O aplicativo que combate o desperdício de alimentos no Brasil

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O Brasil está entre os países que mais desperdiçam alimentos, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Cerca de 30% dos alimentos produzidos são descartados, o que equivale a 46 milhões de toneladas por ano.

De acordo com o Índice Global de Desperdício de Alimentos de 2024, elaborado pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), quando um alimento é desperdiçado, todos os recursos, insumos e energia utilizados na sua produção também são desperdiçados. Ou seja, comida no lixo significa também dinheiro no lixo.

Existem diversas iniciativas e ações que buscam reverter esse cenário e contribuir para a redução do desperdício. Um exemplo comum é o de consumidores que deixam de comprar frutas, legumes ou produtos com embalagens danificadas apenas pela aparência, mesmo estando em perfeitas condições para o consumo.

Achei super bacana quando a Maria Eduarda Orleans me procurou para apresentar o aplicativo Food To Save. A proposta é inovadora e tem tudo para ganhar muitos adeptos.

Quer saber como funciona? Eu conversei com o Lucas Infante, CEO e cofundador da Food To Save.

Mundo Agro: O que é a Food To Save? Quando começou a operar e onde? Como funciona? Quais são as principais frentes de negócio da marca atualmente?

Lucas Infante: A Food To Save é uma foodtech sustentável que nasceu com o propósito de revolucionar o combate ao desperdício de alimentos no Brasil. Por meio de um aplicativo, atuamos como elo entre estabelecimentos parceiros e clientes engajados nesse movimento. Esses clientes compram alimentos próximos da validade ou fora do padrão estético com até 70% de desconto. Com isso, geramos benefícios econômicos para os estabelecimentos, opções acessíveis para os consumidores e impacto positivo para o planeta. Iniciamos a operação em 2021, em São Paulo, e rapidamente expandimos para outras regiões do país. Hoje, já atuamos em mais de 100 cidades e 12 capitais, incluindo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Grande, Vitória, Cuiabá, Fortaleza e Recife. Além do app, contamos com outras soluções, como o Food Market — nossa loja própria, que atua diretamente com grandes indústrias para salvar excedentes de produção — e a Fruta Imperfeita, que conecta pequenos e médios produtores aos consumidores finais, oferecendo frutas e legumes fora do padrão estético em cestas avulsas ou assinaturas semanais/quinzenais.

Mundo Agro: Desde o início da operação, quanto alimento vocês conseguiram recuperar?

Lucas Infante: No app da Food To Save, os alimentos são resgatados por meio das “Sacolas Surpresa”. O consumidor não escolhe itens específicos, mas sim o tipo de sacola (doce, salgada ou mista), e os estabelecimentos parceiros montam as sacolas com base nos excedentes disponíveis no momento. Já conseguimos salvar mais de 5,4 mil toneladas de alimentos e evitar a emissão de mais de 13 mil toneladas de gases de efeito estufa.

Mundo Agro: Quanto custa um alimento na Food To Save em comparação ao mesmo em perfeitas condições?

Lucas Infante: Nossas Sacolas Surpresa pesam, em média, 1 kg, e são oferecidas com até 70% de desconto em relação ao valor original dos produtos. Os alimentos estão próximos da validade ou fora do padrão estético, mas em perfeitas condições de consumo. Assim, o consumidor economiza e ainda contribui para reduzir o desperdício.

Mundo Agro: Sabemos que a aparência nem sempre reflete a qualidade de um alimento. Lá fora, esse tipo de proposta já é bem aceito. O que falta para que iniciativas como essa ganhem mais força no Brasil?

Lucas Infante: Grande parte do desperdício ocorre por causa de padrões estéticos, e não por questões de qualidade. Nosso compromisso é mostrar que, mesmo imperfeitos, os alimentos podem (e devem) ser aproveitados — e que salvar alimentos pode ser uma experiência deliciosa. Em outros países, esse movimento é mais consolidado, principalmente devido à conscientização ambiental e à cultura de consumo sustentável que vem sendo construída há décadas. Na Europa, por exemplo, o conceito de “Best Before” (melhor antes) é amplamente entendido: indica até quando o produto mantém suas melhores características, mas não significa que ele esteja impróprio para o consumo. No Brasil, estamos evoluindo, mas ainda há desafios: falta de informação, preconceito com a aparência dos alimentos e uma cultura de consumo menos consciente. O principal fator hoje é a educação e o engajamento. Precisamos mostrar que é possível comer bem, economizar, conhecer novas marcas e ainda ajudar o planeta. Quanto mais pessoas entenderem isso, maior será o impacto.

Mundo Agro: Qual a expectativa para a comercialização de chocolates nesta época do ano?

Lucas Infante: A Páscoa é uma das datas mais importantes para o setor, mas os preços elevados afetam muitos consumidores. Para isso, desde o início do mês, nosso Food Market oferece chocolates com até 70% de desconto nas unidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. São produtos de grandes marcas, em perfeitas condições de consumo, que poderiam ser descartados por estarem próximos da validade ou com avarias nas embalagens. Após o período pascal, será possível salvar ainda mais chocolates e ovos no nosso app, por meio das Sacolas Surpresa. Nosso objetivo é mostrar que dá para celebrar com propósito e responsabilidade, conciliando sustentabilidade, economia e consumo consciente.

Mundo Agro: Qual a projeção de crescimento da Food To Save para este ano?

Lucas Infante: No ano passado, faturamos R$ 72 milhões. Para este ano, nossa expectativa é crescer mais de 100%.

 

 

*R7/Foto: Foto cedida : Luana Almeida

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