A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou em seu discurso de posse que a gestão da pasta será “pautada pela ciência e pelo diálogo com a comunidade científica”. Em referência ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a socióloga defendeu que o Brasil “deixou para trás um período de obscurantismo e desvalorização da ciência”.
Segundo a ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos primeiros atos do novo comando do ministério será a “revogação de portarias e notas técnicas que ofendem a ciência, os direitos humanos, os direitos sexuais reprodutivos.
“Transformaram várias posições do Ministério da Saúde em uma agenda conservadora e negacionista da ciência”, criticou.
A cerimonia de empossamento ocorreu nesta segunda-feira (2/1), na sede do ministério. Nísia será a primeira mulher a chefiar a pasta. Ela iniciou o discurso de posse lembrando os brasileiros da importância em completar o esquema vacinal contra a Covid-19.
Em seguida, defendeu que a eleição de Lula “renova as esperanças do povo brasileiro” e destacou o fato de ser empossada no Dia do Sanitarista, comemorado em 2 de janeiro. “Democracia é saúde e esse tema tem nos orientado, tem orientado a todos que lutamos pela construção do Sistema Único de Saúde”, enfatizou Nísia, que, posteriormente, agradeceu Lula pela nomeação como ministra da Saúde.
“Agradeço por esse grande desafio e esse convite para que eu dirija essa pasta da saúde. Ao me convidar, suas palavras muito me comoveram. O presidente Lula queria uma mulher no comando do Ministério, mas queria alguém comprometido com o SUS e mais, queria alguém com sensibilidade para o sofrimento de nosso povo, com disposição para cuidar desse povo sobretudo a população mais pobre”, prosseguiu.
A pesquisadora diz assumir a pasta com o sentimento de “urgência” e defendeu uma gestão conjunta da Saúde com os demais ministérios. “Essa gestão não pode ser exercida de forma isolada, a saúde precisa estar em todas as políticas. Reforço a necessidade de ações intersetoriais e trabalho colaborativo de toda equipe nomeada pelo presidente Lula”, disse.
Fundamental no enfrentamento da pandemia, a ex-presidente da Fiocruz, autora da primeira vacina contra a doença 100% nacional, sustentou que o país precisa investir na produção local de imunizantes.
Nísia também terá como pautas prioritárias contornar o represamento de exames e cirurgias eletivas. “Essa tem que ser uma agenda do Estado, da sociedade e da academia”, enfatizou, alertando que “faltam recursos para o SUS cumprir o seu papel”.
Trajetória
Nísia Trindade é graduada em ciências sociais com doutorado em sociologia, e atua como pesquisadora da Fiocruz desde 1987, tendo ocupado cargos-chave dentro da fundação, como o posto de diretora da Casa de Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz, e vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz (2011-2016).
Em 2017, chegou à presidência da instituição. Teve papel fundamental durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Na ocasião, Nísia liderou a criação de um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos (RJ), além de ter gerido o aumento da produção de kits para diagnóstico rápido da doença e processamento célere dos resultados das testagens.
Ainda no âmbito da crise sanitária, a pesquisadora coordenou o acordo da Fiocruz de encomenda tecnológica. Em parceria com a AstraZeneca, a fundação se tornou a primeira no Brasil a produzir uma vacina contra a Covid 100% nacional, tendo fornecido ao Ministério da Saúde mais de 200 milhões de doses.
O desempenho durante a pandemia levou Nísia a ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao ser anunciada por Lula como ministra, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, parabenizou a presidente da Fiocruz.
“Parabéns, minha amiga Dra. Nísia Trindade, pela sua nomeação para Ministra da Saúde no Brasil, e a primeira mulher nesse cargo. Tudo de bom e estou ansioso para trabalhar juntos nos próximos anos para avançar”, escreveu.
*Metrópoles