Sexta, 23 de julho, 2021
“Não sei por qual motivo ainda escrevo. Parece tão inútil. Não teve um dia sequer que eu não tenha vindo aqui escrever ao menos uma palavra. Mas hoje não. Hoje eu só estou exausta. De tudo, na verdade. Nada de novo acontece, eu não tenho mais com quem conversar, perdi meu grande amor. Estou no 513º dia vivendo nesta pandemia que em teoria e, principalmente na prática, parece não ter fim. Sim, estou contando, mas você já sabe disso, “querido” diário. Não aguento mais. Preciso de algo novo. Nem que seja só por hoje. Nem que seja por uma noite”.
________________
Hoje o sol resolveu nascer do jeitinho que deve ser: radiante. Levantei, somente pra abrir a janela do quarto, contemplar esse dia lindo e retornei à cama, onde acabei de escrever em meu diário. Eu tenho essa “mania” de escrever há dois anos, foi a forma que encontrei de “conversar”, de expor meus sentimentos e de fazer uma análise dos meus dias. Eu só não imaginava que chegaríamos até aqui, em tantos dias. O Pedro me presenteou com o diário. Ele disse que iria ser bom pra mim, que me ajudaria a colocar meus sentimentos pra fora e me fez prometer não deixar de escrever nem um dia. Conhecia Pedro desde os meus 13 anos. Éramos inseparáveis, fazíamos tudo que podíamos juntos. Na escola éramos conhecidos como “unha e carne”, e foi assim por pelo menos 11 anos. Não demorou muito para percebermos que a nossa amizade tinha se transformado no sentimento mais puro, lindo e mágico que imaginei experimentar. Eu e Pedro compreendemos que não podíamos ser apenas amigos quando tínhamos 15 anos sendo assim até seus últimos dias. Pedro teve que partir mais cedo do que prevíamos. Tivemos nossos sonhos interrompidos por uma bomba que nunca, nem nos pesadelos mais distantes pensaríamos viver. Planejávamos viagens, aventuras, ter o nosso tão sonhado apartamento, nosso livro publicado… Eram muitos sonhos que, infelizmente, foram interrompidos há 2 anos atrás. Pedro descobriu uma doença rara e degenerativa. As coisas ficaram horríveis. Eu sabia que não o teria por muito tempo e aquilo tirou meu chão. Poucos dias da sua partida, ele olhou bem nos meus olhos e ali tivemos a conversa mais marcante e importante da minha vida. Ele me disse que eu era o grande amor da sua vida, que nunca imaginou viver um sentimento como o nosso e que nesses onze anos ao meu lado, ele aprendeu muito e foi mais feliz do que imaginaria ser. Ele me disse que essa vida tinha valido muito a pena por me ter ao seu lado. Eu não conseguia falar nada porque lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ele pedia pra eu ser forte e corajosa, como aquela menininha destemida que ele conheceu aos 13 anos. Mas o que ele não sabia é que essa menina sumiu, não existe mais. O que resta são cacos. São fragmentos do que a partida dele causou em mim. Ele concluiu me entregando cinco diários e disse pra eu escrever neles todos os dias. Quatro dias se passaram até que ele me deixou. – um nó se forma em minha garganta neste momento.
Este apartamento tem sido meu esconderijo nos últimos anos. Com a chegada da pandemia eu “uni” o “útil ao agradável”, já que eu quase não saía. A minha rotina se resumia em: sair às 8h para a agência literária no qual tinha que comparecer apenas três vezes por semana e nos outros dias conseguia trabalhar de casa. Devido a situação atual, preciso ir na agência somente uma vez por semana. O resto dos dias eu fico isolada neste lugar. Não tenho vontade de nada, apenas de passar meu tempo aqui, sozinha e solitária. Na vulnerabilidade ao qual convivo desde a partida do Pê.
Mas não hoje. Hoje está diferente. Estou cansada disso. Eu estou realmente cansada de toda essa situação e de não fazer nada para mudar. Lembrei das últimas palavras do Pedro:
– Linda, olha pra mim. Você é tão rara e única… – uma pausa se fez – prometa pra mim que mostrará o que eu vejo para outra pessoa que com certeza irá merecer viver o que eu vivi. Prometa pra mim, linda. Você merecer ser amada, ser feliz e viver cada dia da sua vida como se fosse o último. Porque a vida é rara, meu amor.
