Em meio a maior seca da história, trabalhador perfura poço onde antes era inundado pelo Rio Negro, no AM

Publicado em

A seca histórica que atinge o Amazonas em 2024 tem mudado o cenário e a rotina na orla do Educandos, área portuária localizada na Zona Sul de Manaus. O ponto é um dos mais afetados pela estiagem na capital amazonense e a vasta faixa de terra, onde antes havia rio, agora dá lugar a um poço improvisado por trabalhadores que sofrem com a falta de água e dificuldades para trabalhar.

Na quinta-feira (3), o nível do Rio Negro, na capital amazonense, atingiu a marca de 12,68 metros, o mais baixo nível já registrado na história.

Raimundo Filho, de 65 anos, é chefe de máquinas de embarcações e um dos afetados pelo baixo nível do Rio Negro. Durante a maior parte do ano, ele trabalha fazendo o transporte de cargas e pessoas até a orla, além de realizar a manutenção de outras embarcações.

Ele relata que neste período de seca é difícil conseguir renda no final do mês pela falta de trabalho, uma vez que o transporte que realizava está prejudicado pela pouca água, e sem embarcações navegando, não há manutenção a fazer.

“Para nós que não temos condições, afeta mais, ficamos aqui encalhados e não tem trabalho, fica difícil. Até água tá difícil. O ganho quase a gente não tem, porque não tem trabalho. Se meu barco está aqui em terra eu não estou ganhando, e também eu não tenho apoio de nada do governo”, relatou Raimundo.

 

Desde que precisou atracar o barco em terra firme, há pouco mais de dois meses, Raimundo teve a embarcação assaltada quatro vezes. Para tentar contornar o problema, se mudou com a esposa para a embarcação e precisou lidar com outra dificuldade: a falta de água para atividades do dia a dia.

O chefe de máquinas decidiu, então, perfurar um poço artesiano improvisado onde antes era tomado pelas águas do rio. O recurso tem ajudado ele e outros trabalhadores a se manter no local em meio aos desafios causados pela seca.

“Essa água é para manter um lastro de água no barco, porque ele não pode ficar seco. E também a gente usa essa água para fazer as coisas por aqui, a gente só não consome por causa da poluição que tem aqui” ressaltou.

 

Raimundo e a esposa também relatam a dificuldade de acesso à água potável. Para obter o recurso, é preciso caminhar por cerca de 1,5 quilômetros, subir dois lances de escada na orla e caminhar por mais alguns metros até a casa de uma antiga vizinha, que fornece a ele.

“Eu estava indo agora mesmo pegar água ali em cima na vizinha, eu não posso deixar o barco aqui porque eu já fui roubado quatro vezes. Tá cruel a situação aqui, esses meses todinhos aqui nessa “sequidão’ fica muito difícil, já estáafetando todo mundo”, completou Raimundo

Seca impacta também quem presta serviço para a embarcações

 

O soldador José Honório, de 68 anos, já trabalha há mais de 40 anos na Orla do Educandos realizando manutenção nas embarcações que passam pelo local, entretanto ele afirma que desde o ano passado as secas intensas do rio tem afetado negativamente seu trabalho.

“É um problema porque afeta o trabalho da gente que depende de trabalhar aqui na beira. As embarcações dependem da água para chegar aqui e com o rio seco os barcos não chegam aqui, aí fica difícil o serviço para gente”, disse José Honório

 

O soldador relatou que torce para que as chuvas aconteçam logo e que o rio suba para a vida voltar a normalidade. Ele terminou dizendo que, para não ficar totalmente sem renda, começou a a fazer serviços provisórios em outros pontos da cidade de Manaus.

“Que a água comece a subir e melhore para todo mundo, enquanto isso aparece alguns serviços por aí e a gente vai tocando, pouco, mas aparece. É a vida né” , completou o soldador

 

g1 entrou em contato com a prefeitura de Manaus e com o governo do estado para saber quais medidas estão sendo adotadas para auxiliar financeiramente os trabalhadores afetados pela seca, mas até o fechamento da matéria não houve retorno.

Decreto de emergência

 

A Prefeitura de Manaus publicou, em setembro, um decreto de situação de emergência com validade de 180 dias devido à seca severa que afeta o Rio Negro. A medida tem como objetivo implementar ações para atender às necessidades das comunidades ribeirinhas impactadas e inclui a capital na lista de municípios que devem receber recursos do Governo Federal para enfrentar a estiagem que atinge a região.

Veja como foi a descida no nível do Rio Negro nas últimas semanas:

  • ⬇️ 1 de setembro: 19,73 metros;
  • ⬇️ 10 de setembro: 17,47 metros;
  • ⬇️ 20 de setembro: 15,08 metros;
  • ⬇️ 30 de setembro: 13,19 metros;
  • ⬇️ 2 de outubro: 12,66 metros.

 

O Amazonas vive um cenário ambiental crítico devido à combinação de seca dos rios e queimadas. Segundo dados divulgados pelo governo estadual em agosto, a seca já afeta mais de 740 mil pessoas. Cidades têm dificuldades de receber insumos, há aumento no preço de produtos e comunidades indígenas e ribeirinhas podem ficar isoladadas, atualmente todos os 62 municípios estão em situação de emergência.

*G1/AM/FOTO:  Lucas Macedo/g1 Amazonas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Compartilhe

Assine Grátis!

spot_imgspot_img

Popular

Relacionandos
Artigos

João Fonseca pode igualar Sinner e Alcaraz com título do Next Gen ATP Finals: “Caminho certo”

João Fonseca está no caminho de se tornar um...

Dois pilotos da Marinha dos EUA se ejetam de caça atingido por ‘fogo amigo’ no Mar Vermelho

Dois pilotos da Marinha dos Estados Unidos precisaram se ejetar de...

Israel atinge escola e mata 17 palestinos em ataques a Gaza; hospital tem ordem de evacuação

Ataques israelenses em toda a Faixa de Gaza mataram pelo menos...