A moeda americana alcançou os R$ 5,9056 na cotação máxima do dia, por volta de 13h50. Segundo analistas, a esticada da valorização, de 1,6%, aconteceu diante da notícia de que o anúncio do corte de gastos, programado para a noite desta quarta-feira, vai incluir a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil reais, proposta de campanha de Lula.
— O custo dessa medida é suficiente para praticamente anular a economia com o pacote, na visão do mercado — diz Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset.
Caso a moeda feche neste patamar, irá ultrapassar a máxima nominal histórica para o dólar. O atual recorde foi registrado em maio de 2020 — no auge da pandemia da Covid-19 —, quando a moeda americana fechou a R$ 5,9007.
Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a divulgação da isenção de IR é um contraponto num momento em que os investidores aguardam por um corte:
— É um anúncio bastante ruim. Vem um anúncio justamente o contrário (do esperado corte), com redução de arrecadação. A alta do dólar ela está respondendo muito a essa questão que ainda não se sabe se vai ser efetivada.
Frente as moedas mais líquidas, o real era a segunda que mais desvalorizava frente o dólar, perdendo apenas para o rublo russo, que caía 6,9% por volta de 14h.
Patamar elevado
A moeda americana opera acima dos R$ 5 desde o fim de março. Em abril, o governo revisou o arcabouço fiscal, permitindo que, em 2025, a diferença entre o que o governo arrecada e o que gasta, exceto os juros da dívida, fiquem no zero a zero. Antes, era esperado um superávit de 0,25% do PIB.
Analistas apontam que medidas factíveis para o controle dos gastos públicos são fundamentais para combater a relação da dívida sobre o PIB. Em julho, o governo anunciou um congelamento de R$ 15 bilhões para tentar frear o avanço dos gastos públicos e atingir a meta zero de déficit, estabelecida pelo arcabouço.
Para Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, as medidas a serem anunciadas para combater o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias precisa alcançar “um ajuste de pelo menos R$ 40 bilhões para 2025”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão para explicar o pacote de corte de gastos do governo federal às 20h30 desta quarta-feira. Segundo ofício de convocação de rede nacional da Secretaria de Comunicação Social (Secom), o pronunciamento terá 7 minutos e 18 segundos de duração. O tema é “Brasil mais forte: governo eficiente, país justo”, segundo peça de divulgação distribuída pelo Ministério da Fazenda.
Antes disso, às 17h30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para apresentar as medidas.
Fonte: O Globo/Foto: Bloomberg Creative Photos