Flamengo e Fluminense continuarão como gestores do Maracanã até 31 de dezembro de 2024, conforme determinado após a conclusão do chamamento público promovido pela Casa Civil do Rio de Janeiro. Representantes do clube estiveram no auditório da Secretaria de Planejamento e Gestão do estado, nesta quinta-feira, e obtiveram a permissão para uso temporário do complexo, pelo prazo de um ano, enquanto a licitação para concessão não é finalizada.
O Vasco também tinha interesse de participar do edital, mas abriu mão da disputa por que as exigências que fez à Comissão de Licitação do governo do estado foram indeferidas. Na semana passada, o clube cruzmaltino apresentou um pedido de impugnação, depois de avaliar que os termos do chamamento público “impedem a participação dos parceiros privados do Vasco no processo e também inabilitam a participação do próprio clube através de exigências descabidas que apenas o atual permissionário precário consegue atender”.
A postura dos vascaínos, que precisaram recorrer à Justiça mais de um vez neste ano para mandar jogos no Maracanã, foi criticada por Flamengo e Fluminense na nota publicada para comunicar a renovação. O texto diz que os dirigentes do time de São Januário “vêm buscando criar diversas narrativas fantasiosas em ofícios e ações judiciais” e destaca como contraditório o fato de o Vasco ter desistido do edital após ter acionado o poder judiciário para que fosse realizado o chamamento público. Caso não houvesse tal intervenção, o termo de permissão de uso (TPU) seria entregue à dupla Fla-Flu sem concorrência pública, como ocorre desde abril 2019. O TPU desta quinta é o décimo concedido aos dois.
“De forma contraditória a sua conduta, o Vasco da Gama emitiu, na manhã de hoje (quinta-feira), poucos minutos antes do horário marcado para o Chamamento Público, uma nota oficial informando que não participaria do procedimento que tanto exigia, com argumentos novamente fantasiosos e desrespeitosos com o Poder Executivo e com seus concorrentes. Infelizmente, o Vasco da Gama optou por divulgar informações falsas e sensacionalistas à sua torcida, buscando criar uma comoção social, alegando ter sido cerceado de participar de uma concorrência, na qual sequer tentou se habilita”, diz a nota assinada pelos rubro-negros e tricolores.
O comunicado também afirma que o discurso do Vasco teve o objetivo de “tumultuar a permissão de uso” e de “coagir o Estado do Rio de Janeiro” a servir os interesses do clube. “A postura do Vasco da Gama demonstra que não pretende um ‘Maracanã de todos’, mas sim, um ‘Maracanã de ninguém'”, diz. Em outro trecho, destaca o compromisso de Flamengo e Fluminense em garantir o “maior número de jogos no Estádio” e não permitir que o uso seja monopolizado por outros tipos de eventos, especialmente shows, que forçam o deslocamento de partidas para outros locais.
A dupla Fla-Flu questiona, ainda, a competência técnica e a experiência do Vasco para gerir um complexo esportivo da grandeza do Maracanã, equipado com espaços como o Ginásio do Maracanãzinho. A manutenção do gramado, assunto que norteou as discussões sobre o uso do estádio nos últimos meses, é mais um ponto citado na nota. Desde o início das movimentações do Vasco para utilizar o local, os rivais da Gávea e das Laranjeiras têm argumentado que o volume de partidas é prejudicial para a qualidade do campo. Em agosto, quando o Vasco recebeu o Atlético-MG no estádio, debaixo de chuva, a lama e as poças de água foram usados como exemplos de danos.
“Nesse particular, as reiteradas investidas judiciais do Vasco da Gama para realizar jogos no Maracanã em datas consecutivas a outras partidas demonstra que aquela organização desportiva, ou não detém experiência na manutenção de gramados ou não se importa com a qualidade do espetáculo. A final da Copa Libertadores da América 2023 deu um exemplo de como é importante a preservação do gramado, o que comprova que eventuais negativas técnicas para jogar em um gramado machucado não se trata de arbítrio, mas de necessidade gerencial”, afirma o texto.
Na parte final da nota oficial, as críticas citam São Januário, estádio do clube cruzmaltino, como exemplo de má gestão. “Causa estranheza o Vasco da Gama alardear tanto interesse em gerir o Complexo Maracanã, composto pelo Estádio do Maracanã e pelo Maracanãzinho, enquanto: (i) alega que não teria sequer a capacidade técnica e experiência de gestão de ginásios; (ii) demonstra reiteradas dificuldades de administrar o seu próprio estádio; e, ainda, (iii) está na iminência de reformar o Estádio de São Januário”.
SITUAÇÃO DO VASCO
De qualquer maneira, o Vasco ainda terá condições de mandar jogos no principal estádio carioca, pois no contrato da nova concessão está designado que quem assumir a administração “não poderá bloquear” nenhum time do Rio de jogar no Maracanã. Até a publicação deste texto, o lado vascaíno não havia respondido as críticas de Fluminense e Flamengo.
Além de ainda não desistir do Maracanã, o clube terá São Januário reformado, independentemente de quem seja o novo presidente. O ídolo Pedrinho, um dos candidatos, já tem parceria com a Crefisa para a modernização do estádio, enquanto Leven Siano, seu concorrente, também tem como plano principal de administração, a reforma do estádio.
*Foto: Márcia Foletto
*Estadão Conteúdos