Logo que soube da liberação da ponte do rio Santa Maria, o General determinou que as Unidades cumpram o Planejamento da Ordem de Operações da Brigada de Cavalaria Blindada, ultrapassem a ponte sobre o rio Santa Maria e se posicionem no terreno, desdobrando-se para uma posição, inicialmente defensiva, para tomar a iniciativa, a comando, e partir para o contra-ataque. Tudo conforme reunião do Comando antes da partida do Comboio, dias atrás, na região de Alegrete, e, também, o planejamento distribuído aos comandantes das Unidades Operacionais. De acordo com a doutrina militar, uma Brigada de Cavalaria Blindada, pelo seu enorme poder de fogo e mobilidade, não permanece em posição defensiva, pois é uma Grande Unidade normalmente utilizada para ataque e aproveitamento do êxito, quando em combate. Em poucas palavras, a Brigada de Cavalaria Blindada são “quatro enormes elefantes raivosos (2 RCC e 2 BIB) apoiado por leões ferozes!”. No comando da Divisão de Santa Maria: “A tropa já chegou na BR-290, próximo a Rosário do Sul?”- pergunta o general da Divisão, andando para lá e para cá no seu gabinete. O seu Chefe do Estado-Maior responde: “General, o senhor determinou que um Batalhão de Infantaria Blindado e um Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado fosse à frente para impedir a manobra de uma Brigada de Cavalaria Blindada. Me desculpe, mas isso é um suicídio. O máximo que essas unidades conseguirão é “retardar” a Brigada por pouco tempo, até serem “atropeladas e esmagadas. Me desculpe a sinceridade”. O general se exacerba: “Eu mandei?! E você, seu “Instrutor da ECEME”, “01 de Turma” e sei lá mais o quê?! Você fez o quê? Eu dei uma ordem clara para deslocar tropa para lá. Apontei os dois comandantes que estavam na minha frente. Você deveria fazer o resto! Estou pensando que a nossa Brigada de Infantaria Blindada já estivesse lá! E o Regimento de Carros de Combate? O Esquadrão de Cavalaria Mecanizado? E o resto da nossa tropa em Santa Maria?! Você não mandou para lá?! Esses 14 mil homens ainda estão “dormindo” nos quartéis?!”. O Chefe do Estado-Maior da Divisão empalidece, os lábios secam, as pernas tremem sem parar. “Mas, general, eu pensei que (…)”. “Pensou o quê, coronel (…)?! Trate de “consertar” o que não fez e deveria ter feito! Quero você e toda tropa na estrada, agora!”. Ele se senta e pega o telefone: “Liga para o general comandante da Brigada de Infantaria Blindada, agora!”. Distante dali, na região de Rosário do Sul, imediatamente após a ponte do rio Santa Maria. O General se reuniu com os comandantes das Unidades Operacionais e adotou um “dispositivo de expectativa” por não ter, ainda, todas as informações do deslocamento das tropas que enfrentará, apesar de saber que a maioria virá pelo eixo de Santa Maria (RS-640). O General sabe, por conhecer a tropa de Santa Maria, que enfrentará um adversário mais fraco, porém, jamais gostaria de “apontar” seus canhões para “irmãos de Arma”. Ele tem convicção que um combate entre “irmãos” poderia criar uma “cisalha” no Exército. Logo depois que todas as “peças de manobra” ultrapassaram o rio Santa Maria, o General determinou o “lançamento” de uma Força de Segurança: Força Tarefa (FT), composta de um Batalhão de Infantaria Blindado, com uma Bateria de Artilharia integrada e que se posicionasse a aproximadamente 6 Km à frente, antes do cruzamento da BR-290 e a RS-640. Manteve, também, duas FT RCC (Regimento de Carros de Combate) ECD (em condições de) atacar, se necessário. O restante da Brigada de Cavalaria Blindada ficaria na BR-290, em condições de prosseguir. A frente da FT BIB é de 3 Km, mantendo o contato visual entre as Forças atuantes. Por enquanto, só tem informações que duas Unidades de Santa Maria estão se deslocando para o cruzamento entre a BR-290 e a RS-640. Mas, pode ser que a Brigada de Infantaria Blindada da Divisão de Santa Maria entre em operação. Em princípio, o General manteve as Unidades da Brigada de Cavalaria Blindada dentro das distâncias regulares entre elas e coesas no eixo da Br-290. Poucas horas antes. O General ainda permaneceu no “churrasco” até todos serem servidos, inclusive a sua tropa. Mandou que o CHEM adiantasse os procedimentos da transposição da ponte sobre o rio Santa Maria. Os comandantes das Unidades Operacionais, também, foram na frente. A sua frieza e a rapidez de raciocínio evitaram que a maioria ali presente sequer imaginasse o que estava ocorrendo lá fora. Denise, sim, ela sabia. Sem sequer falarem sobre o assunto, ela sabia que o marido controlava tudo que ocorria ali e fora dali. Às vezes, encostava a cabeça nos ombros dele. Sentia o seu “perfume” misturado a poeira e mato. De tenente a general, ele sempre esteve com a sua tropa, com os seus soldados. Jamais deu uma “ordem” sem antes ter feito ele mesmo ou ter comprovado que era possível realizar. As suas fardas nunca chegaram “limpas” no retorno para casa. E nem foram com ele para o quartel sem lavar ou malpassadas. – Mérito dela. O General avisa o amigo Domingos que tem que partir. Pouco depois se despede sob aplausos dos convidados. Abraça fortemente o seu amigo deputado e cochicham alguma coisa nos ouvidos. Sai acompanhado de Denise. Ela o conduz até o acostamento da BR-290. Ali, se abraçam e se beijam, sob a penumbra e a “força” da lua nova. Em seguida, ele embarca na “viatura operacional leve” e some na escuridão da estrada. Denise chora e reza ao mesmo tempo. Quando irá vê-lo novamente?
Por: Thomaz Nogueira, ex-secretário da Receita, ex-secretário de Planejamento do Amazonas, ex-superintendente da Suframa, atual avô e Consultor Tributário.