Rosamaria do vôlei reflete sobre saúde mental para atletas: “Nossa vida é um turbilhão”

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Estreante nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, Rosamaria Montibeller caiu na graça da torcida com lances decisivos que garantiram o retorno da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino ao pódio — o Brasil ficou de fora na competição no Rio 2016 — e uma medalha de prata para a equipe do técnico José Roberto Guimarães. De lá para cá, muita coisa mudou na vida da atleta natural de Nova Trento, em Santa Catarina. Se antes era anônima, hoje lida com milhões de seguidores que a acompanham, diariamente, nas redes sociais (só no Instagram, são 1,2 milhão de followers). O endereço também sofreu alteração. Depois de quatro anos na Itália (onde passou por times como Perugia e Casalmaggiore), ela agora vive no Japão, onde defende o clube Denso Airybees.

“Foi, de fato, uma mudança radical. É a primeira vez que me sinto, realmente, uma estrangeira. Por ter crescido em família italiana, sentia que estava um pouco inserida na cultura e próxima à língua, já cheguei conseguindo conversar com todo mundo. Aqui, no início, foi mais difícil, porque a comunicação era feita através da minha tradutora e um pouco em inglês com as meninas do time”, diz Rosamaria à Vogue sobre morar no Japão.

Apesar da barreira do idioma, a jogadora tem feito sucesso por lá e já é a segunda maior pontuadora da liga japonesa. “O estilo de jogo japonês é mais defensivo e de muita qualidade técnica, porque elas não são tão altas quanto no Brasil ou na Europa. Tenho aprendido sobre paciência e que nem tudo é força, mas jeito. Você pode dar a pancada mais forte do mundo, elas vão estar lá, na direção correta, colocando a bola para cima. Minha defesa cresceu muito aqui”, afirma a atleta, de 29 anos.

Em contagem regressiva para as Olimpíadas deste ano, que acontecem em julho em Paris, Rosa, como gosta de ser chamada, sabe do seu peso para a equipe e não se esconde da responsabilidade que tem. Diretamente da cidade Nishio, localizada em Aichi, ela falou com exclusividade à Vogue Brasil sobre saúde mental após enfrentar a depressão em 2022, futuro pós-vôlei e, claro, como estão os preparativos e as expectativas para a competição. “Tenho certeza que estamos brigando entre as melhores equipes do mundo para trazer uma medalha para casa”, garante. Leia o bate-papo completo abaixo!

Vogue Brasil: Como estão as expectativas para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris?

Rosamaria: As melhores possíveis! Passou tão rápido, este ciclo olímpico foi mais curto [por conta da pandemia, os Jogos de Tóquio aconteceram em 2021 e não em 2020, como era planejado], mas as expectativas são muito boas. Estamos em uma preparação intensa. Agora, cada dia que passa é um dia a menos, porque realmente vai passar muito rápido daqui até o início da competição. Acho que temos um grupo bem interessante que pode trazer bons resultados para o Brasil. Claro que muita coisa pode acontecer até lá, mas somos um grupo que trabalha e é comprometido.

Vogue Brasil: Esta é a sua segunda vez participando dos Jogos Olímpicos, tem sentido alguma diferença?

Rosamaria: Um pouco. Acredito que da última vez teve o nervosismo da estreia, agora me vejo mais preparada e experiente, sabendo melhor o que esperar. As pessoas sempre falam de como são as Olimpíadas, têm muitas histórias sobre a atmosfera, o significado de estar ali, mas acredito que só depois de viver aquilo que conseguimos entender, de fato, o que é ser um atleta olímpico. É realmente diferente de todos os outros campeonatos. Claro que o nervosismo sempre vai existir. Afinal, tenho muita vontade de estar lá de novo. Nada é garantido, temos que conquistar a nossa vaga no dia a dia. Então, espero poder fazer um bom trabalho para ter a oportunidade de estar mais uma vez nesse grupo seleto de apenas 13 jogadoras.

Vogue Brasil: Em 2020 você chegou a ser eleita a maior personagem das Olimpíadas por uma enquete realizada pelo Globo Esporte. Como lida com esse carinho da torcida?

Rosamaria: Fiquei muito feliz com o carinho que recebi durante e após a competição, porque consegui, não só estar nas Olimpíadas, mas ser uma peça importante para o meu time em momentos decisivos. Isso fez muita diferença para mim e para minha carreira, com certeza. A gente sonha em estar lá, trabalha e se dedica tanto, então poder jogar, participar e ganhar uma medalha foi realmente especial. Claro que tudo isso vem acompanhado de uma certa pressão, mas com grandes conquistas vêm grandes responsabilidades. Tenho aprendido a lidar com isso e a aceitar que a pressão é um privilégio para poucos.

Vogue Brasil: Como tem sido sua preparação para a competição?

Rosamaria: Tem sido uma preparação em todos os sentidos. Até essa minha escolha de vir para o Japão também foi visando uma nova experiência, uma troca de cenário na minha carreira, um desafio que me propus depois de quatro anos na Itália. Quero oferecer a minha melhor perfomance para a Seleção Brasileira, então estou passando por acompanhamento nutricional, físico e também fazendo terapia, tentando não deixar nenhuma brecha solta.

Vogue Brasil: Em 2022, em entrevista à Vogue, você chegou a falar sobre sua luta contra a depressão. Como você está agora?

Rosamaria: Graças a Deus, bem! Esse acompanhamento contínuo com a terapia tem me ajudado a me conhecer melhor, me entender e aceitar também. Certas coisas a gente tem que aprender a lidar e se tornar mais forte mentalmente. Então, hoje, estou superbem, mas vejo de grande importância esse acompanhamento psicológico frequente, principalmente para atletas. Nossa vida é um turbilhão e é muito comum termos altos e baixos dentro do nosso trabalho. Por isso, precisamos saber quem nós somos além do esporte.

Vogue Brasil: Como tem sido sua adaptação ao Japão?

Rosamaria: Todos sempre foram muito solícitos. Nos viramos com mímica, Google Tradutor… Foi uma recepção incrível. Lógico que é um choque cultural, uma mudança bem grande em ritmo de treino, mentalidade e estilo de jogo. Mas tenho que me adaptar, afinal, a estrangeira sou eu, né? E aí entra o aprendizado de olhar pelo prisma do outro. Acrescentei muitas coisas na minha rotina e acredito que melhorei como atleta e como pessoa desde que cheguei.

Vogue Brasil: Apesar de nova, você não esconde que já pensa em sua carreira pós-vôlei. O que pode nos adiantar sobre seus planos para o futuro?

Rosamaria: Tem muitos assuntos que eu gosto e que tenho vontade de aprender mais sobre, principalmente na área da moda e cuidados com a estética. É um universo que sempre gostei muito e gostaria de me aprofundar, tenho buscado isso. Estamos com um projeto para este ano de uma coleção de biquínis, então, espero que dê certo. O futuro guarda muitas opções e oportunidades.

Fonte: Vogue Globo/Foto: Divulgação/Glauber Bassi.

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