Eu chorei tanto naquele dia. Eu não queria prometer nada do que eu não poderia cumprir. Mas eu cedi e concordei que deixaria outra pessoa se aproximar de mim. Eu menti pra ele naquele dia. Como ele pôde imaginar que eu viveria algo com outra pessoa depois de ter experimentado o amor com ele? Seria impossível.
Mas hoje eu acordei nesse dia tão lindo e pela primeira vez concordei que eu precisava me dar uma chance. Eu precisava experimentar a vida lá fora. Então eu tomei um banho, coloquei uma roupa quentinha – vocês moram em SP? Porque por mais que esteja um sol lindo, a temperatura está daquele jeitinho “essipê” de ser – e resolvi ir até a biblioteca. Nossa! Quanto tempo faz que não vou lá, é um dos meus lugares favoritos pra escrever. Na verdade, faz tanto tempo de tudo, ne Hanna? Meu cérebro me lembra.
Chego até a biblioteca, escolho uma mesinha confortável e bum, estou me sentindo… viva. Abro meu notebook, pego uma xicara de café e começo escrever para a minha coluna. Não sei se contei pra vocês, mas sou escritora da coluna “Romances Urbanos”, onde eu escrevo histórias sobre casais “da vida real”, o que é uma tremenda hipocrisia, porque nem de longe dou abertura ou imagino viver uma história de amor mais uma vez.
Estava escrevendo há pelo menos duas horas quando noto um rapaz do outro lado em uma mesa lendo e me olhando com um sorriso plantado no rosto e uma covinha radiante. Eu absolutamente amo covinhas. Embora eu o tenha olhado e retribuído o sorrio, não dei grandes aberturas. Em poucos instantes ele já estava na minha frente, olhando bem nos meus olhos, algo me diz que ele me conhecia ou poderia ler meus pensamentos. Sei lá, algo nele parecia diferente. Até que finalmente ele abre a boca e fala:
– Hanna? É você mesmo?
O que? Ele me conhece? Como assim? Eu tento olhar bem nos seus olhos, algo me diz que eu também o conheço, mas não consigo recordar. E ele continua:
– Desculpa, não sei se você consegue lembrar de mim. Sou o Lucca, da escola de música, lembra? – eu pareço mais confusa, mas ele continua. – Aula de violão, na Suzuki… – frustração estampava em seu rosto por eu não lembrar. Mas eu lembrei, sim.
– Ahhh, oi! Sim, eu mesma e sim, agora eu lembrei. Nossa, fazem quantos anos, 16? – eu tinha apenas 10 anos quando fazia aulas de violão, era meu instrumento favorito. Ainda é, mas desde que Pedro se foi não toquei mais.
Ele respondeu: – Faz realmente muito tempo! Mas não foi difícil te reconhecer, Hanna. – um brilho invadiu seus olhos enquanto ele falava. – Você continua com os mesmos olhos, cheio de entusiasmo quando escreve. Só que agora tem algo diferente em você. Eu lembro exatamente do seu olhar, era o verde mais mágico e profundo, o que encantava qualquer pessoa ao seu redor. – eu coro nesse momento, mas ele continua – Só que agora parece ter tristeza e dor. Você está bem?
