Após 8 abortos espontâneos, mãe pede criação de esperas privadas em hospitais: “Tive que ficar em salas cheias de grávidas”

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“Lembro-me claramente de passar por todas as mulheres grávidas felizes e seus parceiros sorrindo e me sentindo um completo fracasso”, relembrou Emma Garner ao Metro.co.uk. Aos 38 anos, ela, que é de Manchester, se lembra de inúmeras idas ao hospital, onde foi colocada ao lado de mulheres grávidas entusiasmadas, enquanto lidava com perdas devastadoras. “Estar exposta a pessoas para quem tudo está indo bem dói muito”, disse ela.

Quatro filhos e oito abortos

Infelizmente, Emma se viu nessa situação repetidas vezes. Ela passou por um total de oito abortos espontâneos. Sua primeira perda aconteceu em 2014, quando, com 10 semanas, não havia mais sinal de batimento cardíaco do bebê. Alguns meses depois, Emma engravidou novamente, mas o ultrassom de 12 semanas revelou que seu segundo bebê também não havia resistido.

“Mais uma vez, fui levada de volta à sala de espera. Eu não chorei, não falei. Lembro-me de olhar em volta sentindo raiva, amargura e ciúme”, conta. “Lembro-me de um casal conversando sobre o sexo do bebê e que esperavam que fosse uma menina, pois não queriam um menino. Lembro-me de pensar que eles tinham sorte de seu bebê simplesmente estar vivo”, lembra. Em 2015, um ano após seu primeiro aborto, Emma teve mais dois.

No final do ano, ela engravidou pela quinta vez e, após uma gravidez cheia de ansiedade, nasceu seu filho, Henry. Ela e seu parceiro rapidamente começaram a tentar ter outro bebê, e então nasceu seu segundo filho, Thomas, mas, infelizmente, ele tinha vários problemas de saúde e morreu em abril de 2018, com apenas seis meses.

Após a morte de Thomas, Emma e seu parceiro decidiram que queriam tentar outro filho. Ela engravidou novamente no final de 2018, mas infelizmente abortou com 10 semanas. E foram mais três abortos precoces no mesmo ano. Mas o casal engravidou mais uma vez e, felizmente, deu as boas-vindas ao terceiro filho, George, em 2019, e ao quarto, Oliver, em 2021.

Emma disse que continuar voltando para a mesma sala de espera causou um grande impacto emocional. “Ver os casais felizes enquanto eu sabia que tinha um bebê morto dentro de mim me deixou muito amarga. Queria que as pessoas soubessem o que eu estava sentindo, mas, obviamente, nunca disse ou demonstrei nada”, explica ela. “Em futuras gestações bem-sucedidas, sempre tive um cuidado excepcional para nunca revelar nada na sala de espera. Eu nunca compartilhava minhas fotos ou falava em público com meu marido sobre a gravidez”, conta.

Salas privadas

Emma acredita que ter salas de espera separadas para mulheres que perderam seus bebês é “essencial”. “Você acabou de perder uma vida de sonhos e expectativas”, disse ela. Kate Davies, do Tommy’s, também observa que o pronto-socorro não é um lugar apropriado para uma mãe em luto. “Sabemos que muitas mulheres são encaminhadas para o pronto-socorro, que é um ambiente inadequado e pode aumentar o trauma e a angústia no que pode ser uma situação já extremamente perturbadora”, diz ela.

Em 2018, o Grupo para Perda de Gravidez foi contratado para analisar a qualidade geral dos cuidados do NHS para quem sofre perda antes das 24 semanas. O relatório reconhece que seria “vital” que fosse oferecido um “espaço privado” aos pais quando “recebessem notícias inesperadas e difíceis”. “Muitos pais com quem falamos sentiram que a sua angústia tinha sido agravada pela falta de um espaço privado para lamentar e/ou por estarem rodeados de grávidas e recém-nascidos”, diz o documento. Acrescentando, ainda, que os pais “só devem ser atendidos nas maternidades a pedido da paciente ou se este for o único local de atendimento disponível”.

Kate Davies é diretora de pesquisa, política e informação da Tommy’s, instituição de caridade contra perda de bebês, concorda que esses espaços separados são vitais. “A Tommy’s apoia totalmente o apelo a todos os hospitais e unidades de avaliação de gravidez precoce para fornecerem um ‘ambiente apropriado e cuidados sensíveis’ para aqueles que sofrem perda de bebês no Reino Unido”, disse ela. “As pessoas que lidam com o choque e a dor de um aborto espontâneo não deveriam ter que esperar lado a lado em qualquer ambiente de saúde com outras pessoas cuja jornada de gravidez permanece positiva”, completou.

Em resposta, o governo disse que o NHS England irá encomendar uma revisão, acrescentaram que a revisão “ajudará a determinar o nível de investimento necessário para o desenvolvimento de instalações de luto sensíveis a médio e longo prazo”, informou o Metro.

Fonte: Revista Crescer/Foto: Reprodução/Metro

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