A Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou que formou uma comissão de sindicância para apurar as condutas de Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, suspeito de estuprar e matar a estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, de 22 anos, no último sábado (28), após uma calourada. Ele segue preso desde o dia do ocorrido.
O reitor Viriato Campelo relatou à TV Antena 10 que a sindicância irá apurar as atitudes do suspeito para além da questão criminal, independente dos resultados da investigação policial e do processo. Entre as sanções direcionadas a Thiago está o cancelamento da sua matrícula, mesmo que ele venha a ser inocentado. O prazo é de 30 dias.
A comissão se reunir para deliberar também sobre o fato do estudante estar bebendo dentro do campus, o que é proibido. A UFPI informou que Thiago Mayson tinha a chave da sala de estudo onde o estupro teria acontecido porque os alunos do mestrado, doutorado e iniciação científica de Matemática têm uma sala de estudo coletivo. A chave era compartilhada com outras 13 pessoas.
No dia do crime, um segurança da universidade flagrou Thiago com a blusa manchada de sangue e carregando a vítima desacordada em um corredor. Ao funcionário, o estudante relatou que a amiga tinha passado mal e estava procurando por socorro.
“Como pode o amigo de alguém estar passando mal e ele não chamar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)?”, questionou o delegado Francisco Costa Baretta, diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pela investigação, em entrevista ao R7.
Os seguranças e as amigas, que acompanharam Janaína na festa de recepção aos calouros, já prestaram depoimento no DHPP. Representantes da administração superior da universidade serão os próximos a serem intimados.
O delegado Barêtta afirmou ainda que pretende questionar a instituição sobre a segurança no campus, se existia autorização para a realização da festa e a duração do evento. Na sala de aula, onde o crime teria acontecido, os policiais encontraram manchas de sangue no colchão, na mesa e no chão. O material foi recolhido e encaminhado à perícia.
A Administração Superior da Universidade Federal do Piauí (UFPI), anunciou medidas relativas ao enfrentamento de questões ligadas à ocorrência que levou ao falecimento da aluna Janaina da Silva Bezerra.
Entre as providências, estão:
– instalação de Comissão de Sindicância Investigativa para apuração de eventuais responsabilidades administrativas no âmbito interno;
– acesso restrito, a partir de 22h, nas vias de circulação exclusivamente interna no campus Ministro Petrônio Portella – Teresina;
– suspensão da realização de eventos festivos até a regulamentação da matéria pelo devido Conselho Superior. Nesse período, excepcionalmente, esses eventos poderão ocorrer mediante solicitação formal do demandante e com autorização expressa do gestor do espaço;
– constituição de comissão para elaboração de protocolo oficial de enfrentamento à violência contra as mulheres no âmbito da UFPI, incluindo estratégias de sensibilização e educação permanente, em parceria com outras instituições do estado que também discutem a questão da violência de gênero, e considerando estudos, pesquisas e experiências já produzidas pela própria comunidade ufpiana;
– continuidade das ações de apoio à família de Janaína Bezerra, por meio da atuação da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC), que procederá a cuidados psicossociais, com visitas domiciliares por equipe multiprofissional, composta por psicólogos e assistentes sociais da instituição.
Amigos e familiares fazem ato em memória de Janaína Bezerra
Amigos, familiares e estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) realizaram na tarde desta segunda-feira (30) uma vigília no campus da instituição em memória da estudante de jornalismo, Janaína da Silva Bezerra. A jovem, de 22 anos, foi estuprada, morta e teve o pescoço quebrado após uma calourada que ocorreu nas dependências da instituição no último sábado (28).
O ato, que contou a participação de outras entidades da comunidade acadêmica, foi convocado pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos), curso do qual Janaína era estudante. Além das homenagens e pedidos de justiça, os alunos protestaram pela falta de segurança na UFPI.
Janaína Bezerra era a primeira pessoa da família a cursar o ensino superior. Muito estudiosa, a jovem adorava ler e queria ser escritora. Em entrevista à TV Antena 10, a mãe da jovem, Maria do Socorro, pediu justiça e citou que perdeu uma parte do seu coração com a precoce partida da estudante de jornalismo.
Maria do Socorro, mãe de Janaína Bezerra, também esteve participando do ato. Bastante emocionada, a dona de casa pediu, por inúmeras vezes, justiça pela morte de sua filha. Ela relembrou que a jovem era dedicada, sonhadora e que queria mudar a vida dos familiares através do Jornalismo. Com o coração destruído, dona Socorro comentou que perdeu um pedaço que não volta nunca mais.
“Tiraram a vida da minha filha, sonhadora, lutadora, vencendo pra ter uma vida melhor e achar um pra tirar a vida dela, estragou o sonho dela, que ela tinha sonho com a família e com os irmãos. Eu só peço uma coisa, justiça… que ela foi um pedaço de mim que não volta nunca mais. Nunca mais eu vou ver a minha filha. Toda hora eu choro, toda hora eu lembro dela.. Por que fizeram isso? Minha filha era muito importante pra mim. Nós lutamos por ela e ela estava lutando por nós que era pra ajudar a família e destruíram o sonho da minha filha. Eu quero justiça, justiça. Eu sou a mãe da Janaína. Eu quero justiça, estou clamando justiça por ela… não é por mim, é por ela”, encerrou.
O que diz o suspeito?
Thiago Mayson passou por audiência de custódia na tarde deste domingo (29). Em depoimento à polícia, ele contou que já conhecia a vítima e teriam “ficado” em outras ocasiões. Ele relatou que estavam em uma “calourada” na UFPI e que por volta das 2h convidou a jovem para seguirem a um corredor e em seguida se dirigiram a uma das salas de aula onde praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada por duas ocasiões, sendo a última por volta das 4h.
Ele alegou que permaneceu ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e solicitou socorro à segurança da Universidade por volta das 9h de sábado (28), que conduziu a vítima ao Hospital da Primavera, onde foi constatado o óbito. Segundo o IML, a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, o que causou lesão da medula espinhal e a morte.
O delegado Barêtta, coordenador do DHPP, relatou ao A10+ que Janaína foi violentada em uma sala no prédio do Programa de Pós-Graduação em Matemática. Na sala foi encontrado um colchão ensanguentado. De acordo com a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.
Integrante do DCE afirma que UFPI era ciente de festas e reafirma problemas na segurança
A morte brutal da estudante de Jornalismo, Janaína Bezerra, voltou a evidenciar os problemas de segurança reclamados por alunos da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ao A10+ a diretora de Comunicação do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Karla Luz, afirma que a instituição tinha ciência das festas e que as queixas sobre segurança já haviam sido repassadas.
A universidade tem ciência total de todos os acontecimentos. Essa responsabilidade eles não podem tirar de si. Embora eles digam que não e autorizado, eles sabem e os segurança vigiam lá, passam fazendo rondas as vezes, mas eles não ficam lá porque tem o detalhe que a segurança da UFPI é patrimonial. Eles vigiam o patrimônio”, explica.
*R7/A10+