Adultização nas redes sociais: o que é e como evitar exposição do seu filho

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A adultização infantil nas redes sociais se tornou um tema de discussão após o influenciador digital Felca publicar um vídeo para denunciar casos do fenômeno no YouTube. O processo acontece quando crianças e adolescentes são expostos a comportamentos considerados adultos, como assumir responsabilidades em excesso ou se colocar em situações que não condizem com a idade. No vídeo, Felca denuncia como o ambiente virtual pode incentivar o fenômeno e acusa o youtuber Hytalo Santos de criar conteúdos em teor sexual com jovens para atrair um público de criminosos e pedófilos. Após a denúncia, a conta de Hytalo no Instagram foi desativada.

Para entender os perigos da exposição infantil nas redes sociais e como esse processo pode ser evitado por pais e responsáveis, o TechTudo entrevistou o engenheiro de computação Allan de Alcântara, o advogado Lucas Balconi e a psicóloga Marília Scabora. O site procurou, ainda, a Meta e o TikTok para o envio de um posicionamento sobre as políticas de controle de uso. Confira, tudo o que você precisa saber sobre a adultização infantil, a seguir.

Adultização nas redes sociais: conheça o fenômeno

Adultização infantil acontece quando crianças e adolescentes realizam comportamentos atribuídos a adultos, expostos a responsabilidades, cobranças e situações improprias para a idade deles. Segundo a psicóloga e fundadora da Comunidade Tribo Mãe, Marília Scabora, a adultização no ambiente digital pode ocorrer quando conteúdos infantis recebem roupagem sexualizada ou quando crianças apresentam preocupação excessiva com relacionamentos amorosos, aprovação social e aparência física.

A maturidade precoce apresenta riscos para o desenvolvimento emocional e social de jovens por acelerar processos de aprendizagem que deveriam ocorrer naturalmente. Isso faz com que crianças percam momentos de brincadeira e inocência fundamentais para o crescimento saudável, o que pode causar ansiedade, baixa autoestima, estresse e dificuldades na socialização. Com a falta de orientação apropriada de adultos, essa exposição nociva também pode fragilizar vínculos familiares, já que a criança pode sofrer pressão para manter determinada aparência ou assumir responsabilidades que não deveria.

Economia da atenção: o que atrai crianças para as redes?

O advogado Lucas Ruiz Balconi, doutor em Direito pela USP e especialista em Direito Digital, afirma que a exposição precoce é consequência direta da nova estrutura social e da arquitetura digital, composta pelos novos modelos da “economia da atenção”. “Os algoritmos das plataformas não são otimizados para a segurança infantil, pelo contrário, são focados para chamar e atrair a atenção. Eles podem criar “túneis de conteúdo” que, a partir de um vídeo aparentemente inocente, levam a criança a conteúdos cada vez mais extremos ou inadequados, pois o sistema exige que a pessoa fique o maior tempo possível consumindo os conteúdos ali postados”, explicou Balconi.

Com a popularização das redes sociais, houve um incentivo econômico para que criadores de conteúdos usassem crianças como protagonistas nas plataformas digitais. Esse tipo de engajamento pode levar à “adultização” precoce, onde crianças são impulsionadas a fazer danças, usar linguajar impróprio e abordar temas adultos para gerar cliques e reter o público. “As redes sociais ensinam desde cedo que a vida é uma performance contínua para uma audiência anônima. Isso torna crianças e adolescentes vulneráveis à busca por validação externa, diminuindo sua capacidade de discernir interações seguras de contatos e conteúdos perigosos.”, disse Balconi.

Como identificar que seu filho é vítima? Confira sinais

A psicologa Marília Scabora afirma que existem indicadores importantes de que uma criança ou adolescente está sendo adultizado nas redes sociais, como poses sexualizadas em vídeos ou fotos e uso de roupas e maquiagens inspirados em pessoas mais velhas. Além disso, é necessário ter atenção para a postagem de conteúdos guiado por “curadoria adulta”, isto é, com temas de relacionamento amoroso ou sexualidade em que a criança passa a defender que determinados comportamentos são normais para àquela idade.

A busca intensa por validação externa por meio de comentários e curtidas também é um risco para adultização. Para Scabora, o alcance massivo das plataformas digitais representa um risco para o desenvolvimento emocional e social de crianças. “Uma única imagem postada pode atingir milhares de pessoas e ser reinterpretada de maneiras que a família não controla. A pressão por likes ou aprovações, por meio da tecnologia, pode estimular as crianças a reproduzir comportamentos adultificados de forma mais rápida e intensa do que no presencial”, disse a psicóloga.

É possível proteger menores de idade nas redes?

Segundo o engenheiro de computação, Allan de Alcântara, o acesso irrestrito a dispositivos conectados e a falta de filtros ou controle parental adequados são os fatores que mais contribuem para exposição de crianças e adolescentes a conteúdos ou comportamentos adultos online. “Crianças usam redes sociais, jogos online e apps de vídeo desde muito cedo, muitas vezes sem nenhuma barreira de segurança digital. Além disso, algoritmos de recomendação podem direcionar conteúdos sensíveis baseados em interações anteriores, mesmo que sem intenção explícita”, explicou o engenheiro.

Alcântara afirma que existem ações simples que pais podem adotar para evitar a exposição precoce dos filhos a conteúdos ou comportamentos adultos online. Instalar softwares de controle parental, bloquear redes sociais inadequadas e utilizar roteadores com controle de conteúdo são estratégias eficazes para filtrar o que as crianças encontram na internet. Além disso, é importante que os pais supervisionem o uso de dispositivos por jovens e mantenham um diálogo constante para estabelecer um comportamento digital seguro.

Para incentivar esse diálogo, o advogado Lucas Balconi afirma que essencial criar um sistema de “governança digital familiar” para evitar a exposição precoce de crianças a conteúdos adultos. Para o especialista, é importante criar um ambiente seguro em que a criança se sinta confortável para relatar experiências nas redes e seja incentivada a consumir criticamente o conteúdo consumido. Além disso, Balconi ressalta a importância do exemplo familiar para que a criança use as redes de forma inteligente. “Os pais precisam definir regras para si mesmos. A proteção começa com o exemplo e a gestão consciente da imagem da criança como um dado pessoal sensível, e não como um ativo para gerar engajamento”, disse Balconi.

O que dizem as redes sociais?

Em resposta ao TechTudo, a Meta afirmou que toma medidas para proteger menores de idade em suas plataformas, entre elas a Conta de Adolescente no Instagram, Facebook e Messenger, que oferece uma experiência mais restrita voltada para adolescente entre 13 e 16 anos. Além disso, a plataforma busca identificar proativamente conteúdos de exploração infantil, interações inadequadas com adolescentes e sexualização explícita de menores para realizar a remoção do conteúdo e de contas dedicadas a compartilhar essas imagens.

Fonte: TechTudo/Foto: Reprodução/YouTube

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