‘A sensação é de alívio’, diz moradora que mudou de endereço devido protesto no CMA

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“A sensação é de alívio. Mas também de raiva por terem demorado tanto a tomar uma atitude. Sinto que sofri uma tortura psicológica”. O relato é da artista Lívia Rocha, que precisou mudar de endereço por conta dos transtornos causados aos moradores das proximidades do Comando Militar da Amazônia (CMA), onde acampavam grupos bolsonaristas, em Manaus. 

Lívia fez questão de retornar ao local, na manhã desta segunda-feira (9), para assistir o desmonte do acampamento. Ela, que é mãe de crianças pequenas, e morava em um condomínio em frente ao CMA, conta que não só ela, mas diversos moradores, inclusive, mães de crianças autistas precisaram se mudar por conta do barulho e transtornos no trânsito causados pelo acampamento. 

“Em outubro, quando Lula foi eleito, eles chegaram lá com carros de som. O tom no começo era outro, eram várias pessoas que não aceitavam o resultado da eleição. Gritavam, tinha muita vuvuzela, hino tocando muito alto. No quarto das minhas filhas 23h e o som altíssimo”, relatou a moradora, ao destacar que chegava a ouvir o hino nacional mais de 50 vezes por dia. 

Segundo Lívia, tudo piorava no final de semana e após o horário comercial, quando mais pessoas se concentravam no local.”Não podíamos sair de casa porque o trânsito não nos permitia voltar. Ligamos várias vezes pra diversos órgãos. Mas os policiais estavam lá desde o começo. No princípio comiam com os “manifestantes”. Era uma escolta armada”, relatou. 

Ela disse que o barulho era tão insuportável, no início, que no terceiro final de semana de acampamento dos bolsonaristas, ela e a família resolveram dormir em um Airbnb. 

“Quando começaram as denúncias nacionais que era um movimento antidemocrático. Então eles mudaram o tom. Não falavam o nome do presidente eleito e nem do presidente que perdeu. Ficavam inflamando todos os dias como eles eram heróis da pátria e precisavam de intervenção militar”, disse. 

Ela relata que, no segundo mês, após uma decisão da juíza federal Jaiza Fraxe para que o Governo Federal, o Governo do Estado e a Prefeitura de Manaus tomassem providências para a cessar ilegalidades na ocupação, ela achava “que o pesadelo tinha acabado”. Mas, não. 

“Se tornou organizado. O barulho diminuiu. Não tinha mais vuvuzelas e eles respeitavam o horário de 22h abaixando o hino. Todos os dias um pastor chegava por volta de 19h. Ele falava muito, tinham hinos… Conheço pessoas que se mudaram, entregaram o apartamento para os locatários e até venderam”, disse.  

Ela disse que chegou a ligar para o 190 e denunciar os barulhos após as 23 horas, mas não obteve um retorno positivo. “Eram 23h e o barulho era ensurdecedor, ninguém conseguia dormir, liguei para o 190 e disseram que não podiam fazer nada, pois estavam no direito deles de se manifestar”, lembra. 

Hoje, com o desmonte do acampamento bolsonarista determinado pela Justiça, Lívia resolveu voltar ao local para acompanhar a decisão. “Sofri pra caramba. Merecia ver o final”, finalizou a moradora, ao destacar que o trânsito, no local, ficou totalmente bloqueado por várias horas.

 

A empresária Karla Costa, de 41 anos, também destacou que o acampamento de bolsonarista em frente ao quartel afetou a todos os moradores do entorno do CMA. Por conta dos transtornos, ela e mais 100 moradores deram entrada com uma ação coletiva junto ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), ainda em novembro. Ela relata que foram meses de muitos transtornos. 

“Falta de respeito à lei do silêncio foi uma das que mais afetou, pois desde o final do primeiro turno, os bolsonaristas começaram a armar as barracas, a colocarem som muito alto com vários tipos de hinos militares, isso a qualquer hora do dia ou da noite!”, relatou a moradora. 

Ela conta que chegou a ligar várias vezes para a polícia para reclamar e a resposta era sempre a mesma: “não podemos fazer nada, eles têm o direito de se manifestar”. “E eu perguntava onde ficava o meu direito que era assegurado pela Lei do Silêncio, que proíbe barulhos após as 10 horas da noite, em áreas residenciais?”, lembra a moradora. 

Segundo Karla, outro transtorno enorme para os moradores foi no trânsito. “Logo no início, eles praticamente tinham fechado a rua que fica em frente ao CMA, tornando o trânsito lento e perigoso. Nessa ação coletiva, relatamos todos esses e outros transtornos”, destacou. 

Após o desmonte do acampamento em frente ao CMA, ocorrido na manhã desta segunda, Karla acredita que finalmente “a paz reinará novamente” em sua vizinhança.

*A crítica

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