O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) divulga nesta sexta-feira (6) o relatório parcial sobre o acidente da aeronave da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) no dia 9 de agosto e deixou 62 mortos. O documento vai trazer uma resposta inicial sobre as circunstâncias da queda, além de um alerta para autoridades de outros países que utilizam a aeronave. A avaliação preliminar da tragédia vai ser enviada à ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil).
O prazo estipulado para o envio dos dados à instituição internacional é de 30 dias a partir da ocorrência, ou seja, até 9 de setembro. Ainda não existe uma data prevista para a apresentação do relatório final.
No dia 16 de agosto, o Cenipa já havia atualizado o documento inicial sobre o acidente, afirmando que a “tripulação perdeu o controle da aeronave”. A página da ocorrência deixa claro, no entanto, que todas as informações contidas ali poderiam ser alteradas até o relatório final.
A investigação feita pelo centro não aponta culpados, mas sim os fatores que contribuíram para o acidente e recomendações para evitar novos casos. Os possíveis responsáveis pelo desastre devem ser identificados em uma investigação feita pela autoridade policial.
Caixas-pretas
No caso do acidente de Vinhedo (SP), duas caixas-pretas foram recuperadas pelo Cenipa, que conseguiu extrair os dados do voo e a gravação das conversas dentro da cabine do avião. Além dos gravadores, os motores do avião foram recuperados para tentar determinar a causa do acidente.
Caixa-preta é o nome popular do sistema de registro de voz e dados existentes em aviões. Ele é formado por dois sistemas distintos e independentes. O primeiro, chamado de CVR (Cockpit Voice Recorder, em tradução livre), é responsável por armazenar o som ambiente das cabines de comando.
A outra parte, chamada de FDR (Flight Data Recorder), guarda dados como velocidade, aceleração, altitude, entre outros. Por isso, o sistema é formado por dois equipamentos.
Extração dos dados
Durante a investigação dos dados coletados nas caixas-pretas, os equipamentos passam primeiro pela oficina de extração, onde as placas de memória são removidas e verificadas. Além disso, realiza-se a verificação dos componentes.
Os analistas de dados da FAB explicam que o processo exige muita atenção para que as placas não sejam danificadas ainda mais. Por isso, eles utilizam microscópios, que permitem a observação das placas de vários ângulos, além de luvas e jalecos.
Caso a caixa-preta tenha sido recuperada da água, o processo deve ser adaptado. Segundo os analistas, o processo de oxidação se inicia no momento exato em que o equipamento é retirado da água. Portanto, é necessário o uso de fornos específicos para tratar o equipamento.
Digitalização
Os dados são recuperados eletronicamente, o que permite o acesso aos sons da cabine, às comunicações dos pilotos e à leitura de centenas de parâmetros de voo, como altitude, velocidade e trajetória.
“Trabalhamos incansavelmente para entregar aos investigadores o máximo de informações oriundas dos dados obtidos, as quais exigem um processo meticuloso de análise e, assim, em tempo hábil, colaboram para a excelência dos resultados, contribuindo para o aprimoramento da aviação”, destacou o chefe do Labdata (Laboratório de Leitura e Análise de Dados de Gravadores de Voo), coronel aviador Sidnei Velloso da Silva Junior.
Simulador
O Labdata passou a utilizar animações em realidade virtual do acidente em três dimensões, o que permite a visualização externa e interna da aeronave, mostrando a sequência de voo realizada com base na leitura e no cruzamento dos dados dos diversos sistemas de voo.
Por meio dessa tecnologia, os investigadores conseguem visualizar a trajetória da aeronave, a velocidade desenvolvida, o caminho percorrido, a altitude alcançada, a atuação dos comandos de voo, o funcionamento dos sistemas, além de ouvir as conversas realizadas na cabine de comando.
*R7/Foto: Reprodução/Record/Arquivo