O ano era 2021. Entre os dias 6 e 8 de junho daquele ano. Manaus sofreu uma onda de ataques violentos com veículos incendiados, prédios públicos depredados, atentados com explosivos e toque de recolher imposto por criminosos. Também houve ataques em pelo menos nove cidades no interior do Amazonas.
Por trás das ações criminosas, um velho conhecido das autoridades: Kaio Wuellington Cardoso dos Santos, conhecido como Mano Kaio, de 32 anos. A onda de violência no estado é apenas mais um dos inúmeros crimes atribuídos ao “02” da facção Comando Vermelho (CV) no norte do país.
Pouco mais de três anos se passaram desde então e Kaio segue foragido da Justiça. Nesta terça-feira (9), ele foi um dos principais alvos da Operação Rota do Rio 2, deflagrada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro (PC-RJ) contra o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro.
Segundo a Polícia, Mano Kaio e outro criminoso do Amazonas, identificado como Sílvio Andrade da Costa, o Silvinho, estão escondidos no Complexo da Maré, na capital fluminense.
Carros da Polícia Civil e um blindado foram na região cedo, e nas comunidades Parque União e Nova Holanda. Criminosos reagiram à ação policial e dispararam contra as forças de segurança. Uma mulher foi atingida na perna.
A caçada ao criminoso é mais um capítulo de uma vida de crimes iniciada há pelo menos 14 anos.
Início no crime
Registros policiais apontam que, em 2010, Kaio era membro de uma quadrilha especializada em roubos de casa. Naquele ano, aos 17, foi detido pela Polícia Civil do Amazonas após roubar a casa de uma desembargadora em Manaus.
A primeira prisão de Kaio ocorreu em 2011, por roubo de veículo. Ao deixar o presídio, um ano depois, passou a se envolver com o tráfico de drogas.
Em 2013, foi apontado como o executor dos traficantes, Frank Oliveira da Silva, o ‘Frankzinho do 40’ e Carlos da Costa Uchoa, o ‘Tonga’, responsáveis pelo tráfico na Zona Sul de Manaus à época. Os corpos foram esquartejados e encontrados dentro de malas em maio daquele ano.
Prisões, fugas e mais mortes
A primeira prisão de Kaio ocorreu em 2015, no Ceará. Poucos meses após, porém, ele conseguiu fugir durante uma rebelião na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL).
Durante o período em que esteve foragido, tornou-se uma liderança da facção criminosa Família do Norte (FDN), que se tornaria braço do CV no Amazonas.
Foi apontado pelas autoridades como “pivô” da chacina ocorrida no Centro de Detenção Provisória Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, no ano de 2017, que resultou na morte de 56 detentos e tornou-se a terceira maior da história do país.
Kaio foi preso novamente em 2017, na cidade de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. A polícia informou que, até então, ao menos 50 homicídios eram atribuídos a ele, que também era suspeito de articular uma rede internacional de tráfico de drogas e armas, junto a traficantes de Peru e Colômbia.
Em 2018, uma nova fuga o pôs no topo da lista de criminosos mais procurados do Amazonas. Desde então, seu paradeiro é incerto, mas a Polícia Civil acredita que Mano Kaio esteja escondido no Rio de Janeiro.
Cerca de dez dias após a onda de ataques violentos ordenados por Kaio assustar a população do Amazonas, a PC-RJ deflagrou uma operação no Complexo da Penha para capturá-lo, sem sucesso.
Condenações
Embora apontado como suspeito de envolvimento em mais de 50 mortes, Kaio possui condenações por apenas duas delas. Em 2018, foi condenado a 14 anos de prisão em regime fechado pelo homicídio do feirante Rodrigo Brasil Castro, em março de 2013.
Ele também foi condenado a 14 anos de prisão pela morte de Ana Carla Teixeira de Oliveira, em 2012.
*G1/AM/Foto: : Patrick Marques/G1 AM