O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta segunda-feira que Moscou não está de acordo com termos-base de um acordo de paz com a Ucrânia, atribuídos pelo chanceler a “representantes da equipe” de Donald Trump. A sinalização russa, a pouco mais de 20 dias da volta do presidente à Casa Branca, ocorre no mesmo dia em que o governo americano anunciou um novo pacote de auxílio à segurança ucraniana no valor de US$ 2,5 bilhões (R$ 15,5 bilhões no câmbio atual).
— Desde já, não estamos satisfeitos com as propostas feitas em nome dos representantes da equipe do presidente eleito [dos EUA, Donald Trump] de adiar a adesão da Ucrânia à Otan por 20 anos e de introduzir um contingente de manutenção da paz formado por forças britânicas e europeias na Ucrânia — afirmou Lavrov à agência estatal Tass.
Ao longo da disputa presidencial nos EUA, Trump criticou o envio massivo de armas pelos aliados da Otan à Ucrânia, afirmando que alcançaria um acordo de paz com a Rússia assim que retornasse ao poder. A retórica do republicano preocupou aliados, que entenderam como um sinal de possível desengajamento de Washington do conflito em solo europeu, o que poderia favorecer os interesses russos e prejudicar a posição ocidental no continente.
Por outro lado, nenhuma proposta foi apresentada de fato por Trump enquanto presidenciável — a não ser declarações genéricas. Em dezembro, durante visita a Paris, ele defendeu um cessar-fogo imediato entre os dois países, além de se opor ao uso de mísseis de longo-alcance americanos contra o território russo. Posteriormente, o presidente eleito disse que não abandonaria a Ucrânia, apesar de suas críticas.
Ainda em novembro, a equipe de Trump se disse preparada para começar a discutir um acordo entre as partes, à medida que se especula que chanceleres europeus e Washington já estejam formatando saídas que incluiriam a presença de um contingente militar europeu na Ucrânia, ao longo da linha da frente que se estende por cerca de 1.000 km.
A hipótese teria sido discutida pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e o premier polonês, Donald Tusk, em Varsóvia, em meados de dezembro, e poderia envolver os exércitos de membros da Otan, ou de países com armas nucleares, como França e Reino Unido.
Enquanto Trump não assume o gabinete oficialmente, porém, a gestão do presidente Joe Biden segue tentando garantir meios de assegurar a capacidade prolongada da Ucrânia se manter no combate. O governo americano anunciou nesta segunda-feira um novo pacote de assistência de segurança de US$ 2,5 bilhões (R$ 15,5 bilhões) para Kiev.
O novo pacote anunciado nesta segunda-feira inclui um “pacote de redução” militar de US$ 1,25 bilhão de dólares (R$ 7,7 bilhões), permitindo ao Pentágono retirar armas dos arsenais dos EUA e enviá-las rapidamente para o campo de batalha. Outros US$ 1,22 bilhão (R$ 7,5 bilhões) serão financiados através da Iniciativa de Assistência à Segurança da Ucrânia.
“Hoje, tenho orgulho de anunciar quase 2,5 bilhões de dólares em assistência de segurança para a Ucrânia, enquanto o povo ucraniano continua defendendo a sua independência e liberdade da agressão russa”, disse o presidente Joe Biden, citado em um comunicado.
As reduções dos estoques do Departamento de Defesa incluirão drones, munições para sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade (HIMARS), mísseis guiados opticamente, sistemas de armas antitanque, munições ar-terra e peças de reposição, de acordo com um comunicado separado do Departamento de Estado.
— Os Estados Unidos e mais de 50 nações estão unidos para garantir que a Ucrânia tenha as capacidades necessárias para se defender da agressão russa — disse o secretário de Estado, Antony Blinken.
Uma parcela de quase um bilhão de dólares em drones, munições e equipamentos já havia sido anunciada no início do mês. (Com AFP)
Fonte: O Globo/Foto: Roman Pilipey/AFP