Não há qualquer guerra tradicional em que se possa ignorar o “soldado”, sem o qual as guerras não poderiam ser combatidas. Os movimentos táticos das tropas, as ações dos comandantes, dos generais, comportam a maior parte da atração do “teatro de operações” de guerra. Porém, é o “homem”, com seus erros e acertos, que a definem, com a vitória ou a derrota. E nem sempre o objetivo da guerra é conquistado com armas, mas com a política. Se houver a junção das duas, o domínio da arte da guerra e o domínio da arte da política, num só homem, o líder, aí se tem o “Estadista”. O General se reúne com o CHEM no seu Posto de Comando. Eles avaliam as possibilidades do possível conflito com as tropas de Santa Maria. Há uma grande preocupação do General em evitar ao máximo o “derramamento de sangue”, apesar de ser a hipótese mais considerada na ação que decidiram realizar desde Alegrete. Ele sabe que lutam contra o “Sistema” e, nesse momento, seu Comboio perdeu a vantagem da “surpresa”. O “Comboio” já é notícia no Brasil e no mundo. A partir de agora, principalmente se houver algum confronto de tropas, ele sabe que qualquer “centímetro de terreno” será conquistado a preço de muito “suor e lágrimas”. Ele e toda a sua tropa estão no “olho do furacão”! Em Santa Maria, o general comandante da Brigada de Infantaria Blindada se apresenta ao general da Divisão. “Eu quero que você “esmague” aquele comboio e traga a “cabeça” do general pendurada no para-choque da sua viatura! – inicia, o general da Divisão de Santa Maria. O general Cleber, mais moderno que o General comandante da Brigada de Cavalaria Blindada ( Comboio), rebelada, olha atentamente no “olho” do seu comandante de Divisão. Mas, não diz nada. “Quero que saia já com a sua tropa! Mesmo que aqueles dois comandantes traidores tenham subtraído dois Regimentos de Carros de Combate da sua brigada”. O general comandante da Brigada de Infantaria Blindada (BIB), ainda em pé, em frente ao general da Divisão, enfim se manifesta: “General, todas as minhas Unidades já estavam em “Apronto Operacional”, prontas para sair em combate. Eu vim lhe comunicar que a minha tropa sairá sim, mas não para cumprir as suas ordens. A partir de agora, eu e a minha brigada estamos aderindo ao “Comboio”. O general da Divisão de Santa Maria, se não estivesse sentado “cairia” de costas, tal a surpresa. Imediatamente, o general Cleber presta a continência e dá meia volta, saindo tão rápido como entrou no gabinete. Quando o general da Divisão de Santa Maria deu por si, a sala estava vazia. Ele tentou se levantar, mas as suas pernas não tinham forças para alavancar seus quase 130 quilos. Só lhe restou telefonar para os outros comandantes. De cada um recebeu a mesma resposta, estavam aderindo ao “Comboio”. Ainda, numa última tentativa, ligou para o Comando da Base Aérea. “Desculpe, general. Não iremos aderir ao “Comboio”, mas não iremos combatê-lo. Optamos pela neutralidade”. O general da Divisão de Santa Maria, enfim, liga para o Comando Militar do Sul. Se se tem que dar notícia ruim, que seja ele. Na mente, a ideia da promoção a general de Exército tão perto. O sonho de pertencer ao “Alto Comando do Exército (ACE)” agora, depois de tudo, já se tornou um pesadelo. No Comboio, o CHEM entra apressadamente no Posto de Comando: “General! O general Cleber, comandante da Brigada de Infantaria Blindada de Santa Maria, deseja lhe falar”. E entrega o telefone ao General.
Por: Thomaz Nogueira, ex-secretário da Receita, ex-secretário de Planejamento do Amazonas, ex-superintendente da Suframa, atual avô e Consultor Tributário.