Meus olhos se enchem de lagrimas quando ele me faz essa pergunta. Faz tempo que alguém se importa em realmente saber como eu estou. Eu nunca fui de muitos amigos, porque sempre tive o Pedro comigo. Mas as poucas “amigas” que eu tinha, me abandonaram, ou talvez eu tenha as afastado da minha vida. Eu me fechei para tudo e para todos. Só o meu mundo era suficiente pra minha dor. Eu não precisava de pessoas se afundando no poço junto comigo, seria egoísmo da minha parte. Afastei até mesmo a minha família. Estou completamente só. Eu, minhas dores e meu diário. Mas eu respondo a ele:
– Tudo bem… muitas coisas aconteceram. Mas estou tentando fazer que este dia seja diferente. – dor preenche meu coração. A quem estou tentando enganar? Eu realmente quero que esse dia seja diferente? Eu sei que não o convenci com a minha resposta, porque ele fala:
– Muitas coisas difíceis acontecem com todos ao nosso redor, Hanna. Veja como está a nossa “nova realidade”, totalmente um caos. Ainda assim, há luz e esperança para todos. – suas palavras atingem um lugar novo dentro de mim, como se de alguma forma, fizesse sentido o que ele acabara de me falar. E ele então continua: – Que bom que você deseja que este dia seja diferente e que bom que está tentando, isso é um grande começo.
– Obrigada, Lucca. De verdade, eu precisava mesmo ouvir isso. – não menti, suas palavras entraram com força no meu coração e eu realmente decidi que queria isso. Eu queria um dia diferente, algo que eu não tenho me permitido há dois anos. Pedro me comparava a uma borboleta, porque eu amava a liberdade, a vida. Amava voar em direção aos meus sonhos. Mas ultimamente sou uma borboleta dentro de um pote de vidro. Presa. Com asas, mas sem voo.
– De nada – ele agradece. – Foi bom te ver novamente, Hanna. Espero que possamos nos reencontrar outro dia, tomar um café, quem sabe. – ele mal percebe que eu já estou fazendo isso, sério, tem uma xicara na minha mesa. E ele percebe isso porque fala: – Em outro lugar e em outro momento também – ele ri, sua risada é contagiante e suas covinhas são como uma partitura linda para ser tocada.
– Ah, que legal. Obrigada. Até mais, Lucca. – uma leve frustração se forma em seu rosto, algo que eu não consigo entender muito, mas então ele segue. Estou incomodada, algo mudou em mim, porque em questão de segundos estou tentada a pedir pra gente sair e tomar esse café agora. Eu com certeza não estou normal, porque rapidamente pego minhas coisas e levanto em direção a ele.
– Lucca! – grito.
Ele olha pra trás com um olhar surpreso e então para de caminhar e me espera aproximar.
– Hoje… É… Podemos tomar esse café, hoje? – eu pergunto ainda assustada com as palavras que acabara de sair da minha boca. Um certo nervosismo estava dentro de mim, mas então ele responde, quebrando totalmente a minha tensão.
– Claro, Hanna. Eu realmente adoraria. Mas você tem certeza que quer?
– Sim, com certeza.
Como eu fui de metrô, Lucca se ofereceu para nos levar em seu carro, onde conversamos sobre as antigas aulas de violão e curiosidades sobre as nossas vidas. Eu não abri nada muito pessoal da minha vida, apenas informações superficiais, enquanto Lucca contou tudo que a vida dele se transformou. Ele atualmente é músico em uma banda de folk pop, solteiro desde seus 23 anos e mora sozinho em um apê.
Então seguimos até a Kopenhagen, onde entramos e pegamos uma mesa. Passamos algumas horas naquele lugar rindo, falando sobre a vida e sobre a minha profissão de escritora. Eu amo escrever, é minha paixão desde sempre. Escrever e tocar violão era o que me representava, era onde eu conseguia me expressar, viver minha liberdade… voar. Percebendo que de repente meu olhar ficou triste, Lucca fala:
– Por que olhos tão tristes, Hanna? Eu sei que algo aconteceu, algo mudou em você. Seus olhos sempre expressavam um mundo lindo, onde parecia que só você conseguia enxergar. Eu olhava pra você naquelas aulas e eu sabia exatamente que eu queria que esses olhos fossem os mesmos dos meus, eu sempre quis ter seus olhos alegres e radiantes, mas eu era tão triste e sombrio. – ele faz uma breve pausa. – Mas quando eu olhava pra você, eu sentia vida em mim. Me dava vontade de viver. Eu era criança, Hanna, mas eu já tinha tantos medos e traumas. Mas olhar você era o que fazia eu me sentir… vivo.
