Ibovespa cai 2% e vai aos 98 mil pontos, após decisões de juros no Brasil e EUA

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Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, a B3, opera em baixa nesta quinta-feira (23), com os investidores repercutindo a decisão de juros nos Estados Unidos e no Brasil, e a retomada das importações de carne bovina brasileira por parte da China. O Brasil descolou de Wall Street por conta da falta de perspectiva de diminuição dos juros e aumento dos ruídos de conflito entre o governo e o Banco Central.

Às 15h, o índice caía 1,95%, aos 98.266 pontos. A última vez em que tinha operado abaixo dos 100 mil pontos foi em julho de 2022. Veja mais cotações.

Na véspera, o Ibovespa teve queda de 0,77%, aos 100.221 pontos. Com o resultado, o índice passou a acumular perdas de 4,49% no mês e de 8,67% no ano.

O que está mexendo com os mercados?

Os resultados de juros, tanto nos EUA como no Brasil, vieram dentro das expectativas de mercado. O Fed divulgou nesta quarta-feira a decisão de elevar em 0,25 ponto percentual a taxa de juros dos EUA, para uma faixa de 4,75% a 5%.

Na divulgação, o Fed citou a turbulência que atingiu o sistema bancário norte-americano, com a quebra dos bancos médios Silicon Valley Bank e Signature Bank, além da crise enfrentada pelo First Republic Bank, que recebeu socorro bilionário de outros 11 bancos.

Havia dúvidas de que o Fed poderia interromper a alta de juros por conta das complicações causadas ao setor bancário. O Comitê Federal de Mercado Abeto (Fomc, na sigla em inglês), porém, reconhece que o crédito deve ficar mais restrito no país e disse estar vigilante à questão.

“O sistema bancário dos EUA é sólido e resiliente. Acontecimentos recentes devem resultar em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas e pesar na atividade econômica, nas contratações e na inflação. A extensão desses efeitos é incerta. O Comitê permanece altamente atento aos riscos de inflação”, disse o comunicado do banco central norte-americano.

Sobre a inflação, foco da decisão, o Fed destacou que os preços seguem elevados, com emprego em alta e em “ritmo robusto”. O Federal Reserve sinalizou ainda que pode seguir com o arrocho monetário nas próximas decisões sobre os juros.

“O Comitê antecipa que algum endurecimento adicional da política pode ser apropriado para atingir uma postura de política monetária que seja suficientemente restritiva para retornar a inflação para 2% ao longo do tempo”, continuou o comunicado.

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, também sem surpresa. A decisão se deu em meio a turbulências no sistema bancário global e a críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministros do governo ao atual nível da taxa de juros.

Em nota emitida após reunião, o Comitê afirmou que, embora a reoneração dos combustíveis tenha reduzido a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo, ainda permanecem alguns fatores de risco para o cenário inflacionário.

São eles: a maior persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), reagiu: “Eu considerei o comunicado preocupante, muito preocupante, porque hoje divulgamos relatório bimestral mostrando que nossas projeções de janeiro estão se confirmando sobre as contas públicas”, afirmou o ministro.

“Em momento em que economia está retraindo e que o crédito está com problema, o Copom chega a sinalizar até a possibilidade de uma subida da taxa de juros […] Lemos com muita atenção, mas achamos que realmente o comunicado preocupa bastante”, continuou o ministro.

Na tarde de hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também comentou a decisão. Para ele, não há explicação para que a taxa básica de juros da economia esteja em 13,75% ao ano no Brasil.

“Eu digo todo o dia: não tem explicação para nenhum ser humano do planeta Terra a taxa de juro no Brasil estar a 13,75%. Não existe explicação”, disse Lula durante visita a um complexo da Marinha no Rio de Janeiro.

“Eu, como presidente da República, não posso ficar discutindo cada relatório do Copom, eu não posso. Eles paguem o preço pelo que eles estão fazendo. A história julgará cada um de nós”, afirmou.

O presidente acusou Campos Neto não cumprir a lei que concedeu autonomia ao Banco Central.

“Se esse cidadão quiser, ele nem precisa conversar comigo. Ele só tem que cumprir a lei que estabeleceu a autonomia do Banco Central. Ele precisa cuidar da política monetária, mas ele precisa cuidar também do emprego, precisa cuidar da inflação e precisa cuidar da renda do povo”, afirmou.

Para economistas ouvidos pelo g1, o comunicado do Copom foi mais duro do que o esperado e trouxe alguns recados importantes a serem considerados pelo mercado para a trajetória da Selic. Entre eles:

  • Incertezas fiscais ainda pairam sobre o país;
  • Houve aumento das expectativas de inflação para 2023 e 2024;
  • Não há perspectiva de corte de juros;
  • A conjuntura internacional é monitorada.

Entenda aqui como cada ponto influenciou na decisão de manutenção da Selic por parte do Copom.

Entre as demais notícias, o Banco Central da Inglaterra (BoE) elevou a taxa de juros em mais 0,25 ponto percentual, para 4,25%, nesta quinta-feira e disse que espera que a inflação esfrie mais rápido do que antes, apesar de um salto surpreendente dos preços anunciado na quarta-feira.

Esse foi o 11º aumento consecutivo nos custos de empréstimos, que começaram em dezembro de 2021, embora tenha sido o menor desde junho do ano passado.

*g1

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