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Conheça os torcedores encarnados e azulados que moram em redutos dos bois contrários

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 Enfeitar a frente das casas com as cores dos bois Caprichoso ouo Garantido é uma tradição em Parintins. Em dias de festa, como a ladainha do boi Garantido e o ‘Boi de Rua’, do Caprichoso – quando os torcedores acompanham os seus respectivos bumbás pelas ruas da cidade – as ornamentações são ainda mais chamativas, com bandeiras azuladas e avermelhadas que sinalizam, de longe, o reduto de cada boi.

Neste ano, a avenida Sá Peixoto, localizada no bairro da Francesa, reduto azulado, foi o ponto de partida para o  tradiciona Boi de Rua. E, em meio a uma legião azul e branca, a casa de número 452 chama a atenção: um ponto vermelho numa imensidão azul. 

Nessa casa moram Meire de Nazaré Barroso Picanço, de 53 anos, Keiser Picanço, 46, e Anita Picanço, 13. Uma família perreché. E, há quase duas décadas, a casa deles segue enfeitada com as cores do boi Garantido. 

Meire de Nazaré Barroso Picanço, de 53 anos, e Keiser Picanço, de 46, torcem para o Garantido e moram na avenida Sá Peixoto, na Francesa, percurso utilizado no tradicional Boi de Rua, do Caprichoso. (Foto: Paulo Bindá/A Crítica)

“Isso começou quando vim morar em Parintins (sou paraense). Eu me encantei e me apaixonei pela cultura. E amo as cores do meu boi. Então, essa tradição já existe há 18 anos, é o tempo que moramos na Sá Peixoto”, destaca Meire.

 Questionada sobre como os torcedores azulados da rua lidam com a situação, ela prontamente responde: “Sempre existe um ou outro comentário, porém, sigo a minha afeição pelo boi Garantido, e tentamos conviver fraternalmente, afinal, temos que ter empatia e respeitar o outro”. 

O seu esposo, Keiser, nasceu em uma família tradicionalmente ‘caprichosa’. No entanto, ao acompanhar uma festa do Garantido, ele decidiu trocar as cores. “Eu tomei um gosto pelo azul devido a minha mãe ser Caprichoso. Mas, um dia, eu assisti uma passeata do Garantido – da derrota – e achei muito interessante. Foi nesse momento que eu decidi que seria torcedor do Garantido, mesmo morando no tradicional reduto do Caprichoso”, recorda.

“Esse ano, aproveitando que ‘Boi de Rua’ tava concentrado aqui, pensei: nada mais justo que colocar a minha bandeira e me posicionar como garantido, porque é isso que eu sou. A partir do momento que eu me assumo Garantido, vou morrer garantido”, acrescenta.

A única encarnada 

O casal Luzinete Vasconcelos, 45, e Aderaldo Jr., 63, tinham muito em comum… Até descobrirem para quais bois ambos torciam. Luzinete, torcedora ferrenha do boi Garantido; Aderaldo, do boi Caprichoso. E o filhos, frutos dessa união, escolheram seguir o mesmo caminho do pai. 

A família mora no bairro Palmares. O Curral Zeca Xibelão, do boi Caprichoso, fica bem próximo à residência. Para Luzinete, é muito curioso e soa até contraditório ser torcedora encarnada e morar em reduto azulado, mas hoje já lida melhor com a situação.

Moradora do bairro Palmares, reduto do Caprichoso em Parintins, Nete é torcedora de carteirinha do bumbá Garantido, mas tem o marido e os filhos do lado azul da torcida. (Foto: Daniel Brandão/A Crítica)

“Eu ia muito no curral do Garantido, e lembro que também frequentava o do boi contrário, mas eu gosto tanto do Garantido, que não tem jeito, aquele sangue vermelho ficou em mim. E, não importa, vou continuar morando em reduto contrário, mas nunca vou deixar de ser Garantido. É um amor inexplicável. E o bom é que, apesar da rivalidade, os vizinhos respeitam bem”, declara.

Da Francesa ao São Benedito

 Caprichoso desde criancinha, a comerciante parintinense Inês Barros de Souza, de 61 anos, saiu do bairro Francesa, reduto tradicional do boi da estrela, para morar no lado vermelho e branco da cidade: o bairro São Benedito. O seu comércio fica bem próximo ao Curralzinho do boi Garantido.

Ainda criança, a parintinense Inês Barros de Souza, hoje com 61 anos, saiu da Francesa para morar na São Benedito, mas o amor pelo Caprichoso permanece até os dias atuais. (Foto: Paulo Bindá/A Crítica)

“Toda a minha família é Caprichoso, cresci no bairro da Francesa. Eu gostava muito, lembro que saia da escola e ia direto pro Curral do Caprichoso. Tenho saudade desses momentos”, recorda.

Inês mora há 30 anos no bairro São Benedito. No começo foi estranho, mas com o tempo a comerciante se acostumou com a ideia. Ela providenciou inclusive uma pintura na parede, em frente ao comércio, com as figuras dos bois Garantido e Caprichoso. 

 A ‘estrela’ Da Baixa do São José 

A comerciante Miriam Miranda, de 66 anos, é uma das únicas ‘caprichosas’ na rua que ela mora, situada na Baixa do São José. Por lá, nem os filhos dela vestem azul e branco, os três torcem para o Garantido. “Vou fazer o que, né?”, lamenta. 

Miriam Miranda, 66 anos, torce para o Caprichoso desde sempre e mora próximo ao curralzinho do Garantido há 30 anos. (Foto: Paulo Bindá/A Crítica)

“Eu nasci na [rua] Gomes de Castro, reduto do Caprichoso, mas já moro aqui há 30 anos. E eu amo o povo da Baixa. Vou ter raiva? Nunca, jamais! Além do mais, aqui todo mundo me respeita. As vezes rola uma ‘brincadeira’ quando eu coloco uma toada azulada bem alta, principalmente quando o meu boi ganha (risos), mas, no geral, as pessoas respeitam. A gente aprendeu a conviver”, conclui.

Foto:Paulo Bindá/A Crítica e Daniel Brandão/*A Crítica

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