Baile Charme de Madureira é destaque no New York Times, como ‘símbolo da identidade e da cultura negra’

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“Os swings carregam um toque do balanço da bossa nova; os two-steps têm um sabor distinto de samba; e os saltos ousados do quadril canalizam o funk brasileiro”. É assim que o New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, descreve os passos do Baile Charme de Madureira. Patrimônio cultural imaterial do estado, o tradicional reduto de dança sob o Viaduto Negrão de Lima, na Zona Norte do Rio, foi destaque em uma página inteira da edição impressa do periódico desta quinta-feira, também compartilhada em seu site.

Antes de detalhar o baile em si, que ocorre durante a noite, a correspondente Ana Ionova, contou como o espaço é usado durante o dia: dezenas de pessoas, incluindo “crianças inquietas e adolescentes magros”, até “homens e mulheres na faixa de 50 e 60 anos”, se reúnem para aprender alguns passos do ritmo.

“Caminhões, ônibus e carros roncavam no alto, abafando a voz de Marcus Azevedo. À distância, sirenes soaram e os canos de escape saíram pela culatra. Debaixo de um viaduto, Azevedo, um professor de dança, gritou por cima do barulho: ‘Cinco, seis, sete, oito!'”, descreve o jornal sobre as aulas embaixo do Viaduto de Madureira, relatando que, em dado momento, alunos acenaram para passageiros de ônibus que olhavam curiosos para os passos. Até a fumaça de um caminhão, que obrigou o grupo a cobrir a boca, foi um momento observado pela repórter.

Até o suor ao fim da aula e as diversas tentativas até que os passos se sincronizassem foram detalhados na matéria, que teve fotos feitas por María Magdalena Arréllaga. O charme, surgido nos anos 1970 em meio à juventude negra e suburbana do Rio, nasceu numa “época em que a periferia distante e empobrecida do Rio oferecia aos jovens poucas fontes de orgulho ou identidade”. O ritmo se inspirou, então, em James Brown e Stevie Wonder, destaca o NYT.

A reportagem ressalta que os dançarinos são embalados por clássicos do R&B, de Donell Jones e JoJo a Destiny’s Child e TLC. “A rotina de dança não estaria fora de lugar na cidade de Nova York, Atlanta ou Los Angeles”, destaca o texto, apesar de o Rio ser uma “metrópole mais conhecida pelo samba”.

Noite de estilo e passos improvisados

Depois de servir de espaço para as aulas, a parte de baixo do viaduto, então, vira uma “boate ao ar livre”, conforme descreve o jornal. Antes mesmo dos passos em si, os looks escolhidos para o evento englobam tênis e tranças elegantes, camisas de basquete e correntes de ouro.

Enquanto os mais velhos ficam atrás — com movimentos “sutis e sensuais” — os dançarinos mais chamativos ficam à frente do público, liderando os passos improvisados: “Em pares e grupos, outros seguiram, espelhando seus movimentos. A multidão deu um passo para a direita, entrou em um passo cruzado, inclinou o ombro para a frente e girou em uma curva”.

O NYT ressalta que o espaço é considerado um “símbolo da identidade e cultura negra que é única nos bairros da classe trabalhadora do Rio”, ainda mais depois que muitos clubes sociais fecharam nos anos 1990. O viaduto de Madureira, então, passou a ser o destino desse público, “onde podiam dançar sem serem perturbados”, destaca a reportagem. Depois de a pandemia ter parado o baile, “o charme está voltando”, ressalta o texto.

“Os movimentos que definem a dança são ao mesmo tempo familiares aos dançarinos de rua urbanos, mas exclusivamente ‘cariocas’, como qualquer pessoa ou coisa do Rio de Janeiro é conhecida”.

Na trilha sonora que embala os passos, além de medley de “Hotel”, de Cassindy”, e “He wasn’t’ man enough”, de Toni Braxton, o NYT descreve ainda que o DJ Michell — que sobe ao palco por volta da 1h da madrugada — tem investido ainda em “talentos locais”, como o grupo Os Garotin, de São Gonçalo, “trio com uma vibe contemporânea de R&B que se tornou um sucesso instantâneo no Brasil”.

Fonte: O Globo/Foto: María Magdalena Arréllaga/The New York Times

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