 414 milhões (R$ 2 bilhões) considerou a criação de anúncios personalizados da empresa uma violação das leis europeias.

Segundo o Regulamento Geral de Proteção de Dados do bloco, dados confidenciais (como financeiros e de saúde) só podem ser coletados com consentimento explícito dos usuários. E, ainda que obtenham a permissão, nenhuma empresa que atue na região pode criar anúncios com base em informações personalizadas.

Dado o histórico do Facebook de abusar da privacidade de seus usuários — a troca de nome para Meta ocorreu justamente após a crise das eleições presidenciais norte-americanas de 2016 —, parece bastante improvável que a empresa consiga se adequar a tais leis. Principalmente por todos os aplicativos e plataformas da empresa serem criados justamente para cruzamento de dados para veiculação de anúncios.

Há ainda outra agravante: as multas previstas no DMA — que entra em vigor totalmente em março de 2024 — são bem maiores do que as atuais e podem escalar a 10% do faturamento global da empresa, contra os atuais 4%.

Mesmo com tais barreiras, Adam Mosseri afirma que a plataforma tem planos para “eventualmente” lançar o aplicativo na União Europeia.

*R7/Foto: REUTERS/DADO RUVIC/ILLUSTRATION

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