A ameaça de um conflito armado na Europa tem impulsionado uma nova onda de sobrevivencialismo na Espanha. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, a construção de bunkers privados no país cresceu 200%, segundo dados de empresas do setor. A tendência acompanha um movimento mais amplo que atinge também países como Alemanha, França e especialmente os Bálticos, considerados os mais bem preparados para emergências em termos de infraestrutura civil.
Na Espanha, o receio de guerra levou famílias a investirem em abrigos de alta segurança. Um deles, mostrado pela Euronews, conta com paredes de concreto e aço, portas blindadas, chuveiros antirradiação e reserva de 1.000 litros de água potável.
Construído pela empresa VIP Bunker, o espaço é descrito pelo gerente da obra, Fernando Díaz, como um “apartamento fortificado, onde é possível viver por meses”. O custo, no entanto, é alto: em média, € 150 mil (R$ 1 milhão) para a construção básica. O valor pode chegar a € 350 (R$ 2,3 milhões) em modelos de luxo.
Sem acesso a esses abrigos pelo alto custo, muitos cidadãos passaram a improvisar. Armazenam alimentos não perecíveis em casa e montam espaços seguros para eventuais emergências.
O temor também é reforçado por recomendações oficiais. A União Europeia tem incentivado a população a montar kits de sobrevivência para 72 horas e cobrado maior integração entre civis e forças militares.
Treinamento para o pior cenário
A mudança de comportamento é notada por especialistas. O tenente-coronel Manolo Cámara, autor do livro “Prepárate” (Prepare-se), oferece cursos de sobrevivência há anos e relata um aumento expressivo na procura. “Antes, havia pouco interesse. Com a possibilidade de uma guerra na Europa, as pessoas passaram a se preocupar”, disse à EuroNews.
Os cursos, oferecidos em várias cidades, ensinam desde acender fogueiras e encontrar água até se orientar com mapas e montar rotas de evacuação. “O item mais importante na mochila é o conhecimento. É ele que vai garantir sua sobrevivência”, afirma.
Ignacio Ortega, da Escola Espanhola de Sobrevivência, reforça a mudança no perfil dos interessados. “Antes, eram amantes da natureza. Agora, são famílias comuns com medo do futuro”, diz.
Com cerca de 2.000 alunos por ano, Ortega defende a prevenção: “A melhor sobrevivência é a que se evita. As crises urbanas são as mais difíceis, com falta de luz, comida e acesso médico”.
Risco nuclear
Com as tensões entre Rússia e Otan, cresce o temor de uma escalada para um conflito nuclear. Países como França, Finlândia, Suécia e Noruega já começaram a distribuir manuais de guerra à população. A Rússia, por sua vez, intensificou a produção de abrigos nucleares móveis.
Na Espanha, a infraestrutura pública para esse tipo de ameaça ainda é limitada. O governo elabora um Plano Nacional de Proteção Civil para riscos militares, mas o país conta com apenas quatro abrigos nucleares públicos localizados principalmente em Madri.
Túneis de metrô poderiam ser usados em caso extremo, mas não oferecem proteção total contra radiação.
Atualmente, estima-se que existam cerca de 400 bunkers privados no território espanhol, número muito inferior ao registrado em países como Alemanha e França.
De acordo com especialistas, um bunker eficiente precisa estar a pelo menos 10 metros de profundidade, ter estrutura reforçada, filtragem de ar e água, além de portas resistentes. Em caso de ameaça nuclear, o abrigo deve contar ainda com revestimento de aço.
*R7/Foto:Reprodução/Bunker Vip