‘EUA não deveriam se preocupar’ com exercícios com navios de guerra em Cuba, diz Rússia

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Em clima de tensão que remonta à Guerra Fria, a Rússia disse que os Estados Unidos não deveriam se preocupar com os navios de guerra russos que estão em Cuba para exercícios militares.

Autoridades cubanas já haviam dito que se trata de operação entre dois países com uma amizade histórica e que “nenhuma das embarcações russas carrega armas nucleares” e que “a presença dos russos não representa ameaça para a região”. Espera-se que os navios russos permaneçam em Cuba até 17 de junho.

“Isso é uma prática normal para todos os Estados, incluindo uma grande potência marítima como a Rússia. Então, não vemos razão para preocupação neste caso”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres quando questionado sobre o suposto nervosismo americano por receio de transferência de armas russas a Cuba ou até mesmo a instalação de uma base militar na ilha.

Entretanto, os EUA ligaram o alerta porque a visita é interpretada como uma demonstração de força russa em meio às crescentes tensões entre o presidente russo, Vladimir Putin, e países do Ocidente por conta da guerra na Ucrânia.

Além de designar uma frota com três destróieres lançadores de mísseis, um navio e uma aeronave de patrulha marítima, os EUA lançaram também um submarino nuclear de ataque rápido para monitorar os navios russos, que chegou nesta quinta (13) na Baía de Guantánamo, onde o país opera uma base militar desde 1903. Os EUA interpretam que o exercício não representa uma ameaça, mas estão observando de perto, segundo o Conselheiro de Segurança, Jake Sullivan.

Perguntada sobre qual sinal Moscou estaria enviando com sua presença no Caribe, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que o Ocidente “parece surdo” a qualquer sinal diplomático de Moscou e que presta atenção apenas quando o Exército ou a Marinha russos fazem alguma coisa.

“Quando se trata de exercícios ou viagens marítimas, imediatamente ouvimos perguntas e um desejo de saber do que se tratam essas mensagens. Por que apenas os sinais relacionados ao nosso Exército e Marinha chegam ao Ocidente? Por que o Ocidente permanece completamente surdo e, em seguida, cria as campanhas mais poderosas para impedir que os sinais (diplomáticos) russos entrem em seu contexto informativo?”, afirmou Zakharova.

As tensões estão altas porque no início de maio a Ucrânia foi autorizada a utilizar armas fornecidas pelos aliados contra a Rússia, o que foi interpretado por Vladimir Putin como uma escalada séria, e ameaçou enviar armamentos a países aliados. Putin já havia dito também que poderia utilizar armas nucleares caso sentisse que a soberania do país estivesse ameaçada.

A caminho para Cuba, os navios russos realizaram exercícios militares no Oceano Atlântico, em que simularam ataques a alvos marítimos a 600 quilômetros de distância com mísseis hipersônicos, segundo o Ministério de Defesa russo.

Navios de guerra russos

A movimentação elevou as tensões entre EUA e Rússia porque dois dos navios de combate enviados são modernos e têm capacidade nuclear. A frota enviada a Cuba contém quatro navios:

  • Navio de Guerra Almirante Gorshkov;
  • Submarino nuclear Kazan;
  • Navio de reabastecimento Pashin;
  • Rebocador Nikolai Chiker.

As embarcações Gorshkov e Kazan estão equipadas com mísseis hipersônicos do tipo 3M22 Zircon, que tem alcance de 1.000 quilômetros e superam em nove vezes a velocidade do som. Eles também levam mísseis de cruzeiro Kalibr e mísseis antinavio Onyx, segundo o Ministério da Defesa russo.

Guerra fria “feelings”

A história pesa muito em Cuba, especialmente quando se trata da Rússia. Durante a Guerra Fria, entre 1947 e 1991, EUA e União Soviética (que continha a Rússia) protagonizaram uma corrida armamentista sob altas tensões.

Um dos capítulos da Guerra Fria foi a Crise dos Mísseis Cubanos, em 1962, quando a União Soviética respondeu ao lançamento americano de mísseis na Turquia enviando mísseis balísticos para Cuba, desencadeando uma queda de braço que levou o mundo à beira da guerra nuclear.

Ouvido pela Reuters, o professor William Leogrande da American University disse que o envio de navios a Cuba desta vez acontece no contexto da pior crise social e econômica de Cuba em décadas, com escassez de alimentos, remédios e combustíveis, e crescente descontentamento nas ruas.

“O movimento russo tem ecos da Guerra Fria, mas, ao contrário da primeira Guerra Fria, os cubanos são atraídos por Moscou não por afinidade ideológica, mas por necessidade econômica”, disse Leogrande.

Entretanto, o professor alertou que a visita é uma demonstração de poder russo ao governo americano. Havana está a apenas 160 quilômetros de Key West, Flórida, onde fica uma Estação Aérea Naval dos EUA. Dadas as tensões na Ucrânia, a visita russa sugere mais do que “prática padrão”, segundo Leogrande.

“A presença dos navios de guerra russos em Cuba são a forma de Putin lembrar a Biden que Moscou pode desafiar Washington em sua própria esfera de influência”, disse Leogrande.

Ainda na retórica da Guerra Fria, os EUA disseram que o envio do submarino a Guantánamo faz parte de uma “visita de porto rotineira” enquanto a embarcação viaja pela região do Comando Sul, segundo o Exército americano.

Marinha americana vai monitorar exercícios

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a relação do governo russo com os EUA piorou. Segundo autoridades americanas, é comum que navios russos naveguem pelo Oceano Atlântico, mas desde o começo da guerra essa atividade se intensificou.

Os EUA não consideram a chegada de um pequeno número de aviões e navios uma ameaça, mas a Marinha americana vai monitorar os exercícios, disse um oficial dos EUA na semana passada.

“Já vimos esse tipo de coisa antes e esperamos ver esse tipo de coisa novamente, e não vou interpretar isso como motivos particulares”, disse o Conselheiro de Segurança dos EUA, Jake Sullivan.

Sullivan disse que não havia evidências de transferência de mísseis russos para Cuba, mas que os EUA permaneceriam vigilantes.

Guerra na Ucrânia

Desde o começo da guerra, países do Ocidente deram armas para que a Ucrânia se defendesse da invasão russa.

Recentemente, houve uma mudança: os governos dos países aliados da Ucrânia permitiram que as forças ucranianas usem essas armas para atacar território russo.

Na quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que essa decisão é uma escalada séria, e que, se essas armas forem empregadas, provavelmente isso será feito com o uso de militares e sistemas dos países ocidentais.

O presidente Joe Biden, dos EUA, não autorizou a Ucrânia a usar todas as armas fornecidas pelos EUA contra território russo —os mísseis ATACMS, que têm alcance de até 300 km, não podem ser empregados contra a Rússia.

Putin afirmou que se forem usados ATACMS americanos ou mísseis Storm Shadow, do Reino Unido, Moscou vai responder de maneira mais forte. Veja o que o presidente russo afirmou:

“Nós vamos melhorar nossas defensas aéreas para destruí-los. Em segundo lugar, se alguém pensa que é possível enviar armas como essas a uma zona de guerra para atacar nosso território e criar problemas para nós, então por que nós não teríamos o direito de enviar as nossas armas de mesma classe para regiões do mundo onde ataques podem ser feitos contra instalações dos países que fazem isso contra a Rússia? A resposta pode ser assimétrica. Se virmos que esses países estão sendo atraídos para uma guerra contra a Federação Russa, nós nos damos o direito de agir de forma igual.”

Fonte: G1/Foto: Alexandre Meneghini/Reuters

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