Número de casos de fratura no quadril deve crescer quatro vezes no Brasil; saiba porque

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O Brasil terá que lidar com um aumento significativo do número de casos de fratura no quadril nas próximas décadas. A estimativa é que o país terá quase quatro vezes mais incidentes desse tipo até 2050, segundo um estudo global recente da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. 

A tendência de alta foi registrada também em outros 18 países pesquisados. Os cientistas ainda afirmam que a situação é particularmente preocupante entre os homens.

Para chegar a esses dados, os pesquisadores analisaram informações de pacientes com 50 anos ou mais hospitalizados com fratura de quadril entre 2005 e 2018 em 19 países. No total, 4.115.046 ocorrências desse tipo foram identificadas.

Além disso, eles levaram em conta padrões de tratamento e taxas de mortalidade por todas as causas. Isso ajudou a estimar o número de fraturas no quadril que, globalmente, deve praticamente dobrar em 30 anos.

No Brasil, especificamente, deve ocorrer um salto de 50,5 mil casos para 199,1 mil. Vale ressaltar, contudo, que somente os pacientes atendidos pelo SUS foram incluídos na análise, o que significa que cerca de 30% da população que tem acesso a planos de saúde particulares ficaram de fora.

“O número [de casos de fratura no quadril] é um pouco maior do que parece”, esclarece a endocrinologista Marise Lazaretti Castro, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Entre as razões relacionadas ao aumento estão a falta de tratamento adequado para a osteoporose para quem já teve uma lesão do tipo e o envelhecimento acelerado da população mundial.

O endocrinologista Sérgio Maeda, presidente da Abrasso (Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo), afirma que muita gente abandona o tratamento por causa dos efeitos colaterais dos medicamentos tradicionalmente indicados, chamados de bisfosfonatos.

“Mas eles previnem muito mais as fraturas do que causam efeitos colaterais”, tranquiliza Maeda. As reações adversas temidas são, em geral, fraturas atípicas e osteonecrose de mandíbula (uma lesão na região bucal), mas elas são raras: acontecem em menos de 3% dos pacientes.

Estudo alerta para a osteoporose em homens

Uma das descobertas inéditas do trabalho é que a disparada no número de fraturas no quadril pelo mundo deve ser maior entre os homens nos próximos 30 anos, apesar de a osteoporose ser mais comum em mulheres.

Elas costumam ser as mais afetadas porque, depois da menopausa, há queda na produção de hormônios que protegem o esqueleto. Para ter ideia, 30% delas apresentam o diagnóstico a partir dos 50 anos, contra 10% dos homens, estima a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Além disso, no levantamento, as taxas de mortalidade pelo trauma se mostraram maiores em homens que em mulheres.

Os especialistas comentam que isso se deve à falta de atenção médica, atrelada ao estigma de que eles não são afetados pela doença, sem falar no abandono da medicação.

“A ginecologista costuma pedir o exame de densitometria óssea [que avalia a situação da massa óssea e ajuda no diagnóstico da osteoporose] para a mulher quando ela entra no período da menopausa, mas não existe essa rotina para o homem, que, ainda por cima, tem mais resistência a ir ao médico”, contextualiza Marise.

O aposentado Paulo Fukusaki, de 59 anos, passou por vários endocrinologistas, mas nenhum solicitou o exame de densitometria óssea.

Ao fazê-lo pela primeira vez, há dez anos, surpreendeu-se com a notícia de que já estava com uma osteoporose avançada e iniciou o tratamento.

“Agora, já consegui deter a perda da massa óssea e recuperar uma parte”, conta.

Fukusaki aproveitou a experiência para alertar os irmãos sobre o assunto. “Falei para pesquisarem sobre a doença”, diz. Os irmãos passaram, então, a fazer um acompanhamento. Depois, descobriram o processo de enfraquecimento dos ossos e começaram a tratar o quadro.

Prevenção e tratamento devem ser intensificados

Para ambos os sexos, a prevenção da osteoporose (e, consequentemente, de futuras fraturas no quadril) deve começar ainda na infância, quando os ossos estão em fase de calcificação, afirmam os médicos.

A recomendação é estimular a ingestão de laticínios — como leite, queijos e iogurtes —, que fornecem cálcio ao organismo. O mineral auxilia na mineralização dos ossos.

Para garantir o aproveitamento do cálcio, porém, é essencial proporcionar ao corpo doses adequadas de vitamina D, obtida a partir do contato com raios solares. Estima-se que cerca de 15 a 20 minutos de exposição solar sejam suficientes.

Às vezes, é necessário recorrer à suplementação dessa substância — vale confirmar com um especialista.

Outra medida primordial para evitar a osteoporose é fazer exercícios físicos. As modalidades mais indicadas nesse cenário são aquelas de maior resistência ou impacto, como musculação e corrida.

São elas que contribuem de forma mais significativa para a formação dos ossos. Na fase adulta, quando se atinge o chamado “pico de massa óssea”, segundo Maeda, deve-se ter uma alimentação saudável e a prática de exercícios para manter essa reserva.

Paulo Fukusaki seguiu à risca as recomendações e, hoje, pratica musculação e corre de três a quatro vezes por semana.

“No começo, foi difícil, mas a médica me explicou que eu tinha que encarar isso como se fosse tomar remédio. No fim, acabei gostando. Agora, se não faço algum dia, sinto falta”, relata.

Outro ponto essencial no combate à osteoporose é incluir a densitometria óssea no checape anual, principalmente se houver predisposição à doença — como histórico familiar, fraturas anteriores por trauma leve e idade avançada.

Para a endocrinologista, o Brasil deve facilitar o acesso ao exame (indisponível em algumas regiões) e também o acompanhamento preventivo com nutricionistas e fisioterapeutas pelo SUS.

“Nas próximas décadas, teremos um aumento expressivo no número de idosos nos países em desenvolvimento, e o sistema de saúde tem que se preparar para isso”, afirma Marise.

*R7/FOTO: FREEPIK

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