Parece um plano inventado por um vilão de James Bond: enviar um espelho gigante à órbita terrestre para capturar os raios do Sol e redirecioná-los para um alvo na Terra.
Foi exatamente isso que a agência espacial russa Roscosmos tentou há pouco mais de três décadas.
Mas o projeto Znamya não era uma conspiração para ameaçar o mundo.
O objetivo era mais utópico: “iluminar cidades árticas na Sibéria durante os meses escuros de inverno”, explicou a apresentadora Kate Bellingham ao Tomorrow’s World, um programa da BBC de 1992 que destacou a tecnologia.
Basicamente, o espelho tentava fazer o Sol brilhar novamente nas regiões polares da Rússia depois que a noite caísse.
Ainda hoje, esse conceito parece estranho, mas a ideia de usar espelhos no espaço para refletir a luz na superfície da Terra não era nova.
Em 1923, o pioneiro alemão dos foguetes Hermann Oberth propôs isso em O Foguete no Espaço Planetário.
Seu livro, baseado em uma tese de doutorado que a Universidade de Heidelberg rejeitou por considerá-la muito rebuscada, demonstrou matematicamente como um foguete poderia deixar a órbita da Terra.
Entre outras ideias discutidas e que mais tarde foram concretizadas, estava o conceito de criar uma rede de colossais espelhos côncavos ajustáveis que poderiam ser usados para refletir a luz solar em um ponto concentrado na Terra.
O cientista, considerado um dos fundadores da astronáutica moderna, argumentou que essa iluminação poderia ajudar a prevenir catástrofes, como o naufrágio do Titanic em 1912, ou resgatar sobreviventes.
Ele também especulou que espelhos espaciais poderiam ser usados para limpar rotas de navegação derretendo icebergs ou até mesmo para manipular os padrões climáticos da Terra.
Físicos alemães retomaram essa ideia do espelho espacial durante a Segunda Guerra Mundial.
No centro de pesquisa de armas nazista em Hillersleben, eles trabalharam em um projeto para construir uma arma orbital reflexiva aterrorizante chamada Sonnengewehr, ou “rifle solar” em alemão.