‘Navios quebra-gelo’ de Rússia e China são ameaça aos EUA na Groenlândia, diz aliado de Trump; entenda o que são e por quê

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Futuro conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Mike Waltz disse em entrevista ao canal Fox News que Rússia e China têm cercado o Ártico com “navios quebra-gelo” para extrair recursos naturais da Groenlândia. O aliado do presidente eleito Donald Trump classificou a suposta movimentação das embarcações russas e chinesas na região — alvo de interesses estratégicos concorrentes de Moscou e Washington e reivindicada num arroubo expansionista do republicano — como uma potencial ameaça à segurança nacional.

— Trata-se de minerais essenciais. Trata-se de recursos naturais. À medida que as calotas polares se retraem, os chineses estão agora construindo quebra-gelos e avançando para lá também. Portanto, trata-se de petróleo e gás. É a nossa segurança nacional — afirmou Waltz, à Fox News.

Os “quebra-gelo” são embarcações capazes de navegar por superfícies congeladas. Equipadas com um casco reforçado e equipamentos pontiagudos para quebrar a resistência do gelo, tais navios são usados, normalmente, para escoltar outros sem essa capacidade. No entanto, tornaram-se estratégicos também para acessar, na Groenlândia, reservas de petróleo, gás e minerais estratégicos para a produção de celulares, baterias e outros itens da indústria de tecnologia.

O Kremlin anunciou na quinta-feira que está “seguindo de perto” as reivindicações de Donald Trump sobre a Groenlândia, um território dinamarquês no Ártico. A grande ilha, que tem 80% de sua área congelada, entrou no centro das discussões geopolíticas internacionais após uma declaração de Trump de que pretendia incorporá-la como parte do território americano, o que também motivou críticas por parte de líderes europeus da Otan.

A importância da Groenlândia

Maior ilha do Ártico — e do mundo —, a Groenlândia está localizada entre os oceanos Atlântico e Ártico, na América do Norte. A região sempre despertou cobiça pelo potencial de recursos minerais sob a camada de gelo que reveste a maioria de seu território, mas recebe uma atenção ainda mais importante por seu papel geoestratégico, sendo o principal ponto entre EUA e Rússia via Polo Norte, e o caminho naval mais curto entre EUA e Europa.

A importância estratégica é tamanha que ainda nos anos 1950 o governo americano chegou a um acordo com a Dinamarca para instalar uma base militar no território congelado. A Base Espacial Pituffik (anteriormente conhecida como Base Aérea de Thule) possui um importante sistema de radares, funcionando como um centro de alerta antecipado para o sistema de defesa antimísseis americano.

Com o aquecimento global e o derretimento das calotas polares a um ritmo cada vez mais acelerado, a ocupação do território também passou a ter uma nova conotação estratégica, uma vez que o degelo ameaça criar novas rotas marítimas, com potencial para fomentar ainda mais a disputa entre EUA, Rússia e até mesmo China.

Segundo um artigo publicado pelos pesquisadores Heather A. Conley e Jon Rahbek-Clemmensen, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês), com base em Washington, citado anteriormente pelo GLOBO, “os aeroportos e portos baseados na Groenlândia podem se tornar pontos de apoio cruciais para patrulhas marítimas e aéreas no Atlântico Norte, enquanto os sistemas de detecção de submarinos podem ser instalados ao longo da costa”.

A retórica de Trump sobre a ilha dinamarquesa não irritou apenas a Rússia. Líderes europeus também condenaram as falas do presidente eleito dos EUA, que chegou a afirmar que poderia apelar para a via militar para se apossar do território — no mandato passado, Trump sugeriu comprar a Groenlândia. O republicano também alegou razões de interesse nacional e segurança econômica para fazer o mesmo com o Canal do Panamá.

A chanceler da União Europeia, Kaja Kallas, defendeu nesta quinta-feira a “integridade territorial e a soberania” da Groenlândia, demonstrando apoio a uma manifestação anterior do premier da ilha ártica, Múte Egede, que disse na segunda-feira que a ilha “não está à venda”. A autoridade diplomática disse também ter conversado com a premier da Dinamarca, Mette Frederiksen, e que, apesar do jogo retórico, as relações entre Copenhague e Washington estavam em um nível muito bom.

— [Frederiksen] também disse que é bom que o presidente eleito [Trump] esteja interessado no Ártico, que é uma região muito importante, tanto para a segurança quanto para as mudanças climáticas — disse Kallas.

Em um discurso nesta quinta-feira, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, minimizou as falas de Trump e rejeitou a possibilidade dos EUA tomarem a Groenlândia ou o Canal do Panamá à força. Para a líder italiana, que visitou o presidente eleito na Flórida no último fim de semana, os comentários recentes na realidade miravam a China.

— Sinto que posso descartar que os EUA tentarão, nos próximos anos, anexar à força territórios que são de seu interesse — disse Meloni a repórteres durante uma entrevista coletiva.

Em Moscou, Peskov afirmou que a Groenlândia está na esfera de interesse nacional e estratégico da Rússia e que é do interesse russo manter a paz e a estabilidade na região.

— Estamos prontos para interagir com todas as partes para esse fim — disse.

Fonte: O Globo/Foto: Carsten Snejbjerg/The New York Times

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