Economistas: inflação dá fôlego, mas Copom deve ter cautela com juros

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A inflação desacelerou em maio e deu sinais de queda. É nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta semana para definir a taxa básica de juros, a Selic, que ficará vigente pelos próximos 45 dias.

A reunião do colegiado está prevista para terça-feira (17/6) e quarta-feira (18/6). As expectativas do mercado financeiro estão divididas entre manutenção da taxa em 14,75% ao ano e elevação de 0,25 ponto percentual.

O BC, por sua vez, não indicou qual seria o “guidance” — orientação sobre a política monetária futura, no jargão do mercado financeiro. Na ata da última reunião, o Copom avaliou que o cenário de elevada incerteza “demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade” para controlar o avanço da inflação.

Em declarações recentes, o presidente Gabriel Galípolo não deu pistas e até brincou sobre as especulações em torno da reunião do comitê. “Sosseguem, por favor, todos os observadores do Copom”, disse Galípolo durante o silêncio do Copom, período em que a diretoria do BC não pode dar declarações públicas relacionadas às decisões da taxa Selic.

Especialistas dizem que os dados da economia brasileira não foram assertivos o suficiente para tirar da mesa a possibilidade de alta. Embora tenha arrefecido, a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 5,32%, bem acima da meta, que é de 4,5% neste ano. Devido a esse cenário, os analistas entendem que o Copom precisa adotar cautela e adia um eventual corte de juros.

Entenda a situação dos juros no Brasil

  • A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação.
  • Ao aumentar os juros, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país.
  • Dessa forma, o crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para consumidores e produtores. A inflação dos alimentos tem sido a pedra no sapato do presidente Lula (PT).
  • São esperadas novas altas nos juros ainda no primeiro trimestre, com taxa Selic próxima a 15% ao ano.
  • Projeções mostram que o mercado financeiro não acredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Galípolo à frente do BC.

O que dizem os especialistas

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, prevê que o Copom deve terminar o ciclo de altas dos juros e manter a taxa em 14,75% na reunião desta semana. Ela diz que os dados de atividade continuam indicando uma certa desaceleração da economia.

Isso porque, conforme os dados mais recentes, referentes a abril, o varejo registrou queda de 0,4%, os serviços subiram apenas 0,2% e a produção industrial ficou próxima à estabilidade, com alta de 0,1%.

Os dados dialogam com a análise feita pela diretoria do BC na ata do Copom de maio. No texto, o comitê afirmou que a política monetária contracionista “tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação do crescimento” da atividade econômica.

Vitoria avalia que: “Juntamente com o dado mais ameno do IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo] de maio e o cenário de dólar mais fraco, o BC pode pausar já na próxima reunião, dando o ciclo de aperto como encerrado”.

“A inflação ainda está bem acima da meta e expectativas demoram para ajustar, mesmo com a política monetária restritiva e o câmbio mais favorável. Nesse cenário, o BC deve manter o tom hawkish (mais agressivo) e afastar uma discussão precipitada sobre queda de juros”, acrescenta a economista.

Pedro Vartanian Raffy, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, entende que a tendência é de encerramento do ciclo de aperto monetário, mas o dinamismo da economia pode implicar em uma mudança de expectativas.

Segundo Raffy, os indicadores econômicos sinalizam para o fim do aumento dos juros e a manutenção da taxa Selic no atual patamar “por um período razoavelmente prolongado até que a inflação apresente algum tipo de convergência em relação à meta”.

Política monetária do BC

Pedro Ros, CEO da Referência Capital, frisa que a política monetária mais restritiva “vem surtindo efeito”, com destaque para a redução nos preços de alimentos e saúde — itens que contribuíram para a desaceleração da inflação em maio.

“É importante destacar que a inflação acumulada em 12 meses ainda está bem acima do teto da meta. Isso significa que, apesar da melhora, o cenário ainda não é o ideal e exige cautela do Banco Central. A tendência é que o Copom mantenha a Selic em 14,75% por enquanto, até que se consolide uma trajetória mais clara de convergência da inflação para a meta”, pondera.

Leonardo Roesler, especialista em direito empresarial e sócio do RCA Advogados, observa que o arrefecimento dos preços justifica a interrupção das elevações dos juros, mas não respalda de imediato um ciclo amplo de flexibilização.

Roesler destaca que o BC tem “legitimidade para manter a taxa real em terreno contracionista enquanto as expectativas não convergem de forma robusta para o intervalo meta, mesmo diante de pressões políticas por afrouxamento prematuro”.

Ele ressalta que o governo federal (Legislativo e Executivo) precisa ter disciplina orçamentária no segundo semestre. “Até lá, prevalece o princípio da precaução, impondo postura restritiva ao Banco Central, sob pena de erosão da credibilidade recém conquistada e de renovada instabilidade nos prêmios de risco soberano”, completa Roesler.

Estimativas do mercado para a Selic

O mercado financeiro segue projetando que a taxa Selic feche 2025 em 14,75% ao ano. É o que dizem as estimativas presentes no relatório Focus mais recente, publicado na última segunda-feira (9/6).

As previsões para os demais anos seguem inalteradas, confira abaixo:

  • Para 2026, os analistas projetam uma Selic de 12,50% ao ano.
  • Para 2027, a previsão da taxa de juros é de 10,50% ao ano.
  • Para 2028, a estimativa continua em 10% ao ano.

Com isso, os analistas não acreditam que a taxa Selic fique abaixo de dois dígitos até o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026, e sequer do mandato de Gabriel Galípolo à frente do BC, que termina em 2028.

Fonte: Metrópoles/Foto: Breno Esaki/Metrópoles

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