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Facções disputam domínio de rios no AM para tráfico de drogas e armas

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Facções criminosas do Brasil, Peru e Colômbia disputam o controle dos rios no Amazonas para domínio do tráfico de drogas e armas. Há uma disputa intensa e coexistência de mais de duas facções ao longo das rotas do narcotráfico pelos rios Solimões, Içá, Japurá, Envira, Negro e Javari, mostra o relatório Cartografias da Violência na Amazônia, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo o relatório, ao longo desses rios convivem, e também se enfrentam, as facções brasileiras Comando Vermelho, Os Crias, Primeiro Comando da Capital, Cartel do Norte; as facções peruanas Clã-Chuquizuta, Comando de Las Fronteiras e Los Quispe-Palamino; e facções colombinas, Dissidentes da FARC – Frentes Armando Ríos, Frente Carolina Ramírez e Frente Segunda Marquetalia.

O Rio Solimões é o principal alvo. Nele também atua um grupo denominado “Piratas do Coari” ou “Piratas dos Solimões” que ataca carregamentos de drogas de facções inimigas.

Longe da fronteira, Manaus é disputada pelas facções CV, que controla a grande maioria dos bairros, FDN, CDN, e em menor quantidade o PCC. Segundo o ‘Cartografias’, a capital se tornou importante centro de exportação da droga para outros lugares do mundo devido à infraestrutura. Há porto e aeroporto que permite passagem de navios de longo curso, que viajam para outros países, e voos internacionais.

Domínio do interior

As facções agem também no interior. Os municípios mais visados são Coari, Tefé e Itacoatiara são extremamente importantes para as facções. O estudo do Fórum da Segurança identificou que o domínio dos dois primeiros garante a fluidez na rota ao longo do Rio Solimões. No caso de Itacoatiara, assim como Manaus, é um município que recebe navios que se deslocam para o exterior.

O estudo identificou também que há quatro grupos de ex-guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) concentrados no Amazonas.

Rotas no Amazonas

Mensagem vazada mostra que o CV tem a função de “recuperar rotas no Amazonas”. São e-mails do Ministério Público da Colômbia, que indicam que os grupos estrangeiros cruzam a fronteira de barco pelo Rio Vaupés e seguem pelo Rio Negro, no Amazonas.

“Verifica-se que a análise cartográfica enfatiza as rotas fluviais, aeroviárias e rodoviárias, pois são estas rotas em direção aos pontos estratégicos, as cidades, que configuram a materialização das redes criminais. Na zona setentrional (também chamada de Calha Norte), os fluxos do narcotráfico saem da Colômbia em direção ao estado do Amazonas com destaque para a cocaína e o skank conectando essa rota até a cidade de Manaus por meio de barcos ou aeronaves”, diz o relatório.

“De Manaus a rota segue para Santarém utilizando os mesmos meios de transportes, porém há também fluxos que se direcionam para o estado do Maranhão e para a região Sudeste do Brasil. Em relação a Roraima, a cocaína de origem colombiana atravessa as fronteiras pela Venezuela em direção a Boa Vista e de lá o transporte segue também para Manaus. No Amapá, não se pode deixar de destacar o fluxo que sai da Guiana e atravessa o estado em direção a Belém, como também a interação que parte de Manaus atravessando esse estado em direção à Europa”, afirma o documento.

Conforme apurou o Fórum da Segurança Pública, é possível identificar fluxos aeroviários que saem do Peru em direção a Manaus, assim como pelos rios com destaque para o Solimões. “As rotas passam pela região do Vale do Javari até o Solimões, e deste segue até o rio Amazonas para abastecer os mercados locais e chegar até a cidade de Manaus, atendendo as demandas do mercado local e estabelecendo outras conexões”, afirma.

“A zona fronteiriça Brasil-Peru faz a conexão pelo estado do Acre, onde pelas rodovias, rios e transporte aeroviário servem de passagem em direção ao estado do Amazonas e Rondônia e deste segue para as outras regiões do Brasil. A zona fronteiriça Brasil-Bolívia durante muito tempo exerceu a hegemonia dos fluxos de drogas (cocaína) que entravam em território brasileiro, contudo, vem perdendo espaço para a cocaína de origem peruana que, inclusive, despertou o interesse das facções criminosas em obter o controle do Rio Solimões, considerado a principal via de escoamento da droga”, completa.

O estado com mais apreensões de cocaína pelas polícias estaduais foi o Mato Grosso, com 14 toneladas em 2022. Apesar de ter altos níveis de apreensão ao longo do período e ser uma rota importante do tráfico, o estado do Amazonas apresentou queda significativa nas apreensões em 2022, com redução de 85% em relação a 2021. Outros dois estados que se destacam na apreensão de cocaína são Rondônia e Pará.

No monitoramento das facções no estado, o Fórum identificou que até então o controle das redes do narcotráfico na região era feito apenas pelas facções regionais e locais, destacando-se a FDN, que controlava todo o circuito do escoamento da droga colombiana e peruana, pela rota do Rio Solimões, utilizando-se de parcerias com os cartéis colombianos e facções peruanas para o êxito do negócio ilícito.

“Entretanto, a mudança de chave ocorreu em 2016, com o rompimento do pacto de paz e cooperação estabelecido entre o PCC e o CV por quase duas décadas, tendo no assassinato de Jorge Rafaat, o ‘rei da fronteira’, em Pedro Juan Caballero no Paraguai, como estopim para o início de uma guerra entre as duas maiores facções nacionais. Com o rompimento da cooperação, o Comando Vermelho se viu forçado a procurar novas rotas e estabelecer novas alianças. A Amazônia é assim apresentada enquanto uma região extremamente importante para o CV. Nesse cenário, em 2016 a FDN e o CV estabeleceram uma aliança, que permitiu o acesso da rota do Solimões à facção carioca. Através da aliança com a FDN, o CV entra no estado do Amazonas a partir de Manaus e, no Pará, ganha tração a partir da sua forte presença no sistema prisional”, diz o Górum no relatório.

Conforme o Cartografias da Violência na Amazônia, Manaus e Belém surgem como grandes hubs de articulação, distribuição e escoamento das rotas nacionais e transnacionais de drogas, já que elas possuem as maiores estruturas aeroportuárias da Amazônia Legal.

Armas

O estado do Amazonas também viu suas apreensões crescerem. Em 2018, o total entre SSP e PF era de 386, ao passo que, em 2022, o número foi de 1.220, aumento de 216%.

Foto: Divulgação/PC-AM

*Amazonas Atual

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