Um vídeo que circula nas redes sociais promete a cura para o diabetes com um suplemento alimentar de componentes naturais chamado Insupril. Se isso fosse possível, milhões de pessoas não dependeriam mais de medicamentos ou insulina.
No entanto, a verdade é que se trata de um golpe. A Anvisa publicou uma resolução proibindo a comercialização do falso medicamento, e especialistas alertam que trocar a medicação por esse tipo de produto representa um risco à vida.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a estimativa é que 20 milhões de pessoas no país sofram de diabetes. Causada pela falta de insulina, produzida no pâncreas, ou pela deficiência na ação dela, a doença não tem cura, apenas controle.
O produto é um suplemento alimentar, ou seja, não é um medicamento.
Mesmo assim, a empresa divulgava promessas de tratamento e cura para o diabetes. Na página, o produto não revela qual seria a substância natural capaz de promover a cura para a doença. No site de reclamações Reclame Aqui, há centenas de relatos de pessoas enfrentando problemas com a entrega ou a eficácia do produto. Isso demonstra que muitas estão acreditando na falsa promessa.
O vídeo foi denunciado por Ana Bonassa, PhD em Ciências pela Universidade de São Paulo e divulgadora científica no perfil Nunca Vi 1 Cientista. Recentemente, ela e sua parceira, Laura Marise, foram processadas por desmentirem uma postagem que alegava que o diabetes era causado por vermes.
Em sua página, o Insupril alegava ser registrado e aprovado como eficaz pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Após ser acionada pelo g1, a Anvisa informou que essa afirmação é falsa e publicou uma resolução proibindo a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e determinando o recolhimento do produto na sexta-feira (20).
Segundo a agência, suplementos alimentares precisam passar por processo de registro, o que não foi realizado pela empresa. Além disso, esses produtos não podem prometer cura para problemas de saúde, pois não são medicamentos.
Até esta segunda-feira (23), apesar da proibição, a página do Insupril continuava ativa, permitindo a compra do produto, que também seguia sendo vendido em marketplaces.
Diabetes não tem cura e não é causada por bactérias
O diabetes é causado pela falta de insulina ou pela deficiência na ação desse hormônio. Produzida pelo pâncreas, a insulina tem a função de controlar os níveis de açúcar no sangue.
A doença pode ser desenvolvida em dois tipos:
- No tipo 1, o próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células produtoras de insulina. Por isso, o tratamento é com infusão de insulina de maneira externa.
- O tipo 2 é caracterizado por resistência à insulina e deficiência parcial de secreção do hormônio pelas células pancreáticas. Desta forma, 90% dos casos são associados à obesidade e ao envelhecimento, sendo tratado com medicamentos que nem sempre usam insulina.
Especialistas explicam que múltiplos fatores podem levar ao desenvolvimento do diabetes, sendo os principais a alimentação, a obesidade, o estilo de vida e a predisposição genética. Em nenhum caso a doença é causada por vermes ou bactérias.
O médico endocrinologista Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica que uma má alimentação pode sobrecarregar a produção de insulina, o que, ao longo do tempo, pode levar ao desenvolvimento da doença.
O médico também enfatiza que a metformina, citada no vídeo com alegações falsas, é um dos medicamentos mais importantes para o tratamento do diabetes e quem faz alegações de falsos produtos quer faturar com a condição dos pacientes.
“É um medicamento que tem mais de 60 anos, salva pessoas, evita consequências graves da doença, reduz o risco de doenças cardiovasculares. É criminoso dizer que os pacientes devem parar de usar o medicamento”, reforça.
O médico endocrinologista Levimar Araujo, que é presidente da SBD e lidera o departamento sobre diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBEM) reforça que interromper o tratamento representa um risco à vida.
Canetas contra a diabetes
Pesquisas recentes encontraram uma nova possibilidade de tratamento para a diabetes, que são as canetas, como as de semaglutida, conhecida como Ozempic. Apesar de se popularizarem para os fins estéticos com a perda de peso que promovem, elas foram criadas para o tratamento da diabetes tipo 2 e obesidade.
Os medicamentos são análogos (muito parecidos) ao hormônio GLP-1. Nosso corpo produz esse hormônio e ele é secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro, no hipotálamo, e estimula algumas células, diminuindo o apetite.
Contudo, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio, fazendo com que a gente tenha fome logo. É aí que os medicamentos semaglutida e liraglutida atuam. Eles são resistentes à ação da enzima DPP4. Isso faz com que os análogos durem mais tempo no nosso organismo.
Essa ação ajuda na perda de peso e no controle da diabetes. Apesar disso, o que os especialistas falam é que o paciente consegue a remissão da doença, mas não a cura.
“Se o paciente voltar a engordar, ganhar gordura abdominal, o diabetes acaba voltando. Essa é a única opção que temos, além dos tratamentos convencionais”, explica Levimar Araujo, endocrinologista especialista em diabetes.
Fonte: G1/Foto: Peejhunt para Pixabay