O Hamas libertou neste domingo as três primeiras reféns envolvidas na primeira etapa do acordo de cessar-fogo em Gaza, negociado com Israel com a ajuda de mediadores internacionais. Doron Steinbrecher, Emily Damari e Romi Gonen foram entregues por militantes do grupo terrorista a representantes Cruz Vermelha pouco após às 17h10 (12h10 em Brasília). As reféns serão entregues ao Exército de Israel ainda em território palestino, para posteriormente serem levadas ao país. Em troca, o Estado judeu irá libertar 90 prisioneiros palestinos, mulheres e menores de idade, detidos em prisões do país.
A equipe da Cruz Vermelha responsável por receber as reféns começou a se deslocar ao encontro das vítimas por volta das 15h30 (10h30). Imagens transmitidas a partir da Faixa de Gaza, repercutidas na imprensa israelense, mostraram um comboio viajando para resgatar as mulheres. A entrega dos reféns foi transmitida ao vivo pela televisão israelense, horas mais tarde, em imagens que mostraram homens armados acompanhando as mulheres.
“O Comitê Internacional da Cruz Vermelha comunicou que as três reféns israelenses foram transferidas para eles e estão a caminho das forças do IDF e ISA na Faixa de Gaza”, informou a Embaixada de Israel em Brasília, em um comunicado publicado às 12h16.
Um pouco antes, por volta das 15h, o Serviço Prisional de Israel começou a transferir os prisioneiros palestinos envolvidos na troca pelas reféns para a Prisão de Ofer, localizada ao norte de Jerusalém, de acordo com fontes ouvidas pelo jornal israelense Haaretz. Uma equipe da Cruz Vermelha foi filmada entrando no local em meio à entrega dos prisioneiros em Gaza.
Na primeira troca, 78 pessoas, entre mulheres e menores de idade, serão libertados para a Cisjordânia e 12 para Jerusalém Oriental. Todos serão submetidos a exames médicos e verificações de identidade no complexo prisional, antes de serem transferido para a Cruz Vermelha (os que vão para a Cisjordânia) e para a Polícia de Israel (os que serão soltos em Jerusalém).
A confirmação da libertação dos reféns foi comemorada aos gritos por uma multidão reunida na Praça dos Reféns, em Tel Aviv. A transferência das reféns da guarda dos militantes palestinos para os funcionários humanitários foi transmitida em um telão, e acompanhada por familiares das vítimas e por apoiadores.
O cessar-fogo em Gaza começou neste domingo após um atraso de quase três horas na divulgação pelo Hamas da lista com as identidades das reféns, com novos ataques israelenses sendo registrados no enclave palestino pela manhã — de acordo com a Defesa Civil de Gaza, administrada pelo Hamas, 19 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas.
O Hamas justificou que “complicações no terreno e a continuação dos bombardeios” motivaram o atraso no envio da lista com os nomes a Israel. Contudo, por volta das 11h15 (06h15 em Brasília), autoridades israelenses confirmaram ter recebido a confirmação do grupo palestino.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, comemorou a soltura das reféns israelenses. Em uma publicação na Truth Social, antes mesmo da confirmação da troca, o republicano escreveu: “Reféns começando a ser libertados hoje! Três maravilhosas jovens mulheres serão as primeiras”.
Romi Leshem Gonen, de 24 anos, foi sequestrada em uma emboscada enquanto tentava fugir da festa rave Supernova, onde o Hamas executou uma chacina no dia 7 de outubro de 2023. Em um relato à rede britânica BBC, a mãe da jovem disse que as duas trocaram mensagens pelo celular enquanto ela tentava escapar do local. Ela teria implorado por ajuda depois de ter sido baleada.
Emily Damari, de 28 anos, foi capturada por terroristas do Hamas no kibutz Kfar Aza, a cerca de 2 km da fronteira com Gaza. Portadora de nacionalidade britânica-israelense, a jovem foi citada por outros reféns libertados anteriormente, que disseram ter tido contato com ela, segundo disse sua mãe em um evento memorial em Londres. O governo do Reino Unido comemorou a inclusão da jovem na primeira leva de reféns a ser libertada e se disse pronto para “apoiá-la em sua libertação”
Doron Steinbrecher, de 31 anos, também foi raptada no kibutz Kfar Aza, atacado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. A veterinária chegou a encaminhar uma mensagem de voz aos amigos, por volta de 10h30 do dia 7 de outubro, antes de ser levada para o enclave palestino: “Eles chegaram, eles me pegaram”, dizia.
O formato definido pelo acordo negociado com ajuda de mediadores no Catar impõe que o Hamas divulgue uma lista antecipada, indicando os nomes dos reféns que serão libertados em cada dia da trégua. Além das três mulheres, outros 30 reféns devem ser libertados ao longo das próximas seis semanas, em troca de centenas de palestinos presos por Israel. Outros cativos, dentre os quais se acredita haver mortos, devem ser soltos ou ter os corpos entregues numa segunda fase do acordo.
Entenda o acordo
De acordo com plano apresentado pelos EUA em maio, que é a base do acordo aprovado agora, a proposta prevê a libertação — ou entrega de corpos — de 33 pessoas na primeira etapa, incluindo: (1) mulheres (cada uma delas em troca de 30 prisioneiras palestinas); (2) menores de 19 anos (cada um em troca de 30 presos menores de idade); (3) homens idosos com mais de 50 anos (cada um em troca de 30 idosos presos); (4) civis feridos ou doentes (em troca de presos doentes, mas limitado a 15 anos de tempo restante de prisão); e soldados mulheres (cada uma em troca de 50 prisioneiros palestinos, dos quais 30 condenados à prisão perpétua e 20 a outras penas limitadas a sentenças de 15 anos).
A previsão é de que os reféns sejam libertados gradualmente ao longo de 42 dias, com a seguinte divisão: no primeiro dia, três; no sétimo, quatro; no 14º, três; no 21º, três; no 28º, três; no 35º, três, com os 14 remanescentes na última semana da primeira fase. Estima-se que os prisioneiros palestinos devem começar a ser libertados gradualmente em relação aos reféns só depois das 16h locais (11h em Brasília) deste domingo.