‘Prefiro usar short nas competições’, diz a surfista Tatiana Weston-Webb

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O português com sotaque americano da surfista brasileira Tatiana Weston-Webb, de 27 anos, atravessa a tela do computador durante a entrevista feita por chamada de vídeo, numa brecha de sua atribulada agenda de treinos e competições pelo mundo. Uma das três mulheres que representarão o Brasil no surfe nos Jogos Olímpicos de Paris, em julho, Tatiana é a única brasileira a integrar a Elite Mundial do Surf, a WSL. Nos últimos meses, a pressão por uma boa performance ficou ainda mais acirrada, na busca pela classificação para as Olimpíadas, que, para ela, veio em abril do ano passado. Neste mês, ficou em segundo lugar no ISA Games, em Porto Rico. Com a posição, a surfista ainda garantiu, de quebra, a presença de outra brasileira (Luana Silva) sobre as ondas nas Olimpíadas de Paris. “O trabalho duro da classificação já foi feito”, comemora Tatiana.

Com mãe brasileira e pai inglês, ela nasceu em Porto Alegre e se mudou com apenas um mês de vida para o Havaí, onde cresceu. No paraíso dos surfistas, arriscou as primeiras manobras com 8 anos. Nunca mais parou e hoje ocupa o sexto lugar no ranking mundial. Quando não está viajando, a atleta se divide entre duas casas, uma no Havaí e outra no Guarujá (SP), onde mora com o surfista paulista Jessé Mendes,com quem é casada há quatro anos.

Na entrevista, Tatiana fala sobre os desafios do surfe feminino, conta como lida com o machismo, destaca a relevância da saúde mental no dia a dia das competições e traça perspectivas para o futuro. A seguir, os melhores trechos da conversa.

Ao longo dos anos, como lidou com o machismo dentro do surfe?

É um esporte muito machista mesmo. Toda vez que uma mulher entra na água pode se deparar com isso. Antigamente, era pior. Esse cenário está mudando. Hoje, os homens do tour nos respeitam. Em 2019, as competições organizadas pela World Surf League (WSL) passaram a ter premiação igual nas categorias feminina e masculina. Essa equiparação foi uma grande conquista. Nós, mulheres, ficamos em choque de tanta felicidade. Os homens ficaram assim: ‘Meu Deus do céu’ (risos). Porém, há muito mais patrocínio para eles. A indústria da moda e da beleza ainda não descobriu o surfe feminino. De vez em quando, vejo em campanhas de grifes como Chanel uma modelo com uma prancha de surfe, para parecer “cool”. Mas o que a Chanel já fez pelo surfe feminino? Nada.

Viveu alguma situação explícita de machismo dentro d’água?

Foram tantas que não cabem nos dedos das mãos. Mas tem uma que me marcou bastante, em Pipeline, aos 14 anos. Estava há um tempão no mar esperando a série. Eu tinha a prioridade. Quando fui na onda, um bodyborder tomou a frente. Percebi que ele ia me ‘rabear’ (interromper a perfomance). Na areia, ele me disse: “Desculpa, mas não poderia dar uma da série para uma menina”. Isso acontecia com frequência, mas agora é bem mais raro.

O que faz para se manter saudável mentalmente?

No surfe, posso treinar mil horas e a onda não vir na minha bateria. A gente não tem controle. Então, tento controlar apenas o que é possível. Do contrário, gasta-se energia com o que aconteceu na semana passada e não se vive o momento. Lido bem com isso por entender que, às vezes, é meu dia, às vezes, não. Mas também recebo muita ajuda da minha psicóloga, oferecida pelo Comitê Olímpico do Brasil.

Como você escolhe o figurino?

Gosto de surfar de biquíni, especialmente em casa, no Havaí ou no Guarujá. Quando estou competindo, por saber que o mundo inteiro está me assistindo e que o meu bumbum vai estar diante das câmeras, prefiro short. Porque essa possibilidade me deixaria mais ansiosa. Querendo ou não, nós, mulheres, estamos sempre sendo julgadas.

Quais são seus sonhos para o futuro?

Depois dos 30, terei outros objetivos. Eu e meu marido, meu maior apoiador, desejamos filhos, Depois de tantos anos de trabalho e pressão, vou querer um pouquinho de paz.

O que representa o surfe para você?

Arte. É a minha maneira de me expressar no mundo.

Fonte: O Globo/Foto: Tauana Sofia

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