O cenário geopolítico global acaba de ganhar um novo capítulo tenso — e o Brasil está bem no meio dele. Em uma declaração explosiva, Donald Trump, ex-presidente e atual pré-candidato à presidência dos Estados Unidos, afirmou que países que continuarem comprando petróleo da Rússia serão punidos com tarifas de até 500%. E, segundo ele, o Brasil está no topo dessa lista.
A ameaça não é apenas retórica. Ao lado de Mark Rutte, novo secretário-geral da OTAN, Trump deixou claro que o tempo da diplomacia passiva chegou ao fim. Em suas palavras, quem continuar financiando — direta ou indiretamente — a máquina de guerra de Vladimir Putin será tratado como inimigo comercial do Ocidente.
Brasil na mira: o motivo da fúria americana
Em 2024, o Brasil importou mais de US$ 8 bilhões em óleo diesel russo, de acordo com dados do ComexStat, fortalecendo ainda mais os laços com Moscou. A aproximação, que começou já nos primeiros meses do atual governo, é vista por Washington como um endosso ao regime de Putin — principalmente após o Brasil se recusar a condenar abertamente a invasão da Ucrânia e apoiar resoluções ambíguas dentro do BRICS.
Durante a cúpula do BRICS 2025, por exemplo, o Brasil apoiou um documento final que criticava a resistência ucraniana, algo que causou desconforto até mesmo entre aliados históricos do país. A escolha estratégica do Itamaraty de se aproximar da Rússia, da China e do Irã começa agora a gerar consequências reais.
Uma bomba econômica pronta para explodir
As consequências de uma sobretaxa de 500% sobre produtos brasileiros seriam devastadoras. O país já sofre com uma tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos de origem agrícola e industrial. Se a nova medida for adiante, setores como o agronegócio, alimentos processados, minério de ferro e bens manufaturados seriam duramente atingidos.
“Se confirmada, essa tarifa pode inviabilizar exportações inteiras. Empresas exportadoras quebram em semanas”, alertou o economista Ricardo Amorim, em entrevista à CNN Brasil.
A cadeia de fornecimento nacional também entraria em colapso. Com a queda de contratos internacionais e produção reduzida, o país enfrentaria escassez de insumos, inflação em disparada e desemprego em massa. Segundo o IBGE, o desemprego no Brasil subiu para 7% no primeiro trimestre de 2025 — tendência que deve piorar caso a crise comercial se concretize.
Com a escalada das tensões, fundos internacionais já começaram a recuar de investimentos no Brasil. Multinacionais congelaram contratos e estudos de impacto econômico indicam um possível efeito dominó, com pequenas e médias empresas entrando em colapso diante da perda de competitividade no exterior.
A cotação do dólar, que vinha oscilando entre R$ 4,90 e R$ 5,10, disparou para R$ 5,60 após as declarações de Trump, o maior salto cambial desde o início da pandemia. Isso amplia ainda mais o custo de vida, pressionando os preços de combustíveis, alimentos e eletrônicos.
Uma guerra indireta e silenciosa
A estratégia americana é clara: conter a Rússia sem recorrer a um conflito armado direto. Para isso, Trump propõe o uso intensivo das chamadas tarifas secundárias, que penalizam não apenas Moscou, mas qualquer país que mantenha relações comerciais estratégicas com o Kremlin. É uma guerra econômica disfarçada de política comercial.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos continuam enviando drones, mísseis de precisão e sistemas antiaéreos de última geração à OTAN, com destino final: Ucrânia. A manobra permite que Washington evite uma acusação formal de envolvimento direto no conflito, mantendo o apoio logístico e tecnológico necessário para sustentar a resistência ucraniana.
A crise da neutralidade brasileira
A imagem histórica do Brasil como país pacificador, que evitava se alinhar diretamente a potências beligerantes, parece cada vez mais distante. A diplomacia brasileira, outrora reconhecida por sua neutralidade e capacidade de mediação, hoje é criticada por sua ambiguidade.
O atual governo se recusou a condenar regimes autoritários como o de Nicolás Maduro, na Venezuela, mesmo diante de denúncias internacionais sobre fraude eleitoral. Também evitou condenar o grupo Hamas por ataques contra Israel, preferindo criticar a resposta israelense.
“A política externa brasileira vive uma crise de identidade. Deixamos de ser mediadores para sermos aliados de regimes que não respeitam princípios democráticos”, declarou o professor de relações internacionais Matias Spektor à Folha de S. Paulo.
Quem paga a conta?
O impacto final recairia, como sempre, sobre o cidadão comum. O aumento da inflação, o desemprego crescente e a queda do poder de compra criariam um ambiente econômico insustentável para a maioria da população.
As falhas do sistema público de saúde, a superlotação dos hospitais e a escassez de médicos já são parte do cotidiano dos brasileiros. Com uma nova crise econômica, a situação tende a se agravar. A combinação de juros altos, retração econômica e estagnação de investimentos pode mergulhar o país em uma das piores recessões das últimas décadas.
O dilema: ideologia ou pragmatismo?
No fundo, o dilema é claro: seguir alinhado a regimes que desafiam a ordem ocidental, como Rússia, Irã, China e Venezuela — ou adotar uma postura estratégica, voltada ao interesse econômico nacional e à proteção da população.
Donald Trump, com seu estilo agressivo e pragmático, está exigindo uma escolha. E a resposta do Brasil ainda não veio. Enquanto isso, a janela de 50 dias imposta por ele para que a Rússia recue da Ucrânia segue correndo. Se nada mudar, o Brasil pode pagar caro por decisões tomadas em nome de alianças ideológicas.
*Fonte: Revista Sociedade Militar/Foto: Reprodução