O JOVEM GENERAL – Êxodo 12:34

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“(…)E tu (Moisés), levanta a tua vara e estende a tua mão sobre o mar (Vermelho) e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar seco (Êxodo14:21). O General embarca num “Leopard”, o Carro de Combate mais poderoso da sua Brigada Blindada, munido de canhão 105 mm e pesando 42 toneladas, sobre lagartas. Antes, como sempre fez em toda sua vida, pela manhã ou em momentos importantes, leu passagens da Bíblia. O Céu está claro com nuvens esparsas. A Br-290 corta o município de Rosário do Sul, passando por bairros da periferia. Os dois Regimentos de Carros de Combate se desdobraram numa frente de 3 Km, na conjunção das BR-290 e BR-158 (à Oeste), pouco antes da entrada de Rosário do Sul. Os dois comandantes dos Regimentos de Carros de Combate são ex-alunos do General na Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME). Eles nutrem pelo General um profundo respeito e admiração. O clima entre os dois comandantes é de angústia e tensão. Por um lado cumprem uma ordem do seu comandante direto, por outro lado jamais desejariam combater contra o General e seus irmãos de farda. “Cavalaria não ataca Cavalaria amiga”. Não ataca? A aproximadamente dez quilômetros de Rosário do Sul, o General comanda “alto”. O Comboio para e aguarda. Ele sai da Coluna com o “Leopard” e sobe uma pequena elevação num descampado. Dali, de binóculos, visualiza o horizonte. De repente, centenas de cavaleiros e amazonas, saem do descampado e entram na rodovia. Eles vão se posicionando à frente do Comboio. O General, surpreso, manda que o “Leopard” retorne ao Comboio. Logo que o General ocupa a sua posição, bem ao lado, uma amazona se alinha com o “Leopard”. É Denise, sua esposa. Ele fica boquiaberto. Por milésimos de segundo lhe vem à mente a lembrança dos dois cavalgando nos pampas, na estância da sua família. Ela monta um alazão e com os seus frágeis braços domina o belo animal. Seus cabelos negros, soltos, como gosta, flutuam no ar. Ela se aproxima e diz: “Segue em frente, Rodrigo! Não desista!”. Em seguida lhe lança um beijo e segue à galope para a frente do Comboio. O General ainda observa a amada, quando um gaúcho “pilchado” surge de repente: “Bah, tchê, “generar”! Pensaste que nós íamos te abandonar?”. Era o estancieiro gaúcho que o visitou na véspera, acompanhado do filho. Sim, era ele: Domingos José de Almeida!”. O General o cumprimenta alegremente. Depois, o gaúcho acelera o galope e vai à frente. Em poucos instantes, toda a frente do Comboio é tomada por gaúchos e gaúchas montados, vindos das cidades vizinhas e, principalmente, de Rosário do Sul. Ainda em Rosário, seguindo poucos quilômetros depois da cidade, há a ponte sobre o rio Santa Maria. Ela foi “minada” pelo Batalhão de Engenharia de Combate Blindada à mando do General da Divisão de Santa Maria. O General dá ordem para o Comboio seguir. Agora há na Coluna, além da sua Brigada Blindada, uma coluna ao lado formada de “caminhoneiros” e, ainda pasmado, uma “coluna” de gaúchos e gaúchas montados em cavalos e éguas. Não há medo em seu olhar. Os motores fazem barulho e os animais ficam nervosos. Mas, seguem, obedientes aos seus donos. “Como imaginar Denise ali?”. – Se pergunta. Também, não lhe passa nenhuma preocupação. Ela sabe atirar desde pequena e cavalga melhor que ele. Em coragem, os dois são iguais. Uma brisa com aroma de capim verde lhe devolve o sorriso no rosto. Olha para trás e observa o Comboio. Dentro das viaturas, suas praças, seus sargentos, seus oficiais. Na véspera, durante a noite, caminhou por entre as viaturas, pelas barracas e, até no chão duro, observando cada um e agradeceu a cada um, em pensamento. Algumas horas, pela madrugada, ele o seu grande amigo, o CHEM, andaram toda a extensão do Comboio. Em Rosário do Sul, os comandantes dos Regimentos de Carros de Combate são avisados que uma grande multidão começa a ocupar o acostamento da BR-290 e as ruas por onde a rodovia cruza a cidade. São milhares de homens, mulheres e crianças, inclusive veteranos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha que moram na região. Uma rádio local faz o ”chamamento” da população para ir à estrada. A rodovia fica tomada de populares. Uma boa parte com a Bandeira do Brasil nas mãos. Os dois coronéis comandantes dos Regimentos de Carros de Combate, no Posto de Comando Unificado, se entreolham. O Comboio da Brigada Blindada está a dois quilômetros dos seus “Leopard”. O alcance útil dos canhoes 105 mm é de 2,5 Km. Portanto, podem atirar quando quiserem. O General observa pelos binóculos. Dá ordem de “alto”. Um silêncio toma conta da pradaria, só rompido pelo barulho dos carros e pelo rinchar de alguns cavalos mais rebeldes. O General observa uma multidão em cada lado da rodovia, vindo em direção ao Comboio. Seu rosto fica lívido. Nesse momento, um helicóptero sobrevoa o Comboio, vindo de Rosário do Sul. Um repórter, em transmissão ao vivo de televisão para todo Brasil, dentro da aeronave, diz: “É impressionante, minha gente! Jamais vi algo igual no mundo! Milhares de pessoas balançando a Bandeira Nacional, mais centenas de cavaleiros e amazonas, montados em cavalos, mais centenas de caminhoneiros em seus caminhões, todos “protegem” o Comboio do General! Quem protege quem, afinal?!”

Por: Elias do Brasil / escritor e historiador, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e articulista.

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