Tradição que divide a cidade: como a rivalidade entre Caprichoso e Garantido mudou a paisagem de Parintins

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No meio da floresta Amazônica, uma cidade se destaca. Lar de ribeirinhos e morada de quem nasce ou escolhe viver por lá, Parintins é também o berço de uma das principais identidades culturais do país. Banhada pelo imponente Rio Amazonas, é possível ver que essas águas e essa terra tem muito em comum.

O gigante Amazonas recebe esse nome no estado devido ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões e elas não se misturam. Parintins também é assim: ao mesmo tempo que se une pelo boi-bumbá, se divide pelas cores que cada um representa.

A divisão não aparece no mapa, nem fica tão clara quando vista do alto, mas há um limite bem definido. A linha imaginária que corta a cidade é tradição que começou lá atrás.

“Tem uma linha imaginária que é a catedral. A catedral foi durante muito tempo o ponto mais alto da cidade, onde tem o mirante, então a catedral e a rua que sai dela até o bumbódromo acaba sendo essa linha imaginária e depois isso se transfere para o lado novo da cidade que é o próprio bumbódromo, isso se transfere pintando de um lado azul e do outro vermelho”, explica o professor universitário Diego Omar.

O Boi Caprichoso nasceu na parte central da cidade, região conhecida como “francesa” e “urubuzal”. O Boi Garantido se fez em um bairro mais afastado, na “baixa da xanda”, hoje conhecida como “baixa do São José”. Os redutos ficam em lados opostos da cidade.

Do lado do boi vermelho, uma casa azulada destoa da paisagem. Nela vive dona Maria, que junto da família, se mantém resistente em meio a rivalidade entre os bois há 27 anos.

“Eu casei, aí tive que mudar. Logo nos primeiros momentos que meu marido disse que era aqui eu falei ‘logo no lado do garantido?’. Ele disse que foi onde achou então eu falei ‘bora’”, relembra ela, que não esconde o amor pelo boi azul. “Ninguém gosta mais desse boi do que eu”, brinca.

E foi assim, em 12 de junho, data da tradicional saída às ruas do Garantido, que a família de dona Maria criou um pontinho azul no meio da festa vermelha.

A divisão da cidade fica evidente até nos detalhes. Na faixa de pedestre, um lado é vermelho, outro é azul. Bancos de praça, calçadas e placas de sinalização também ganham as cores dos bumbás, reforçando uma dualidade que se intensifica durante a semana do Festival de Parintins.

Pelas ruas da cidade, os triciclos são os principais meios de transporte. Eles levam moradores e visitantes do jeito bem típico de cidade pequena e aqui, são pintados para atender os dois lados.

Hoje, cerca de 400 triciclos são cadastrados nas associações que representam esses trabalhadores e na semana do festival eles estão por todo canto da cidade.

Muitos dos trabalhadores que pedalam dia e noite transportando as pessoas (popularmente chamados de “tricicleiros”) apostam em triciclos ornamentados para atender até os indecisos.

Mesmo tão presente no dia a dia do parintinense, a rivalidade entre as duas torcidas se limita ao imaginário popular. Em uma disputa onde a violência dá lugar ao respeito, vence a cultura popular.

*G1/AM/Foto: : Patrick Marques/g1AM

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