Gravuras rupestres de mais de mil anos reaparecem em meio à seca histórica em Manaus; FOTOS

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Conhecidas popularmente como “caretas”, por terem semelhanças com expressões humanas, gravuras rupestres esculpidas em paredes rochosas há mais de mil anos voltaram a aparecer, em Manaus, devido à seca histórica do Rio Negro, que registra o nível mais baixo em 121 anos de medição. Veja mais fotos abaixo.

As gravuras estão localizadas dentro da área urbana da capital amazonense, em uma região conhecida como “Praia das Lajes”, de onde se tem uma vista privilegiada para o Encontro das Águas. O local foi o primeiro de Manaus a ser registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Os primeiros registros dessas gravuras milenares, que por muito tempo ficaram submersas, foram feitos em 2010, quando as águas escuras do rio baixaram até 13,63 metros. Até então, aquela era a seca mais severa que a capital do Amazonas tinha enfrentado.

Agora, 13 anos depois, o Rio Negro segue quebrando recordes de estiagem e revelando surpresas. E com o mundo cada vez mais conectado, as “caretas” ganharam ainda mais evidência.

Gravuras rupestres esculpidas na praia de Lajes em Manaus — Foto: Hariel Fontenelle/ g1 AM

g1 visitou o espaço nesta quarta-feira (18), junto com o arqueólogo Jaime Oliveira e uma equipe da Rede Amazônica.

De acordo com o arqueólogo, as gravuras são pré-históricas e trazem representações antropomorfas de civilizações que habitavam a região.

“A região é um sítio pré-colonial que tem testemunho de ocupações bem antigas, algo que a gente poderia mensurar de 1000 a 2000 anos atrás. O que estamos vendo aqui são representação de figuras antropomorfas, ou seja, figuras humanas”, explicou Jaime.

Praia das Lajes durante a seca histórica em Manaus — Foto: Hariel Fontenelle/ g1 AM

Ao apresentar as gravuras, o arqueólogo esclareceu que elas remontam sociedades que viveram naquele local e que os desenhos esculpidos nas pedras representavam uma forma de comunicação entre os remanescentes dessas civilizações.

“Os sítios arqueológicos que a gente tem observado aqui representam testemunhos de ocupação que nos trazem pontos importantes sobre as sociedades que viveram no lugar. Esses grupos também passaram por períodos de secas mais rigorosos do que estamos vivendo agora. Como podemos perceber? Basta visualizar onde nós estamos, no nível normal da água, isso aqui fica submerso. Podemos concluir que para fazer essas gravuras o rio estava seco, ou nem existia”, esclareceu.

Arqueólogo Jaime Oliveira é mestre em arquelogia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) — Foto: Hariel Fontenelle/ g1 AM

Como foram feitas?

Questionado sobre como eram feitas as gravuras, Jaime respondeu que as antigas civilizações usavam ferramentas como machados, feitos a partir de pedra lascada.

“As ferramentas eram feitas em locais de polimento. Ali eles produziam as ferramentas de pedra. A partir daí, eles fabricavam materiais mais próximos de uma machadinha, com um formato pontiagudo e era possível esculpir essas gravuras, era uma forma de comunicação. É um grafismo complexo de ser realizado”, disse Jiame Oliveira

Expressões faciais

As “caretas” que estão gravadas nas pedras da “Praia da Lajes” possuem diferentes expressões faciais. O g1 perguntou ao arqueólogo o que elas representavam.

“Essas figuras humanas passam emoções, tanto de felicidade quanto de tristeza. Como podemos analisar, algumas sorrindo e outras desanimadas. Podemos até afirmar que as gravuras representam um estado de espírito, e representam também um pouco do que eles vivenciaram naquele período”, completou o arqueólogo.

Estudos

O especialista afirmou que as análises associam as gravuras a sociedades antigas.

“Essas gravuras apareceram pela primeira vez em 2010 durante a seca. Treze anos depois, durante a pior seca que esse estado tem enfrentado, elas aparecem novamente. Portanto, o argumento que foi feito por nós, pessoas comuns, cai por terra. Durante o período estável do rio e na cheia, isso aqui fica submerso”, detalhou.

*G1/AM FOTO: Hariel Fontenelle/ g1 AM

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