Opinião | Linhas Tortas

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O medo está nas paredes da casa, em cada lugar que as baratas passam nas suas aventuras noturnas. O medo está nas roupas caras, nos ternos italianos, nas camisas de linho, nos sapatos importados. Aliás, em tudo que olha o medo está ali, mais ou menos intenso. Os olhos que leem sentenças injustas dentro da sua lei, do seu caderno de leis, esses são os condutores da realidade ao mundo no qual habita na sua mente. O outro, o submundo, onde os seus diabos o perseguem diuturnamente, ele não controla, a sua mente não controla, o seu corpo não controla. Acordado ou dormindo, o seu verdadeiro “Eu” vive ali, ao som das odes satânicas: o eco da morte cruel que se aproxima, surgindo de todos os lados. A família, esposa, filhos, há muito se desintegraram ante a realidade da sua raiva sem fim, do total desamor ao ser humano. Esposa e filhos deveriam ser humanos. Os seus quase não são por sua causa. Fogem, também, para os seus submundos encantados por serpentes. As mesmas serpentes jogadas no calabouço dos seus milhares de prisioneiros condenados pelo fato de existirem: os inocentes cidadãos que odeia. Todo dia o seu desejo é não acordar, mas acorda já odiando e morrendo de medo, em pânico. Todos os vícios lhe vêm à mente e tentam seduzi-lo: a bebida, o sexo, as drogas e tantos outros que alimentam a escória humana que habita os infernos da Terra. A covardia o salva desses ataques dos seus demônios mais ferozes. Morre de medo de morrer nas mãos dos seus condenados, talvez até urine nas calças só de pensar na morte, tal qual criança que sonha com fantasmas. Então, ele cria outros monstros, cria culpados, inventa estórias para contar e tentar convencer as pessoas de que é um perseguido pelos habitantes da terra que habita e acusa, ainda, uns ou outros de desejarem atentar contra a sua vida. A covardia o deixa mais valente e cruel. Apesar de diabólico, sofre com o sofrimento dos seus mais próximos, tão ausentes na sua vida, tão presentes na sua angústia. Os seus iguais o respeitam por temor, não por admiração. Aliás, provavelmente o acham um ridículo e pobre de conhecimento jurídico. Seus auxiliares que escrevem a maioria dos seus textos sentenciadores o abominam, apesar do sorriso e dos elogios falsos. A maioria deles deve vomitar depois de cumprir a sua ordem para escrever “belas sentenças” de condenação. Se não obedecerem perdem o emprego. Ao falar em público, as palavras escapam por jaulas de metais enferrujados da prisão que habita. Seus olhos não observam as pessoas, mas tentam esconder o pânico de estar ali, presente. O corpo treme como se tivesse levado um leve choque elétrico. A face assusta qualquer criança, pois atrás da pele alva raspada com lâminas de fino aço, há um monstro assustador. Criança não gosta de monstros, por isso não há fotos com ele junto a crianças. Talvez, já tenha escolhido um terno italiano, com corte exclusivo, sob medida. Certamente treinará no espelho um sorriso que ache convincente. Não dormirá de hoje para a amanhã. Nem com várias pílulas de diazepan. O inferno não dorme, o mal não dorme, o diabo não dorme, por que o deixariam dormir? O olhar no teto, o pânico por todo o corpo. Rola de um lado para o outro da cama. Logo cedo, o automóvel vem lhe pegar. O motorista sorri aquele sorriso falso de quem não quer perder o emprego. Os seguranças também. Ele respira fundo e olha para o infinito do seu submundo e sorri. Vai comemorar junto aos leões do mal. A turba o espera às oito do oito.

Por: Elias do Brasil / escritor e historiador, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) e articulista.

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