O Sol da quarta-feira começa a colorir a noite escura. São 04:40 horas. Há dois dias o Comboio saiu de Rio Grande de São Pedro. Era o começo. O General pega a cuia de chimarrão das mãos do CHEM: “Bom dia, tchê!”. Dá uma longa sorvida no mate quente. Ele está com ar animado, como se estivesse acabado de acordar, mas não “prega o olho” há 48 horas. O Comboio parou na SC-287, em Neves, próximo à Santa Maria. Ele está com os oficiais do seu Estado-Maior e os comandantes das Unidades. É o último ‘briefing” antes de entrarem em Santa Maria. “Todos os motoristas estão com os “croquis” dos trajetos na cidade?”. Eles confirmam. “Os militares guias do Pelotão da Polícia do Exército Mecanizado já estão em cada viatura, juntos aos motoristas? Pois bem, formaremos o “quadrilátero encouraçado” com os “Leopard” e mais todas as viaturas blindadas com ou sem lagartas. Com isso, a parte central da cidade ficará cercada e totalmente sob nosso controle, como se fosse uma fortaleza. As Unidades de Apoio ao Combate, como o Batalhão Logístico (Blog), irão ocupar as áreas do Jóquei e outras áreas indicadas pelo general Cleber, já distribuídas a vocês”. E continua: “A ocupação de Santa Maria fará com que a Brigada de Cavalaria Blindada seja desdobrada de forma descaracterizada como Unidade de Combate. As Unidades serão distribuídas em locais estratégicos na área urbana. Os principais edifícios administrativos serão ocupados pela tropa a pé e viaturas blindadas. O prédio da Prefeitura e o Fórum de Santa Maria são os objetivos principais”. E ainda: “Nesse momento o prefeito de Santa Maria está sendo convidado na sua casa para uma reunião comigo na sede do Comando da Brigada de Infantaria Blindada, na avenida Borges de Medeiros. O General dá a palavra ao CHEM, que monta um cavalete, fixando uma “carta geográfica” de Santa Maria e explica: “O lado 1 do “quadrilátero encouraçado” inicia na rua Ângelo Bolson, na direção do morro da Caturrita (…) até a rua Venâncio Aires; o lado 2 vai da rua Venâncio Aires, na direção NE, até o cruzamento com a avenida Rio Branco; o lado 3 pega a avenida Rio Branco, na direção SO, e atravessa o centro até a avenida Medianeira; o lado 4 segue na avenida Medianeira até a rotatória da rua Ângelo Bolson. Com isso está formado o “quadrilátero encouraçado” que abrange a parte central da cidade e barra os acessos originários das rodovias que adentram Santa Maria”. E continua: “Também, às dez horas da manhã está prevista uma reunião com jornalistas e canais de televisão, quando o General irá discursar e avisará sobre a “intervenção administrativa” na cidade, com indicação de um “interventor”, e que Santa Maria já estará em Estado de Sítio e regida pela Lei Marcial a partir de hoje. Por enquanto, se mantém o sigilo possível da operação. A previsão da tomada de Santa Maria é de 4 horas de duração, portanto até 09:00 horas a operação estará completada”. E continua: “O outro lado da cidade, a Este, já está, nesse momento, sob controle da Brigada de Infantaria Blindada, inclusive a região do Aeroporto e da Base Aérea da Aeronáutica. A SC-158 (Boi Morto) e a SC-392 (Passos das Tropas ao Sul e Posto da Polícia Rodoviária Federal, ao Norte) já estão, também, bloqueadas”. Em seguida presta continência ao General e encerra. Dez minutos depois os motores são ligados. Aumentam os sons dos motores, das lagartas e dos corações!
Por: Elias do Brasil / escritor e historiador, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e articulista.
Excelente relato, ainda que fictício, muito bem embasado em dados concretos das operações de uma Força Tarefa blindada militar .Texto agradável de se ler, linguagem dinâmica , trama bem traçada, entremeando a subjetividade do ser humano com a realidade dura das operações militares e suas consequências. Grande apelo cívico e patriotico. Parabéns grande Elias. Aguardamos para breve a publicação da obra completa.