É impossível falar em momentos marcantes da F1 no Brasil sem citar os GPs de 1991, 1993, 2021 ou 2024, com atuações brilhantes de Ayrton Senna, Lewis Hamilton e Max Verstappen. Mas além dos multicampeões, a história do autódromo paulista também é enriquecida por outras conquistas; o ge.globo lista, abaixo, algumas corridas célebres que, claro, só poderiam ter acontecido em São Paulo.
Primeiro vitória do Brasil, em 1973
O vencedor do primeiro GP da F1 no Brasil foi justamente um brasileiro: Emerson Fittipaldi. Cerca de 150 mil espectadores acompanharam a prova sob o forte sol do verão paulista – que provocou desidratação, insolação, e culminou com uma mulher dando à luz em plena arquibancada.
Caos à parte, Fittipaldi vinha de seu primeiro título em 1972; na segunda corrida da temporada, o piloto da Lotus classificou-se atrás do colega Ronnie Peterson. Porém, o brasileiro tomou a liderança na largada e segurou, nas voltas seguintes, o então bicampeão Jackie Stewart – que herdara a vice-liderança após uma falha mecânica de Peterson na prova.
Primeira dobradinha do Brasil em Interlagos, em 1975
Em um ensolarado 26 de janeiro, José Carlos Pace conquistou sua única vitória na F1 e a primeira dobradinha brasileira em casa com o segundo lugar de Emerson Fittipaldi. Largando em sexto, “Moco” escalou o pelotão; apareceu em segundo após superar o argentino Carlos Reutemann na volta 14, e assumiu a liderança na 33ª volta, graças à quebra da Shadow do pole position Jean-Pierre Jarier.
A evolução de Pace sucedeu a recuperação de Fittipaldi: ele chegou a cair para sétimo na largada mas reagiu, surgindo em quinto lugar graças ao abandono de Jody Schekter e ultrapassando nomes como Niki Lauda, Carlos Reutemann e Clay Regazzoni. Só não deu pra chegar em Pace, 5s à frente. Mas, os dois compatriotas foram carregados ao pódio sob aplausos da torcida em Interlagos.
Senna vence apenas com sexta marcha em 1991
Para vencer pela primeira vez em casa, Senna teve que superar a falha quase total das marchas de sua McLaren e um motor que cedeu de vez após a bandeirada. Pole, ele liderou com folga sobre Riccardo Patrese e, posteriormente, Nigel Mansell – que chegou a aparecer me segundo lugar antes de sair da disputa por um pneu furado e um erro nos boxes.
De repente, Senna perdeu a quarta marcha, a terceira e a quinta, enquanto Patrese voltava com tudo à disputa após Mansell rodar e abandonar. A chuva dificultava o trabalho, mas o piloto da McLaren resistiu nas seis voltas finais guiando com o câmbio travado na sexta marcha. Exausto, Senna precisou de atendimento na pista, porém, foi ovacionado pela torcida brasileira.
Senna baila na chuva e faz história em 1993
A McLaren já não vivia mais seus tempos de glória naquele ano que terminaria com Alain Prost tetracampeão. Mesmo assim, Senna garantiu o terceiro lugar no grid. O brasileiro ainda foi punido, com 10s, por ultrapassar o retardatário Eric Comas sob bandeira amarela. Mas, ele fez valer sua mítica relação com a chuva e conseguiu a virada.
Ayrton contou com uma batida de Prost, ultrapassou Damon Hill rumo à liderança e, no fim, ainda escapou de uma abandono por quebra do motor: a unidade de potência cedeu de vez na volta que sucedeu a bandeirada. Por isso, Senna precisou ser buscado pelo safety car no meio da reta oposta – não antes de ser carregado pelos fãs em êxtase após o triunfo.
Massa conquista primeira em casa, em 2006
Subir no topo do pódio de verde e amarelo foi ideia do próprio Felipe Massa. E o macacão especial do brasileiro brilhou ainda mais em sua primeira vitória em casa: Massa fez uma pole que dividiu os holofotes com os últimos capítulos da disputa entre Michael Schumacher e Fernando Alonso, pelo título. Ele contou, ainda, com problemas no carro do heptacampeão, que se despedia da F1.
Felipe seguiu liderando mesmo após uma batida de Nico Rosberg interromper a corrida; enfrentou não apenas Kimi Raikkonen, mas também Alonso, na segunda colocação. Enquanto isso, Schumacher dizia um “até logo” à F1 com uma recuperação de gala, indo do último lugar a terceiro. Porém, como Alonso terminou em segundo, o espanhol garantiu o bicampeonato.
