O planeta – e especialmente a Europa – ainda se reconstruíam após a Segunda Guerra Mundial quando, em 13 de maio de 1950, 21 carros alinharam no grid do circuito de Silverstone, na Inglaterra, e deram início à primeira corrida de Fórmula 1 da história. Nesta terça-feira, a principal categoria do automobilismo mundial completa 75 anos de existência e mantém alguns princípios daquela época, mas com muitas evoluções.
De lá para cá, o objetivo básico segue sendo cruzar a linha de chegada em primeiro lugar. Apesar disso, alguns aspectos da primeira corrida da história parecem tão curiosos hoje em dia que merecem um olhar à parte.
O próprio resultado da corrida inicial já mostra algumas diferenças gritantes: a Alfa Romeo tinha quatro carros na pista (hoje, apenas dois são permitidos) e ficou com os três primeiros lugares – provavelmente, também ficaria com o quarto, mas o futuro pentacampeão Juan Manuel Fangio abandonou com problemas no carro. O melhor veículo sem ser da equipe italiana, o Talbot-Lago pilotado por Yves Giraud-Cabantous, levou duas voltas do líder.
Abaixo, o ge mostra outros cinco fatos e curiosidades daquela corrida que demonstram as diferenças da Fórmula 1 no início para a atual.
Realeza dentro e fora das pistas
A Fórmula 1 é conhecida desde sempre por ser um esporte de elite, e são raros os casos em que um piloto com menor poder aquisitivo consegue entrar na categoria – mas em 1950, isso ficava ainda mais evidente. A primeira corrida da história da F1, por exemplo, contou com um príncipe e um barão.
É isso mesmo. Birabongse Bhanudej, conhecido como Príncipe Bira, era membro da família real da Tailândia e participou da categoria até 1954 – aliás, Bira também era velejador e esteve presente em quatro edições dos Jogos Olímpicos.
Naquele 13 de maio em Silverstone, o tailandês não fez feio e largou em quinto lugar, mas abandonou a prova na volta 49 com uma pane seca. Birabongse foi o único tailandês na história da Fórmula 1 até a entrada de Alexander Albon, hoje na Williams.
Quem também participou foi Emmanuel Toulo de Graffenried, filho do barão suíço Leo de Graffenried. Toulo largou em oitavo, mas também abandonou a corrida com um problema no motor. Do lado de fora do circuito, a expectativa pelo evento era tanta que atraiu até a família real britânica: o Rei Jorge VI apareceu ao lado da Rainha Elizabeth e da princesa Margaret.
Músico de jazz em 11º
Outra presença marcante (e inusitada) na corrida foi a do belga Johnny Claes, até então conhecido por seu trabalho no jazz com a banda Johnny Claes and the Clay Pigeons. Antes trumpetista e depois líder desse conjunto, o músico decidiu largar a profissão e se aventurar pelo mundo do automobilismo.
Naquela corrida, se classificou em último a incríveis 18 segundos do pole position Giuseppe Farina – hoje, precisaria de permissão para participar da prova por estar muito atrás dos demais. Ainda assim, sobreviveu ao festival de abandonos e terminou em 11º, seis voltas atrás de “Nino”, vencedor da prova.
Ferrari fora
Quase um sinônimo de Fórmula 1, a principal escuderia da categoria e a única a participar de todas as temporadas não esteve presente na corrida de estreia. O motivo? Dinheiro. Fundador da equipe, Enzo Ferrari ficou insatisfeito com o valor oferecido para que o time italiano participasse da corrida e preferiu inscrever os pilotos em uma prova da Fórmula 2. Com isso, a equipe só estreou na corrida seguinte, em Mônaco.
Troca de pilotos no meio da corrida
Ver um piloto sair correndo para trocar de carro por algum problema antes da largada ainda era uma cena não tão bizarra no início dos anos 2000, mas e equipes trocando pilotos no meio da corrida? Saiba que isso era uma possibilidade na era inicial da Fórmula 1.
Na corrida inaugural em Silverstone, isso aconteceu duas vezes: primeiro, Peter Walker pilotou por duas voltas um carro da English Racing Automobiles (ERA), saiu do veículo e deixou Tony Rolt entrar em seu lugar. Três voltas depois, o monoposto deixou a prova após problema na caixa de câmbio.
Mais tarde na corrida, foi a vez de Joe Fry descer de sua Maserati após 45 voltas e ceder o lugar a Brian Shawe-Taylor, que completou a corrida e conduziu o veículo ao 10º lugar. Até 1957, os pilotos que fizessem isso recebiam, cada um, metade dos pontos conquistados com o carro.
Equipes privadas
Nos dias de hoje, a entrada de uma nova equipe na Fórmula 1 é uma novela: foi assim com a Cadillac, que levou mais de dois anos para ter a inscrição na F1 2026 aprovada. Naquela época, tudo era mais simples: bastava o piloto ter um carro de corrida com chassi de outra construtora e se inscrever para a prova.
A corrida inaugural em Silverstone teve algumas equipes de fábrica, como a Alfa Romeo, Maserati e Talbot-Lago, mas vários pilotos entraram na disputa desta forma, com carros personalizados. O melhor piloto independente na primeira prova da Fórmula 1 foi Bob Gerard, que terminou em sexto com um carro da ERA.
Fonte: Globo Esporte/Foto: Getty Images