Fui pega de surpresa com o que saiu da boca de Lucca. Fiquei realmente sem reação. Eu era motivo de alegria pra ele, eu o fazia bem, eu o fazia enxergar a vida de uma outra maneira… nossa! Isso foi tão bom de ouvir, mas me doeu o coração imaginar que já fiz pessoas serem felizes e hoje me encontro desse jeito: despedaçada. As situações da vida me arruinaram e tudo que eu queria hoje era encontrar aquela Hanna que Lucca acabou de mencionar. Ela ainda existe?
Ele entendeu que eu estava confusa e continuou:
– Hanna, por favor… me diz o que mudou pra você. O que aconteceu?
E foi ali que eu desmoronei. Eu chorei aquela lagrima que estava presa, que eu não conseguia mais compartilhar com ninguém porque eu afastei todos da minha vida após a morte de Pedro. Eu contei a minha história pra ele. A minha triste e vulnerável história. E ele apenas me ouvia. Seu olhar era de compreensão e não de julgamento ou pena. Eu sei que ele conseguia sentir a minha dor porque seus olhos expressavam… amor? Não sei, por um momento fiquei confusa. Mas ele continuou ouvindo cada detalhe sobre mim e sobre o caco que me tornei. Lucca foi o melhor ouvinte que eu tive em anos. Só o Pedro me ouvia e me compreendia dessa forma. E agora Lucca.
– E é assim que eu tenho vivido os últimos dois anos. – falei a ele. Sem muito esforço, ele me olhou nos olhos e disse:
– Pedro foi um homem de sorte e com certeza deveria ser incrível para merecer você. – confusão e ao mesmo tempo emoção preenche meu coração. Ele continua: – Hanna, partidas são difíceis em todas as esferas. Eu não posso imaginar a sua dor, mas eu tenho certeza que ele não queria vê-la da forma que está… Ele a enxergava como uma menina destemida, aventureira e cheia de sonhos, de magia. Eu sei disso porque era assim que eu enxergava você. – uma pausa e ele continuou – Quando você deixou de fazer as aulas, eu sentia tanto a sua falta, eu sei que mal nos falávamos, mas eu senti muito a sua falta, a falta dos seus olhos radiantes. E hoje, ainda que na sua frente, continuo sentindo a falta daquele olhar mágico. Você ainda é capaz de ser aquela garota, Hanna. Você ainda pode viver. Não é proibido, não é crime. Você precisa viver. Coloque as lembranças no coração, mude o brilho dos olhos e se permita ser feliz novamente.
Eu não sei o que dizer, estou perplexa e ao mesmo tempo preenchida com as palavras que saíram de sua boca. Foi bom o suficiente para me fazer pensar em tudo que me tornei, na vida que tenho levado e na tristeza que tenho cultivado. Pedro não gostaria de me ver assim, eu sei disso porque ele amava quem eu era e hoje eu não sou nada daquilo. Lembrei dos últimos pedidos de Pedro para que eu me permitisse ser amada e feliz novamente. Me recupero dos pensamentos e digo:
– Muito obrigada por essas palavras, Lucca. Você não faz ideia do quanto eu precisava ouvir cada sílaba que saiu da sua boca. Há muito tempo tenho reprimido cada sentimento, não toco mais, mal sorrio, não sinto sequer vontade de levantar da cama, a não ser pra trabalhar. Mas não hoje. Eu me permiti ser feliz hoje e reencontrar você foi um enorme presente.
Um sorriso se abre no rosto lindo de Lucca. Não lembrava o quanto ele era bonito e cheio de compaixão em seus olhos castanhos, seu cabelo era uma mistura de loiro/ruivo ondulado, bem difícil de definir. Sua barba bem construída em seu rosto, pelos claros, leves sardas na maçã do rosto… ele era realmente lindo, como anjo.
– Posso te levar a um lugar? – ele pergunta.