Massa perde título, mas leva vitória emocionante em 2008
O agridoce triunfo de Felipe Massa em Interlagos não foi só a derradeira conquista do brasileiro, mas serviu como palco do título que ele perderia para Lewis Hamilton. Vencer e contar com o rival abaixo do quinto lugar confirmaria o título de Massa, cenário que parecia encaminhado com a largada ruim do inglês, e Felipe mantendo-se na ponta.
O inglês se recuperou, enquanto Massa administrava a ponta sobre Sebastian Vettel. No entanto, começou a chover o 63º giro. Massa manteve-se em primeiro lugar após os pit stops e, assegurada sua vitória, bastava esperar Hamilton. Mas, mesmo ultrapassado por Vettel, o inglês recuperou o quinto lugar passando Timo Glock na última volta – quando Felipe celebrava – e ficou com a taça.
Vettel escala grid sob a chuva e assegura tri, em 2012
Disputando o tri com Fernando Alonso, Sebastian Vettel precisava terminar entre os quatro primeiros em Interlagos; para o espanhol, a vitória era fundamental. Mas o drama começou ainda no sábado: um deslize na classificação pôs o alemão em quarto lugar. Na largada, ele caiu para sétimo, rodou após toque com Bruno Senna e despencou para o 22º lugar.
Sob forte chuva, Vettel escalou o pelotão e, oito voltas depois, era o sexto colocado. Chegou a cair para oitavo, mas descontou o prejuízo das ultrapassagens e garantiu o título após Alonso, sétimo no grid, ser contido pelo vencedor Jenson Button – em seu último triunfo na Fórmula 1. A etapa também marcou a despedida definitiva de Michael Schumacher, que foi de 13º a sétimo na prova.
Verstappen dá show sob a chuva e é 3º em 2016
Batendo recorde de 3h de duração graças à chuva, a vitória dominante de Lewis Hamilton adiou a decisão do Mundial contra Nico Rosberg para Abu Dhabi, mas dividiu holofotes com o show de Max Verstappen. Com apenas 19 anos, o holandês da RBR caiu de quinto para 14º a 15 voltas do fim por um erro no pit stops. Mas, distribuiu ultrapassagens – até sobre o campeão Rosberg – para ser terceiro.
A emoção foi além: Felipe Massa bateu a 13 giros da bandeirada e veio às lágrimas em uma despedida tocante, com direito a bandeira do Brasil e um abraço da esposa Rafaella e o filho Filipinho. Outro Felipe também saiu de cabeça erguida: Nasr pontuou pela primeira vez no ano, ao ir de 21º ao nono lugar; com os dois pontos no Mundial, assegurou uma premiação que salvou o 2017 da Sauber.
Hamilton conquista coração do Brasil em 2021
Uma das maiores vitórias da carreira do Hamilton veio sob muito suor: depois de ganhar dez posições na corrida sprint em Interlagos, sucedendo uma desclassificação por irregularidade técnica, o inglês assegurou um décimo lugar na prova de domingo. Em 19 voltas, ganhou nove colocações até chegar no rival Verstappen, que havia herdado a liderança do pole Valtteri Bottas.
O holandês protagonizou disputas de prender o fôlego com o heptacampeão da Mercedes, mas não pôde evitar a manobra decisiva na 59ª volta. Primeiro piloto a vencer em Interlagos largando abaixo do oitavo lugar, Hamilton emocionou ao carregar a bandeira do Brasil consigo – e transformando sua relação com o país até tornar-se cidadão honorário.
Verstappen faz melhor corrida da carreira em 2024
Oito anos depois de brilhar em seu primeiro pódio no Brasil, Verstappen voltou a dançar na chuva; mas desta vez, rumo à vitória. Ele havia largado apenas em 17º, após sofrer com uma bandeira vermelha na classificação e ainda ser punido por trocar o motor. Mas, escalou o grid até chegar no líder Esteban Ocon.
Em um fim de semana ainda abrilhantado pela homenagem de Hamilton a Ayrton Senna nos 30 anos da morte do tricampeão, Max ganhou fôlego para cravar seu tetracampeonato na etapa seguinte, em Las Vegas, afastando de vez a concorrência de um combalido Lando Norris.
Fonte: Globo Esporte/Foto: Pascal Rondeau/ALLSPORT
