Curandeiro, xamã, sacerdote e ponto de equilíbrio das aldeias. Esse é o pajé, figura que transita entre os mundos físico e espiritual e que “invoca” os espíritos da floresta durante as apresentações de Caprichoso e Garantido no Festival Folclórico de Parintins.
A disputa, que acontece no “Bumbódromo”, na Ilha Tupinambarana, conta com 21 itens oficiais de cada boi-bumbá. Entre eles, o item 12, defendido tanto por Adriano Paketá, do Garantido, e Erick Beltrão, do Caprichoso, considerado o ser místico que conduz um dos pontos altos de cada apresentação dos bumbás: o ritual indígena.
Durante cada apresentação, cada pajé é avaliado pela expressão corporal e facial, movimentos harmônicos, domínio de espaço cênico, além de indumentária, originalidade, expressão, segurança, domínio de arena, encenação e coreografia.
Adriano Paketá
Adriano Paketá é pajé do Boi Garantido há cinco anos e conta que a originalidade do item precisa ser fidedigna à etnia escolhida para ser representada na arena.
“A preparação propriamente dita começa a partir do momento que o boi seleciona as toadas. A partir daí nós começamos a trabalhar a temática coreográfica que vai ser apresentada dentro de cada ritual, de cada momento na arena. Tem também a preparação física, com treinos com vários trabalhos relacionado ao físico, também trabalhamos a parte psicológica, que isso também é de grande importância para você estar preparado para ir para a arena”, contou.
Há cinco anos no cargo, Paketá já caiu nas graças dos torcedores apaixonados pelo Garantido e tenta retribuir o carinho com apresentações cada vez mais elaboradas e dignas de uma nota 10.
“A minha vida está envolvida com o Garantido. A partir do momento em que eu assumi esse item, que não apenas representa a cultura indígena, mas também toda essa nação vermelha e branca. Não existe palavra para explicar o sentimento, mas é um misto de felicidade, de responsabilidade, de crescimento”.
Erick Beltrão
Erick Beltrão defende o item há quatro anos. No entanto, contou que nos dois primeiros enfrentou a pandemia da Covid-19, o que impossibilitou a realização do festival. Nascido do lado “azulado” da ilha de Parintins, Erick tem como missão dar voz e vez para o povo indígena.
“Ele representa todo o misticismo, toda a transcendência dos povos originários. Então ele consegue viajar entre os mundos, fazendo com que traga a cura para o nosso povo. Para mim é uma honra muito grande defender esse item, porque a gente consegue levantar a bandeira dos povos originários e eu consigo trazer vez e voz para esse povo tão sofrido que são os povos indígenas”.
Erick disse, ainda, que participa de toda a formulação dos figurinos que vai representar e que tudo é milimetricamente pensado para contar o tema do ano e a história dos povos originários.
“O Caprichoso faz parte da minha vida. O Caprichoso é minha vida, na verdade. Então isso não tem como explicar, é sentir. Ser Caprichoso e o sentimento de ser caprichoso é amor, ser Caprichoso é tudo aquilo de bom. O que a vida me proporcionou”, finalizou.
*G1/am/Foto: Raphão Produções / Divulgação