– Sim… pode sim. – embora tenha ficado com uma leve dúvida, me permiti. Afinal, esse era o desejo pra hoje, ne? Viver algo novo, nem que fosse por um dia, uma noite…
De repente estamos seguindo no carro, já está anoitecendo, ele coloca uma música calma, que transmite paz. Coisa que eu não sei o que é há bastante tempo. Olho pela janela e percebo que estamos na estrada, mas não faço questão de perguntar onde estamos indo, por um momento estou me permitindo ser totalmente “conduzida”. Finalmente chegamos a uma pequena montanha que podemos contemplar uma vista maravilhosa. Sol se pondo, luzes acendendo. Nossa, é lindo. Eu precisava disso.
Sentamos e permanecemos por um tempo ali, até que percebo que Lucca está focado em mim. Seus olhos literalmente estão presos em mim, o que faz eu me virar pra ele e perguntar:
– Tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Você está me olhando… diferente.
– Tá tudo mais que bem, Hanna. Reencontrar você é uma surpresa deliciosa que a vida me proporcionou. É como se o tempo não tivesse passado, como se aquele sentimento se mantivesse vivo de novo… – de repente ele fica nervoso com o que acabou de falar, mas então continua: – O sentimento que eu tive por você, mas que nunca foi me permitido viver. Eu amei tanto você, Hanna. Eu amei por anos. Eu pensava em seus olhos todos os dias. Eu pensava naquela garotinha tocando cada nota, cada acorde em seu violão branco com adesivos de borboleta. – meu mundo parou. Ele lembrou do meu violão? Eu o tenho até hoje, mas ele está cheio de poeira e abandonado. E ele continuou falando: – Mas você tinha ido, eu não tinha contato com você, eu não tinha nenhuma notícia sobre você. Eu tentei. Deus, como tentei. Quando eu tinha 17 anos ainda pensava em você, então resolvi pesquisar seu Instagram. Depois de muitas Hannas, finalmente achei você. Seus olhos lindos naquela foto de perfil. Não tinha como não reconhecer. Ali estava você. Linda e radiante. Mas então eu vi suas fotos e vi que aquele olhar tinha encontrado um lar. Vi você e seu namorado. Lindos e felizes. Tudo que eu queria viver um dia. Me culpei por meses por não ter te procurando antes, mas aí eu entendi que as coisas acontecem como devem ser, no tempo certo. E aquele não era o nosso tempo… – ele parece exausto depois de desabafar.
Socorro, meu mundo literalmente parou. Estou enjoada, meu estomago está revirado, estou sem chão, ser ar. O que ele me disse agora fez tanto sentido, eu lembrei da forma que ele me olhava quando éramos apenas crianças. Agora eu percebo que ele tinha sentimento por mim. Que boba! Mas não sei como reagir. Estou realmente sem saber o que fazer. Embora com uma pontinha de alegria no meu estomago, o que não sinto há bastante tempo.
Eu finalmente toco em seu rosto, tentando entender o que eu fiz pra esse homem lindo expressar esse sentimento por mim. Passo meus dedos em suas sardas, toco sua sobrancelha clara e desço para sua barba… Ele fecha os olhos quando meu toque pousa próximo às covinhas.
– Lucca, eu não imaginava isso. Sinto muito. Eu estou quebrada, destruída, nunca imaginaria nada disso. Muito menos reencontrar você. Me sinto grata, serio, me sinto muito especial por você ter nutrido esse sentimento por mim. Obrigada por tudo isso. Por hoje. Obrigada. Mesmo.
Ele olha nos meus olhos e vejo necessidade em seu rosto, se aproxima ainda mais de mim e toca em uma mecha do meu cabelo. Seu toque é leve, sutil e delicado. Ao colocar essa mecha para trás, ele encosta sua testa na minha e meu coração dispara. Meu chão some. Sua respiração é ligeira e intensa, eu quase consigo sentir… paixão. Nos olhamos fixamente nos olhos e então, com muita calma e delicadeza, Lucca encosta seus lábios nos meus. Eu não lembrava qual era a sensação. Eu não lembrava de nada disso depois do Pedro. Lucca me surpreendeu, surpreendeu meu dia. Nos beijamos ali, naquela pequena montanha. Ao se afastar, Lucca parece assustado quando diz:
– Me desculpa, Hanna. Por favor. Eu queria muito fazer isso desde que vi você naquela biblioteca. Na verdade, eu quis isso desde os 10 anos. Mas me desculpa por forçar a barra. – não, ele não forçou, eu com certeza permiti tudo isso, então eu respondi:
– Não precisa se desculpar, Lucca. Eu quis. É… eu quero. – então ele toca em meu rosto e nos beijamos novamente. Nossos beijos ganham ritmo e velocidade, nossas mãos percorrem por nossos corpos e me encontro perdida ali, naqueles braços, naquele pescoço, naquela boca linda… nele. Suas mãos estão nas minhas costas e de repente estamos no melhor ritmo de anos. Ele se afasta de mim, nossos olhos demonstram desejo, então ele fala:
– Você tem certeza disso? – ele pergunta com preocupação.
