A promotora pelo Ministério Público do Amazonas, Fábia Melo Barbosa de Oliveira, responsável pelo caso da venezuelana Julieta Hernandez, cicloativista assassinada em Presidente Figueiredo, no Amazonas, renunciou ao caso alegando ser “suspeita por motivo de foro íntimo”. A manifestação foi juntada aos autos no domingo (30).
O caso de Julieta Hernandez tem sido alvo de críticas e cobranças por parte de entidades de direitos humanos e de defesa dos direitos das mulheres, além de familiares da vítima e do Ministério das Mulheres pela tipificação com que o crime foi denunciado.
O MP ofereceu denúncia contra os acusados Thiago Angles da Silva e Deliomara dos Anjos Santos pelo crime de latrocínio, estupro e ocultação de cadáver.
Mesmo com denúncia feita em janeiro pelo MP, a Justiça do Amazonas ainda não aceitou a denúncia e por isso os acusados, mesmo presos, ainda não se tornaram réus.
Em petição protocolada no dia 12 de junho, o advogado Carlos Nicodemos, que representa a família da vítima, afirmou que o autor do assassinato mostrou “menosprezo e discriminação a condição de mulher da vítima” e também pediu à Justiça que o crime seja reclassificado como feminicídio.
O advogado também requisitou que sejam colhidos diversos depoimentos de testemunhas ainda não ouvidas pelo Ministério Público, como amigas da Julieta, bombeiros que localizaram o corpo e o responsável por passeios na região onde ela foi assassinada.
Em nota, o Ministério das Mulheres informou que a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, acompanhada da secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, Denise Motta Dau, recebeu no começo do mês de junho uma comitiva que tem buscado junto à Justiça o reconhecimento do assassinato como feminicídio.
“O Ministério das Mulheres reconhece a preocupação dos familiares e advogados da vítima pela ausência do devido tratamento jurídico ao caso como uma grave violação de direitos humanos das mulheres e dos migrantes e reforça a crença nas instituições brasileiras para que este caso e o de todas as mulheres que recorrem à Justiça não fiquem impunes, por suas vidas e pelo direito à memória. Vamos monitorar e acompanhar o caso no âmbito jurídico e também político. Na próxima semana, a secretária Denise Motta Dau estará junto de familiares e amigos de Julieta em uma visita aos órgãos públicos envolvidos no processo, como o Ministério Público do Amazonas, Tribunal de Justiça e delegacia do município de Presidente Figueiredo.”
Relembre o caso
Julieta desapareceu no dia 23 de dezembro do ano passado, e o Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado no dia 4 de janeiro na Delegacia Virtual do Amazonas (Devir), e encaminhado à 37ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP) de Presidente Figueiredo, cidade onde aconteceu o crime, que iniciou as investigações.
O BO informava que o último contato da vítima com a família teria sido no dia 23 de dezembro, por volta de meia-noite e meia, quando ela teria dito que iria pernoitar em Presidente Figueiredo, e seguiria para Rorainópolis, em Roraima.
De acordo com o delegado Valdinei Silva, no mesmo dia, um morador localizou partes da bicicleta da vítima e acionou a polícia. Quando a equipe chegou ao local, Thiago tentou fugir, mas foi capturado.
Ele e a esposa foram conduzidos à delegacia e entraram em contradição nos depoimentos, e assim confirmaram a autoria do crime. Conforme a polícia, Deliomara confessou que matou a venezuelana, após uma crise de ciúmes. Isso, porque ela prenunciou o companheiro estuprando a vítima depois deles roubarem os pertences dela.
Thiago contou uma versão diferente à polícia. De acordo com o suspeito, a venezuelana e ele usavam drogas, quando a companheira ficou com ciúme, jogou álcool nos dois e ateou fogo.
Ele disse ainda que apagou o fogo do corpo e chegou a procurar um hospital em busca de socorro. No entanto, enquanto isso, a esposa amarrou uma corda no corpo de Julieta, que estava desacordada, arrastou a vítima para uma área de mata e a enterrou.
Depois das contradições apresentadas pelos suspeitos, a polícia chegou em uma conclusão de como a artista foi atacada.
“A vítima estava dormindo em uma rede na varanda do local, quando Thiago pegou uma faca e foi até ela para roubar seu aparelho celular. Eles entraram em luta corporal, ele a enforcou, a jogou no chão e pediu que Deliomara amarrasse os pés dela. Em seguida, ele a arrastou para dentro da casa, pediu que a esposa apagasse as luzes e passou a abusar sexualmente da vítima”, detalhou o delegado.
Após a mulher do suspeito presenciar o fato, jogou álcool em ambos e ateou fogo. Thiago conseguiu apagar o fogo com um pano molhado e foi até uma unidade hospitalar receber atendimentos médicos. Já Deliomara enforcou Julieta com uma corda e a enterrou no quintal.
*G1/AM/Foto: Reprodução redes sociais