Vivi para contar: ‘Tráfico humano legalizado’, diz brasileira que perdeu guarda do filho após teste parental na Dinamarca

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“Meu relacionamento com Rasmus Grarup Nielsen terminou em janeiro de 2023, e eu me mudei para um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica na Dinamarca. Em conversa com uma assistente social da cidade, permiti a visitação dele ao nosso filho de 4 anos, mesmo que o juiz tivesse suprimido esse direito do pai. Até o início do ano seguinte, o genitor agiu corretamente. Ele visitava e devolvia o nosso filho no dia programado, mas só porque eu estava sendo monitorada por servidores da prefeitura de Høje-Taastrup, onde morávamos. Por isso, ele seguiu o acordo.

Ainda assim ele continuava tentando provar para todos que eu sou louca e que não teria condições de morar com o meu filho, que eu tentaria sair do país. Por esse motivo fui enviada para outro abrigo, uma instituição de casa de família onde avaliavam a minha capacidade de cuidar do meu filho. Fiquei lá até dezembro e passei neste primeiro teste de como ser mãe.

No mesmo mês, assinamos um acordo de guarda compartilhada e consegui juntar dinheiro para alugar um apartamento em outra cidade, para morar com meu filho. Neste momento, ele percebeu que não conseguiria mais me controlar. Em março do ano passado, após nos mudarmos, na primeira visitação, ele pegou nosso filho e não quis trazer de volta.

Eu abri dois processos pedindo a guarda do meu filho novamente, mas ele permaneceu com o menino até novembro, desobedecendo a Justiça. Durante todo esse tempo, eu tentava visitar o meu filho, e ele dizia que eu só veria se fosse até a casa dele sozinha, mas eu era recebida com ameaças pelo Rasmus, ele roubava minhas coisas, me agredia e tentava relações sexuais forçadas comigo para me obrigar a permanecer na casa dele. Ele queria me obrigar a voltar a morar com ele.

Entrei em contato com polícia, bombeiros e servidores da prefeitura, todas as autoridades que lembrei para informar o que ele fez. Mas só mudou em 4 de novembro, quando a prefeitura ligou para ele, buscando a entrega do meu filho, mas ele disse que preferiria matar a criança em vez de entregar pra mim. Ele disse à polícia que iria para baixo da terra com o nosso filho.

Neste momento a polícia me ligou, informando uma reunião de emergência após tomarem a criança do pai. Disseram que o entregariam a mim de novo.

Mas, devido às ameaças, me falaram para devolver o apartamento em que eu estava e me mudar com ele para outro abrigo, novamente. Desta vez foi pior, porque nos fizeram rodar por três abrigos diferentes dizendo que o meu ex-marido saberia onde estávamos e que ficar seria perigoso.

Após isso, a prefeitura me ligou e disse que entraram com um processo, que eu ficaria sem meu filho por não ter mais casa e me mudar demais.

Os argumentos usados nos documentos enviados ao tribunal por parte da prefeitura informaram que entreguei o apartamento sem ter nada em vista. Disseram também que por motivos fúteis eu me mudei demais — sendo que nada disso é verdade. Tenho documentos comprovando as orientações dos funcionários públicos.

Apresentei isso na defesa, mas o julgamento há dois dias atras foi um circo, já tinham decidido o que fazer: em um primeiro processo deram a guarda unilateral para o meu ex-marido, e neste tiraram a guarda dele. A própria juíza ligou para o meu advogado e informou isso.

Eu e o meu ex-marido fomos avaliados pelo teste de ‘competência parental’, que durou três meses. Eles pedem para falar de minha infância, relação com o filho, avaliaram o meu QI, a minha capacidade psicológica com o teste para identificar desenhos e fizeram perguntas de conhecimentos gerais, mas totalmente voltado a conhecimentos europeus. Eles me faziam adivinhar quem era a princesa dinamarquesa com base nas questões. É totalmente racista perguntar isso a uma estrangeira, para se enquadrar como boa mãe.

Mas eu sabia as respostas. Eu passei no teste e o dinamarquês não, ele que foi reprovado. Mesmo assim a juíza deu a guarda total ao Nielsen, que está preso, foi caracterizado com doença mental e que as autoridades confirmaram já ter agredido o meu filho. Isso porque na cabeça deles existe um risco de a brasileira tirar a criança do país, um país que se recusa a dar proteção a essa mesma brasileira.

Agora quero recorrer dos dois processos: o primeiro em que foi passando a guarda unilateralmente para o pai e o segundo que tira nosso filho de nós dois. Mas, para isso, preciso pagar todas as custas judiciais. Pedi ajuda para a Embaixada em relação às custas judiciais, mas não obtive nenhum retorno. Sempre falam que estão informando Brasília, mas nunca acontece nada concreto. Nem mesmo orientação.

A minha ideia é reestruturar a minha vida aqui na Dinamarca, trabalhar e viver com meu filho. Eles não acreditaram. Prefeririam tirar o meu filho de mim. É uma cultura da Dinamarca, tirar o filho da mãe estrangeira, é um tráfico humano legalizado por conta da diminuição da população”.

(*em depoimento a Arthur Falcão, estagiário sob supervisão de Luã Marinatto)

Fonte: O Globo/Foto: Arquivo pessoal

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