Justiça concede uma medida protetiva por hora a mulheres no Amazonas nos dois primeiros meses de 2023

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Toda história de amor começa como se fosse um conto de fadas. No começo, tudo é lindo, perfeito, mas em muitas, com o passar do tempo, começam a aparecer as imperfeições e algumas relações se tornam uma verdadeira história de terror, com direito a violência física ou psicológica, e que tem como alvo a parte mais ‘frágil’ do casal: a mulher. Para tentar sair do ciclo de violência e medo, muitas buscam na justiça uma proteção.

Dados do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), apontam que somente nos primeiros meses de 2023, 1.420 medidas protetivas foram concedidas em favor de mulheres vítimas de ameaças e de violência doméstica e familiar, sendo 861 na capital e 559 no interior do estado. Isso representa um total de 24 medidas protetivas por dia, ou seja, uma por hora.

g1 conversou com uma dessas mulheres que acionou a Justiça em busca de proteção. A vítima, que preferiu não se identificar, contou que teve coragem de denunciar o caso após as agressões se intensificarem. No entanto, não está sendo fácil vencer o ciclo do medo.

“No começo não era assim. Ele era muito doce, muito cavalheiro. As agressões iniciaram quando quando eu comecei a cobrar dele responsabilidades, pedi para que ele parasse de beber excessivamente e cuidasse das filhas. A partir daí começaram [as agressões]. E quando eu tentava terminar sempre era uma vitimização. Ele falava que não tinha mais nada na vida, que ia ficar largado por aí e fazia com que eu me sentisse ruim e pedisse para ele ficar”, contou.

A mulher narra ainda que o casal ficou junto por quase um ano e meio. No entanto, em certo ponto da relação a situação ficou insustentável e o companheiro passou a agredi-la verbalmente e fisicamente.

“Houve empurrões, enforcamentos e eu decidi que não queria mais aquilo, que eu precisava me libertar daquilo. Procurei uma delegacia, estava muito abalada, fiz o boletim de ocorrência e durante o depoimento eu me tremia toda, me sentia insegura, frágil, desprotegida”.

Após os procedimentos, a mulher ingressou com um pedido de medida protetiva, que foi deferida pela justiça após um mês. A demora aconteceu, segundo ela, porque a justiça não conseguia localizar o homem.

Caso foi denunciado na Delegacia da Mulher, em Manaus. — Foto: Suelen Gonçalves/G1 AM
Caso foi denunciado na Delegacia da Mulher, em Manaus. — Foto: Suelen Gonçalves/G1 AM

“Sempre que o oficial de justiça ia atrás dele, para notificar, diziam que ele não morava no local, que não estava. E isso foi se prolongando. Mas até certo ponto ele não conseguiu mais se esconder. Enquanto isso, eu estava em completo estado de depressão, só chorava, não comia, não vivia. Foi preciso muita força de vontade e ajuda da minha família e amigos para vencer isso”.

No entanto, mesmo após a medida entrar em vigor, a mulher se sente insegura. Ela está sendo acompanhada por uma equipe jurídica da Associação Manas, mas conta que o ex-companheiro não respeita totalmente o que foi decidido pela justiça, o que a faz temer pela sua vida.

“Eu não tenho paz. Como ele é uma pessoa pública e tem pessoas influentes perto dele, isso fortalece o ego machista, então ele fica me difamando, citando a inicial do meu nome com indiretas. E fora que ele sabe onde eu moro, onde meus filhos estudam. Uma pessoa que não tem nada a perder pode fazer qualquer coisa”, falou.

A mulher também orienta que todas aquelas que sofrem violência doméstica procurem denunciar seus agressores, apesar do medo e, muitas vezes, do julgamento social:

“Eu sei que é difícil e hoje vejo isso, porque a gente fica exposta e sempre é muito julgada. Mas é necessário. Acredito que uma pessoa que faz isso com você pode e vai fazer com outras, em seguida. Então não é só por você, é por todas nós”.

*g1

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