Ela ficava ali na varanda. Se arrumava e se embelezava só para ficar ali. E todo dia era assim. Havia uma alegria contagiante, o seu coração, cheio de expectativas, batia forte e as suas roupas balançavam ao vento do Norte. O Sol iluminava as cores vivas dos tecidos e a Lua dava um brilho prateado aos contornos. Todo dia era uma felicidade no alvorecer e, sem ser uma tristeza profunda, assistia à chegada da noite. Ela adorava a luz!. Porém, a espera, para ela, apesar de angustiante, lhe trazia esperanças de um dia melhor. Sim, seus soldados viriam e marchariam à sua frente. Jovens garbosos, todos fardados e vibrantes, socando firme o chão com seus coturnos luzidios. Ela ficava orgulhosa quando pessoas passavam e a achavam linda. Achava interessante quando manifestavam suas preferências em relação às cores da sua roupa. “Verde, eu adoro!” – alguém dizia. “Não, para mim, é o amarelo!” – comentava outra pessoa. Então, como se ouvisse uma canção, passava a dançar, quase flutuando no ar. Vê-la “dançando com o vento” era o máximo para os seus admiradores. A varanda era o seu farol do amanhã. Às vezes, olhava profundamente o horizonte como se quisesse adivinhar o futuro. Nem precisava adivinhar nada, pensava, seus soldados viriam. A fé era tanta que, até para si, cobrava certezas. O “comandante” irá ordenar que seus soldados venham “desfilar” vitoriosos nas ruas da sua cidade. Há uma diferença entre o soldado que vai à guerra e aquele que retorna vitorioso do combate? Como se deve chegar à sua cidade depois de “morrer” todo dia? Sim, porque soldado, na guerra, começa o dia “morrendo” e anoitece, por um milagre, “ainda vivo”. Seu avô quem dizia isso, um tal de Caxias. Um dia alguém passou, aos gritos, dizendo que o “comandante” havia ido embora e não retornaria mais. “Como assim?” – ela questionou o mundo todo. Até então, ela não havia sentido na sua essência uma decepção tão profunda. Os ventos pararam, de repente, e ela sentiu as suas vestes tocarem o chão, prostradas. Onde estão o “comandante” e os seus garbosos “generais” comandando os soldados vitoriosos que desfilariam ali na sua rua, na sua cidade? Não pode o mundo ruir sobre sonhos tão reais como desses últimos tempos! E ali ficou, perplexa. Aos poucos foi notando que as pessoas não passavam mais felizes admirando as suas cores vivas. Aos poucos foi percebendo que o Sol queimava parte do tecido e descorava sua veste. Aos poucos foi percebendo que o vento não lhe abanava mais com a mesma intensidade. Aos poucos, ela própria, tão linda e vivaz, foi entristecendo e quase perdeu a sua imensa beleza. Trovões trovejam muito perto da sua varanda. Ela, assustada, se ergue numa golfada de vento. Seus panos, soprados pela imensidão da vontade divina, voltam a bailar ao som do “repique” dos tambores da Banda Militar. Os “seus” soldados, e não os trovões, batem firme os seus coturnos no solo da pátria e, VITORIOSOS, desfilam para a ela, a BANDEIRA NACIONAL!
*Por: Elias do Brasil / escritor e historiador, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e articulista.