Donald Trump rapidamente deixou sua marca nos mercados financeiros, à medida que sua marcha rumo à vitória nas eleições presidenciais dos EUA impulsionou operações conhecidas como “Trump Trade” — investimentos que apostavam no retorno do ex-presidente americano à Casa Branca. No Brasil, o dólar subiu com força, chegando a R$ 5,8619 nos primeiros minutos de negociação.
A moeda americana se valoriza frente às principais divisas globais. Em comparação à cesta de moedas mais negociadas do mundo, bateu a maior cotação desde 2020. O euro teve queda superior a 2% em relação ao dólar.
A promessa do republicano de elevar tarifas comerciais contra todos os países, inclusive aliados, traz o temor de uma alta na inflação nos EUA — com importados mais caros, o preço dos produtos em geral tende a subir.
Isso forçaria o banco central americano a elevar juros, levando investidores a aplicarem em dólar para ter ganhos financeiros, o que fortalece a moeda dos EUA. Trump já afirmou que vai aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA, incluindo as que vêm de países aliados, e em pelo menos 60% sobre as da China.
O bitcoin também bateu recorde e, pela primeira vez, foi negociado acima de US$ 75 mil. Trump já prometeu uma desregulamentação total do mercado de criptoativos.
—Na Bolsa de Valores, as ações negociadas nas operações de pré mercado apontavam para uma valorização de 2,2% no índice S&P, um dos principais de referência nos EUA. A perspectiva de que Trump vá cortar impostos sobre os lucros corporativos impulsiona as ações.
Os mercados da Ásia e da Europa também reagiram à vitória de Donald Trump. Na China, o índice CSI300 caiu 0,5% e a Bolsa de Valores de Hong Kong, mais sensível às reações de investidores estrangeiros, recuou 2,3%.
Na Europa, as principais Bolsas de Valores operam em alta, diante da leitura dos analistas de que o desfecho das eleições americanas foi mais rápido do que o previsto, reduzindo incertezas de curto prazo. A Bolsa de Londres subia 1,38%, a de Frankfurt, 1,13% e a de Paris, 1,73%, pouco antes das 8h.
— Há um pouco de clareza, e agora sabemos com o que estamos lidando — disse Neil Birrell, diretor de investimentos da Premier Miton Investors. – Se o resultado tivesse sido apertado ou se Trump tivesse perdido por uma margem pequena, a situação teria ido parar nos tribunais e sido dolorosa – afirmou, acrescentando que espera que a volatilidade permaneça elevada no curto prazo.
Mas ações das empresas europeias que mais exportam para os EUA – montadoras, grupos de luxo, entre outros setores – estão em queda. Grupos que investem em energia renovável também têm fortes perdas – as ações da Vestas e da EDP chegaram a cair até 9%, diante do temor de que Trump paralise projetos já aprovados.
Os papéis da montadora alemã BMW recuaram até 6,8%, influenciados também pela divulgação de resultados trimestrais fracos pela empresa. As ações da Mercedes-Benz Group chegaram a cair 4,9% e as da Volks, 4,4%.
—Trump pode implementar tarifas por meio de ordens executivas, então para os fabricantes de automóveis alemães ou grupos de luxo franceses, tudo o que a Europa exporta é um risco — disse Nicolas Forest, diretor de investimentos da Candriam.
Para Clemens Fuest, presidente do instituto de pesquisa econômica Ifo da Alemanha, Trump já deu todos sinais de que seguirá uma agenda de maior restrição às importações.
— O comércio global como um todo pode ser prejudicado — resumiu Ulrich Leuchtmann, chefe de pesquisa de câmbio e commodities do Commerzbank.
Michael Strobaek, diretor global de investimentos da Lombard Odier, destacou que, particularmente para a Europa, a vitória do republicano não é uma boa notícia:
— Trump está de volta, e todos temiam por esse momento. Está muito claro que esse resultado, em termos relativos, não é bom para os ativos europeus.
Fonte: O Globo/Foto: Doug Mills/The New York Times