– Eu tenho cem por cento de certeza disso, Lucca.
E é então que nossos corpos se encontram novamente e ele levanta minha blusa, passa suas mãos sobre minha pele e cada toque dele causam arrepios no meu corpo e na minha alma. Ele estava deixando a marca dele em mim naquela noite. Beijo seu pescoço e intensificamos nossa respiração, levanto sua camisa e percorro um caminho de caricias e beijos em seu corpo, até que finalmente estamos apenas com as roupas de baixo. Em uma montanha. Louco, né? Mas eu queria algo novo. Eu queria viver aquilo. E viver isso com o Lucca é tão especial, raro e único.
Ele beija todo meu corpo, proporcionando a minha pele exatamente o que ela está necessitando. Quando percebo, Lucca está colocando seu peso em cima de mim, me preenchendo de prazer, fazendo eu me sentir… especial. Ficamos ali por horas fazendo amor, conversando e compartilhando nossos sentimentos.
Lucca foi a minha surpresa neste dia. Foi a minha chance de recomeço. Eu consegui enxergar nele esperança e vida. Desta vez não foram meus olhos que o fizeram bem, foi ele que me fez enxergar que eu precisava disso. Eu precisava dar uma chance pra mim. Eu precisava me reencontrar e reencontrar ele.
_______________
Sábado, 24 de julho de 2021
“Reencontrei o Lucca. Foi tão bom, tão especial. Só por hoje eu me permiti ser feliz de novo. Eu me permiti… viver. Ah, querido diário, só por hoje eu decidi dar uma nova chance pra mim. Mas confesso uma coisa: eu quero mais. Eu mereço mais. Pedro sempre me dizia que eu era a menina mais especial que ele já tinha conhecido, que eu precisava ser feliz, que eu deveria ser amada e eu deveria viver cada momento da minha vida como se fosse o último, porque a vida é rara. Eu resolvi, diário, eu resolvi viver isso. Não apenas por hoje. Não apenas por uma noite”.
Naquela madrugada eu peguei meu velho violão e fiz uma música. Eu me senti livre de novo, cheia de vida, renovada. Me senti como não me sentia há anos. Eu era novamente uma borboleta livre para viver novas, doces e gostosas aventuras. Com o Lucca, talvez? Com certeza, que sim.
♥♥♥
Escrevi esse conto com o coração cheio de amor e lagrimas se formaram em meus olhos a cada palavra digitada. Espero, do fundo do meu aquecido coração, que toque você se alguma forma. Eu sei que perdas, dores, traumas e situações difíceis acontecem com qualquer pessoa, mas desejo que você consiga encontrar a felicidade novamente, alguém ou algo que te preencha, que te encha de entusiasmo e alegria. Você merece isso. Merecemos!
Beijos da seria 🧜♀️
Luna de Adelaide.
Link playlist: https://open.spotify.com/playlist/6Djmi7fpIutK9c3U5pUM3H?si=5a5b1411dc734a6a
😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭
Que lindoooo 😭
Eu tô emocionada com essa história. Eu lembrei de quando eu tinha um melhor amigo mas que infelizmente perdemos contato. Sinto falta disso… Obrigado por isso 😓
Amo, os detalhes desse conto. É como se eu estivesse vendo um filme romântico, daqueles que marcam época.
Uma história muito emocionante mesmo
aaaaaa ♥♥♥♥