A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, 63 anos, em um acidente de helicóptero no domingo (19/5), trouxe à tona a sucessão de um posto muito mais importante no país: o de líder supremo. Hoje, o cargo é de Ali Khamenei, mas Raisi era considerado a pessoa mais certa para sucedê-lo.
O helicóptero transportava o presidente ultraconservador, o chanceler Hossein Amirabdollahian, Malek Rahmati, governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental; e o líder religioso Hojjatoleslam Al Hashem.
Já antes mesmo de a morte ser oficialmente confirmada, Ali Khamenei pediu para os cidadãos “não se preocuparem” com a liderança do país: “Não haverá perturbações no trabalho do país”, afirmou.
De acordo com o artigo 131 da Constituição, o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, deve assumir, com a confirmação do líder supremo.
Mokhber, então, precisa montar um conselho com ele, o presidente do Parlamento e o chefe do Poder Judicial, para organizar uma nova eleição em 50 dias.
A partir daí, o mundo vai saber se o país continuará em uma tendência conservadora, como vinha acontecendo. E até que ponto isso afetará a estabilidade na região.
Linha dura no poder do Irã
Raisi chegou ao poder em 2021, substituindo o moderado Hassan Rouhani. Logo se viu que seu perfil linha dura daria o tom na presidência.
O país se enxergou diante de um impasse nas negociações nucleares com os Estados Unidos sobre o Plano de Acção Global Conjunto (JCPOA). Intensificou o enriquecimento de urânio e apoiou a Rússia contra a Ucrânia.
Aliás, em relação a guerras, fez discursos fortes em defesa da população palestina durante o confronto do grupo extremista Hamas contra Israel. Em abril, por exemplo, o país lançou um ataque com mísseis e drones contra os israelenses, além de apoiar grupos como Hezbollah e Houthi.
Também enfrentou grandes manifestações no fim de 2022, quando Jina Mahsa Amini morreu sob custódia da polícia da moralidade. Ela, supostamente, teria usado indevidamente um hijab.
A sucessão do líder supremo
O cargo de presidente no país não é tão forte. Geralmente serve apenas como uma forma de diminuir as críticas em relação ao líder supremo. Fiel a Khamenei, Raisi também era enxergado como sucessor dele.
E o líder supremo, com 85 anos, já preparava Raisi para assumir o posto. Seria uma passagem natural e evitaria instabilidade. Agora, com a morte dele, o filho de Khamanei, Mojtaba Khamenei, entra como favorito. E isso é problemático.
A escolha do líder supremo é feita por uma assembleia de 88 clérigos e religiosos. Passar o cargo para um parente seria visto por eles, ou pelo menos pela maioria, como algo fora da ordem dos princípios revolucionários do país, algo que pode causar fortes discussões internas.
Junta-se a essa questão, as eleições parlamentares de 1º de março, que colocaram no poder políticos extremamente conservadores ou tradicionais linhas-duras: os reformistas e moderados foram varridos. De acordo com órgãos internacionais, somente 41% da população compareceu às urnas.
Por fim, a dúvida vem também em relação à política externa. O medo do Ocidente é uma aproximação cada vez maior com Rússia e China.
E também que o discurso contra Israel saia mais e mais do papel. Uma guerra entre as duas nações acenderia o pavio do barril de pólvora que é a região.
Foto: Fatemeh Bahrami/Anadolu via Getty Images/ *Metrópoles