Mohsen Mahdawi, estudante palestino da Universidade de Columbia que estava preso desde o dia 14, foi libertado da custódia federal de imigração dos Estados Unidos após uma decisão da Justiça de Vermont nesta quarta-feira (30).
O juiz distrital dos EUA Geoffrey Crawford ordenou a libertação imediata de Mahdawi e decidiu que ele deveria ter permissão para contestar as tentativas do governo Trump de deportá-lo por sua participação em protestos pró-palestinos, enquanto está em liberdade sob fiança.
Mahdawi, que tem 34 anos e tem visto de residente permanente nos EUA, falou com a imprensa ao deixar o tribunal após a determinação judicial e desafiou o governo de Donald Trump:
“Estou dizendo isso de forma clara e alta para o presidente Trump e seu gabinete: não tenho medo de vocês. O que estamos testemunhando agora e o que estamos entendendo é exatamente o que o Dr. Martin Luther King disse antes: a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares”.
O Departamento de Segurança Interna e o Departamento de Justiça dos EUA ainda não se pronunciaram sobre a decisão.
De acordo com a NBC News, documentos apresentados à Justiça pelo governo alegavam que Mahdawi admitiu “apoiar atos de violência antissemita” e que tinha “um interesse e facilidade com armas de fogo para esse fim”.
Um deles era um relatório de 2015, do Departamento de Polícia de Windsor, em Vermont, onde o dono de uma loja de armas disse aos policiais que Mahdawi “supostamente disse” que costumava construir metralhadoras “para matar judeus enquanto ele estava na Palestina”.
“Sou uma pessoa pacífica e nunca expressaria querer prejudicar ou matar ninguém. Estou com o coração partido por ter palavras tão terríveis, que contrastam completamente com minha filosofia de vida e crenças espirituais, atribuídas erroneamente a mim”, afirmou o palestino em uma declaração, afirmando estar “absolutamente certo” que nunca disse essas palavras.
Vídeo foi gravado mostrando a prisão
Mohsen Mahdawi fazia parte da liderança dos protestos contra a guerra em Gaza realizados no campus da Universidade de Columbia.
Ele foi levado por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) ao comparecer a um escritório de imigração de Vermont, onde esperava ser entrevistado sobre a finalização de sua cidadania americana.
Mahdawi possui um green card desde 2015, mas foi levado para uma instalação de Imigração e Alfândega, a Northwest State Correctional Facility, em St. Albans.
Imagens gravadas por um amigo dele e divulgadas à imprensa mostram quando Mahdawi foi levado algemado para viaturas do ICE. Sem resistência, ele entra em um dos veículos e faz um sinal de paz ao olhar para a câmera.
“O governo Trump deteve Mohsen Mahdawi em retaliação direta por sua defesa dos direitos dos palestinos e por sua identidade como palestino. Sua detenção é uma tentativa de silenciar aqueles que se manifestam contra as atrocidades em Gaza. Também é inconstitucional”, disse a advogada Luna Droubi em um e-mail.
Na defesa apresentada à Justiça, eles descrevem o cliente como um budista comprometido que acredita na “não violência e na empatia como princípio central de sua religião”.
Mahdawi nasceu em um campo de refugiados na Cisjordânia e se mudou para os Estados Unidos em 2014. Ele foi cofundador da União de Estudantes Palestinos na Universidade de Columbia com Mahmoud Khalil, outro residente permanente palestino nos EUA e estudante de pós-graduação detido pelo ICE.
Justiça autorizou deportação de outro estudante preso
Quatro dias dias antes, a Justiça dos EUA havia autorizao o governo Trump a prosseguir com o processo de deportação de Khalil, preso por participar de protestos na Universidade de Columbia contra a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza.
Khalil foi preso no dia 8 de março, quando agentes de imigração (Departamento de Imigração e Alfândega, ou ICE, na sigla em inglês) o abordaram na residência estudantil onde ele morava.
A decisão foi tomada pelo juiz de imigração Jamee E. Comans, da Louisiana, estado para onde o estudante foi levado após ser detido.
‘Primeira de muitas’
Em março, logo após a prisão de Mahmoud Khalil, o presidente americano, Donald Trump, falou sobre ela em um post e disse que era a primeira “de muitas que virão”:
“Esta é a primeira prisão de muitas que virão. Sabemos que há mais estudantes na Columbia e em outras universidades pelo país que se envolveram em atividades pró-terroristas, antissemitas e antiamericanas, e a Administração Trump não tolerará isso. Muitos não são estudantes, são agitadores pagos. Encontraremos, apreenderemos e deportaremos esses simpatizantes terroristas do nosso país — para nunca mais retornarem”.
Sua prisão foi condenada por grupos de direitos civis como um ataque às liberdades civis. Houve protestos no campus da Columbia, em Nova York.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, também falou sobre a prisão nas redes sociais, mas sem dar detalhes, e afirmou:
“Revogaremos os vistos e/ou green cards de apoiadores do Hamas na América para que eles possam ser deportados”.
Fonte: G1/Foto: NBC/Reprodução