Trump ameaça os habitantes de Gaza: ‘Estão mortos’ se não libertarem os reféns

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O presidente dos EUA, Donald Trump, fez um ultimato ao grupo terrorista Hamas e ameaçou a população palestina na Faixa de Gaza de morte na noite de quarta-feira, afirmando que se os reféns capturados durante o atentado de 7 de outubro de 2023 que permanecem no enclave não forem devolvidos a Israel, o preço a se pagar será “um inferno”. O ultimato foi feito em uma publicação na rede social Truth Social, em um momento em que os EUA mantêm negociações diretas com a organização palestina sobre a continuidade do cessar-fogo assinado com os israelenses — recebendo críticas do grupo pelos comentários que dificultariam a manutenção da trégua.

“Ao povo de Gaza: um futuro lindo os espera, mas não se você mantiver reféns. Se você o fizer, você está MORTO! Tome uma decisão INTELIGENTE. LIBERTE OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO PELO QUAL PAGAR MAIS TARDE!”, escreveu o republicano em um trecho da publicação.

A mensagem direcionada à população palestina veio no trecho final da publicação, que na maior parte correspondia a um ultimato ao Hamas. Trump colocou a libertação imediata de todos os reféns — um ponto que tem estagnado o início da segunda fase do cessar-fogo acordado em janeiro — como fator necessário a continuidade da trégua, e que a não concordância significaria numa retomada da via militar, com apoio amplo americano a Israel.

“‘Shalom Hamas’ significa Olá e Adeus — Você pode escolher. Liberte todos os reféns agora, não depois, e devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que você assassinou, ou ACABOU para você”, escreveu Trump. “Estou enviando a Israel tudo o que precisa para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará seguro se você não fizer o que eu digo. Acabei de me encontrar com seus antigos reféns cujas vidas você destruiu. Este é seu último aviso! Para a liderança, agora é a hora de deixar Gaza, enquanto você ainda tem uma chance”.

O grupo palestino reagiu às manifestações de Trump na manhã desta quinta-feira, afirmando que as ameaças deixavam o retorno dos reféns como um objetivo mais distante, além de dificultar as negociações com Israel.

— Essas ameaças complicam as questões relacionadas ao acordo de cessar-fogo e encorajam a ocupação [como o grupo de refere a Israel] a evitar implementar seus termos — disse o porta-voz do Hamas, Hazem Qasim, pedindo aos EUA que pressionem Israel a entrar na segunda fase do cessar-fogo.

Pelos termos do acordo fechado em janeiro, a negociação para implementar essa segunda fase, na qual ocorreria a libertação dos reféns restantes, deveria ter começado 16 dias depois do começo da trégua. Pressionado internamente por aliados de coalizão que são contrários a arrefecer a posição quanto ao Hamas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem se mostrado relutante em seguir com os termos pré-estabelecidos. No domingo, o governo bloqueou a entrada de ajuda humanitária no enclave — algo denunciado por países estrangeiros.

Outro porta-voz do grupo palestino, Abdel-Latif al-Qanua, disse à agência britânica Reuters que as ameaças de Trump equivalem a um apoio ao que chamou de tentativas de Netanyahu, de evitar entrar em outro acordo de cessar-fogo.

— O melhor caminho para libertar os prisioneiros israelenses restantes é a ocupação entrar na segunda fase e obrigá-la a aderir ao acordo assinado por meio dos mediadores — disse.

O chefe da diplomacia dos EUA, Marco Rubio, afirmou em entrevista à Fox News que Trump não estava brincando na publicação.

— Ele não diz esse tipo de coisa se não estiver falando sério, como o mundo inteiro pode ver. Se ele diz que vai fazer algo, ele vai fazer — declarou. — Então, é melhor que levem isso a sério.

As ameaças do presidente, que se reuniu na quarta-feira com familiares dos reféns, coincidem com a confirmação de que os Estados Unidos e o grupo palestino mantiveram contatos diretos — uma posição que rompe com a antiga política de Washington de não dialogar diretamente com organizações que considera terroristas.

‘Ainda não acabou’

Questionada sobre essas conversas, reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu que o enviado especial dos EUA, Adam Boehler, tem “autoridade para falar com qualquer um”.

— Israel foi consultado sobre esse assunto — acrescentou, sem dar detalhes sobre o conteúdo das reuniões, ressaltando que “vidas de cidadãos americanos estão em jogo”.

“O governo israelense expressou sua opinião sobre as conversas diretas com o Hamas durante as consultas com os EUA”, afirmou o gabinete de Netanyahu.

Líderes do Hamas também confirmaram os contatos.

— Houve várias comunicações entre o Hamas e diferentes canais dos EUA, a mais recente com um enviado americano, e foi discutida a questão dos prisioneiros israelenses com cidadania americana, tanto os vivos quanto os falecidos — declarou um dirigente do grupo sob anonimato.

Segundo o Axios, Boehler se encontrou com autoridades do Hamas nas últimas semanas em Doha para tratar da libertação de cinco reféns americanos, dos quais quatro estariam mortos, de acordo com um levantamento da AFP.

Apesar dos contatos, o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, afirmou na quarta-feira que o objetivo de eliminar o Hamas em Gaza “ainda não foi alcançado”, o que coloca em dúvida a trégua vigente no território palestino. Por sua vez, Netanyahu limitou-se a dizer que está “determinado a vencer”.

A fome como ‘arma de guerra’

Em 19 de janeiro, entrou em vigor um acordo de trégua mediado por Catar, Egito e Estados Unidos. No entanto, os termos estão por um fio, pois Israel e Hamas divergem sobre como prosseguir com a libertação dos reféns e dos prisioneiros palestinos correspondentes. Israel quer estender essa fase até meados de abril, exigindo a “desmilitarização total” do território palestino, a saída do Hamas de Gaza e a libertação de todos os reféns antes de avançar para uma nova etapa. Já o Hamas quer passar para a segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente.

Fonte: O Globo/Foto: Andrew Harnik /Getty Images via AFP/04/03/2025

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