Industrializados se ‘infiltram’ entre peixe e farinha na dieta de ribeirinhos

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Biscoitos doce e salgado, suco em pó, sopinhas rápidas, salgadinhos, margarina, achocolatados, salsicha, calabresa e conservas em lata são alimentos consumidos por moradores do Médio Solimões no Amazonas. O consumo de alimentos industrializados tem aumentado nos últimos anos, segundo a pesquisa “Diversidade biocultural alimentar e resiliência: o caso da Amazônia brasileira em transição”.

O estudo foi coordenado pela pesquisadora Daiane Soares Xavier da Rosa, doutoranda em Ciências da Sustentabilidade pela Universidade de Lisboa e associada ao Instituto Mamirauá. A pesquisadora analisou a dieta de comunidades ribeirinhas das reservas Mamirauá e Amanã, na região do Médio Solimões, entre 2023 e 2024.

“Esses novos hábitos alimentares têm impactos na cultura alimentar dessas comunidades e na saúde desses indivíduos”, diz Daiane Soares.

Mesmo com o consumo de industrializados, a base da alimentação ribeirinha nessa região amazônica inclui o peixe e a farinha de mandioca. Os alimentos ultraprocessados são consumidos mais pelos jovens.

“As pessoas que tomam as decisões alimentares, ou seja, o que será comprado no supermercado e servido nas refeições familiares, têm hoje, em média, 40 anos de idade, e seus hábitos estão ligados à cultura alimentar regional, mais tradicional”, diz Daiane Soares.

A pesquisadora identificou que em comunidades de áreas menos afetadas pelas secas e cheias dos rios, mais distantes de centros urbanos, os alimentos consumidos são de origem da agricultura familiar. Mas as comunidades que estão mais próximas dos centros dos municípios estão sujeitas a produtos ultraprocessados (alimentos com aditivos superficiais).

“A agricultura familiar e de subsistência têm um papel essencial. Para além da roça, os alimentos que são plantados nos quintais e nos sítios aumentam consideravelmente a diversidade alimentar. Comunidades em áreas de várzea acabam ficando mais vulneráveis na cheia, e aí recorrem ao supermercado com mais frequência”, diz a pesquisadora.

O estudo também analisou o papel da alimentação nas escolas e identificou uma alta incidência de ultraprocessados na lista de itens da merenda escolar.

“Talvez haja outros fatores que influenciam. É um estudo preliminar, inicial. As crianças aprendem a comer de determinada forma na escola e levam isso para casa, influenciando, inclusive, a alimentação do restante da família. É um ciclo de transformação que está em processo”, diz Soares.

O estudo incluiu conversas com pessoas idosas das comunidades. Elas revelaram que os primeiros contatos com alimentos industrializados foram no início do século 20 nas relações de comércio com os regatões, embarcações que comercializam produtos, como o café, açúcar, bolachas, manteiga, entre outros em troca de produtos naturais da floresta.

“Esta pode ter sido uma época em que a primeira onda de mudanças alimentares ocorreu na região, partindo de uma dieta majoritariamente in natura e processada localmente, como a farinha de mandioca, bolos de massa e tapioca, para uma alimentação incluindo itens alimentares minimamente processados”, diz Daiane Soares.

A pesquisadora realizou reuniões e oficinas com as comunidades no primeiro semestre deste ano para alertar sobre o perigo dos alimentos ultraprocessados. “Percebemos, a partir das interações com as comunidades, que existe uma carência muito grande de informação sobre alimentação e saúde. Por isso, a devolutiva se tornou também uma oportunidade de informar essas pessoas para que possam fazer melhores escolhas alimentares no dia a dia”.

Durante as oficinas, os moradores aprenderam a interpretar rótulos de alimentos, identificar ingredientes nocivos à saúde e entender os impactos para a saúde do consumo de ultraprocessados.

Fonte: Amazonas Atual/Foto: Divulgação

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