A cidade que mais cresceu, proporcionalmente, nos últimos 12 anos no Brasil fica no Pará. Canaã dos Carajás é um município no sudeste do estado, com 3.146,821 km² de território, distante 777,7 quilômetros da capital Belém.
“Canaã”, como é conhecida, tinha 26.716 habitantes em 2010, ano do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o novo levantamento, lançado nesta quarta-feira (28), mostra que a cidade concentra agora 77.079 moradores – o aumento foi de 188,5%.
O número de domicílios, naturalmente, também aumentou no período: passou de 10.352 em 2010 para 28.605 em 2022, um crescimento de 176,3%.
O principal indicativo do crescimento da cidade é a busca por empregos no setor de mineração, que atrai migrantes de outros estados brasileiros.
Segundo dados da prefeitura do município, apenas 12,61% da população nasceu na cidade.
Entre os moradores de Canaã, 50,7% são de outras cidades do Pará e 36,6% de outros estados brasileiros. A principal origem fora do Pará é o Maranhão – veja na tabela:
Origem da população de Canaã dos Carajás (PA)
Origem | Percentual da população |
Canaã dos Carajás | 12,61% |
Outras cidades do Pará | 50,74% |
Maranhão (MA) | 17,97% |
Tocantins (TO) | 4,85% |
Goiás (GO) | 3,55% |
Minas Gerais (MG) | 1,68% |
Bahia (BA) | 1,04% |
São Paulo (SP) | 0,85% |
Outros estados | 7% |
Não sabe/não respondeu | 0,56% |
Barragens no Pará – vista aérea da Mina do Sossego, no município de Canaã dos Carajás. — Foto: Akira Onuma / O Liberal
A mineração de ferro é o “carro-chefe” econômico da cidade, setor que tem se consolidado há, ao menos, sete anos.
A arrecadação do município chegou a ser 34 vezes maior em 2020 do que o registrado em 2016, por conta das arrecadações com royalties ligados à mineração.
As estimativas do IBGE em 2020 apontavam que Canaã tinha o maior Produto Interno Bruto (PIB) do país: R$591.101,11.
No entanto, Canaã dos Carajás ainda enfrenta a grande concentração de renda, fenômeno que marca também outros municípios que exportam commodities no sul do Pará, como a soja e gado, segundo especialistas. Outro problema são as moradias desordenadas.
Barragens no Pará – moradores da Vila Bom Jesus, na zona rural de Canaã dos Carajás, vivem distante apenas 6 quilômetros da Mina do Sossego, da Vale. — Foto: Akira Onuma / O Liberal
No ranking dos municípios com maior crescimento do número de domicílios, outros dois municípios paraenses aparecem: Senador José Porfírio, na posição 13º; e Vitória do Xingu, em 16º. Ambas ficam no sudeste do estado.
Madson Quaresma, professor de geografia na Universidade do Estado do Pará (Uepa), diz que não só as grandes empresas ligadas ao minério e o agronegócio atraem brasileiros para esta região do Pará. Ele explica a dinâmica que esses empreendimentos provocam:
“Os grandes projetos no interior da Amazônia trazem a necessidade de novos equipamentos urbanos, como na saúde, educação, etc.; e, ainda, a mineração e a criação de gado, por exemplo, pedem alguns incrementos para poderem funcionar: o frigorífico para a carne bovina, as estradas e ferrovias para escoar os minérios, os serviços, entre outros. Todas essas possibilidades de empregos, diretos ou indiretos, atraem as migrações”.
No entanto, Quaresma indica que, embora o PIB de Canaã seja até maior que o da capital Belém, por exemplo, “há a questão da concentração de renda, se analisar o salário médio da população”.
“Em comparação a cidades no interior de outras regiões, como o Sudeste brasileiro, a urbanização na Amazônia paraense é mais marcada, em geral, por equipamentos urbanos mais frágeis, altos níveis de desempregos ou de trabalho informal, sendo a maioria da mão-de-obra não qualificada, portanto a concentração dessas grandes populações nos entornos de grandes projetos é seguida por várias problemáticas sociais”.
As estimativas do IBGE em 2021 era que Canaã tinha o 4º mais alto salário médio dos trabalhadores formais no Pará, no valor de R$3,1 salários mínimos; e também que era o município com mais pessoas ocupadas no mercado de trabalho formal no estado.
Por outro lado, as estimativas apontavam que 40,5% da população vivia com rendimento mensal de meio salário mínimo por pessoa.
“No Pará, o fenômeno de aumento considerável da população em municípios que são grandes exportadores de commodities vem acompanhado, infelizmente, também de mais pessoas morando em regiões periféricas, em ocupações desordenadas e distantes de serviços públicos de qualidade”.
A prefeitura de Canaã dos Carajás informou que investe nos serviços ofertados, principalmente nas áreas de saúde, educação, assistência social, segurança e habitação para absorver o crescimento da cidade expresso em número de domicílios.
Além disso, a gestão municipal disse que faz investimentos também no setor de turismo e na pavimentações de rodovias para facilitar o escoamento de produtos do campo.
*g1 / Foto: Rodrigo Pinheiro/Ag.Pará